Mesmo que Aécio e Marina não se entendam sobre o segundo turno, a tentativa terá valido pelo seu nível, muito diferente do fisiologismo praticado nas alianças petistas
A candidata Marina Silva, do PSB, transformou em bandeira de campanha a defesa da “nova política”, em que valem as alianças tecidas em torno de programas e a qualidade ética dos políticos. Governar com os “bons” de cada legenda virou símbolo da da ex-senadora, outrora PT e ministra de Lula.
Independentemente das convicções de Marina Silva, caso ela se elegesse não haveria mesmo alternativa a não ser se sustentar em um arco de partidos, por ela ser candidata de uma legenda peso-médio, o PSB. De mais a mais, é tamanha a fragmentação da estrutura partidária brasileira que, seja quem vença eleição hoje no Brasil, a barganha entre partidos é inevitável na busca pela governabilidade.
Derrotada por Aécio Neves (PSDB) na disputa pela ida ao segundo turno contra a candidata à reeleição Dilma Roussef (PT), Marina pratica o que prega, ao negociar com os tucanos um entendimento programático para aderir à candidatura de Aécio.
Faz muito bem. Não apenas por coerência, mas também porque é necessário enfatizar, e cada vez mais, a melhor forma de se exercitar a negociação político-partidária.
Não é grave alguma demora para o desfecho desta negociação, embora haja limites para a indecisão numa campanha tão curta. Marina tem razão em reivindicar de Aécio Neves que adote pontos do seu programa para que o apoie. Mas necessita de bom senso e sensibilidade para avaliar se, diante do mesmo adversário comum de 2010, o melhor é repetir a abstenção daquele ano, posição que poderá ser entendida hoje como autoritária, de negação do jogo político saudável.
Nenhum dilema, porém, retardou o apoio a Aécio dos ex-candidatos Eduardo Jorge (PV) e Pastor Everaldo (PSC), entre outros. O mapa definitivo das adesões depende de condicionantes regionais que interferem nessa acomodação de terreno político-partidário.
O importante é os principais candidatos de oposição, Aécio e Marina, estabelecerem nítida diferença com o fisiologismo com que o PT negocia suas alianças desde a primeira campanha presidencial vitoriosa de Lula, em 2002. Foi quando houve a reunião a portas fechadas entre José Dirceu e Delúbio Soares, do PT, e Valdemar Costa Neto, então PL, em Brasília. Enquanto Lula e José Alencar, também PL, esperavam na sala, os três acertaram as cifras do dote de Alencar para ele ser o vice de Lula.
Percebeu-se depois que ali já estava presente o embrião do mensalão e do atual escândalo na Petrobras, em que acordos são caucionados em dinheiro de origem obscura, em nome de um projeto de poder.
Tanto tempo depois, Dirceu e Valdemar, mensaleiros condenados, estão presos, e Aécio e Marina podem firmar um acordo de campanha de forma translúcida e em bases éticas. Mesmo que não se entendam, terá valido pelo nível da negociação.
A candidata Marina Silva, do PSB, transformou em bandeira de campanha a defesa da “nova política”, em que valem as alianças tecidas em torno de programas e a qualidade ética dos políticos. Governar com os “bons” de cada legenda virou símbolo da da ex-senadora, outrora PT e ministra de Lula.
Independentemente das convicções de Marina Silva, caso ela se elegesse não haveria mesmo alternativa a não ser se sustentar em um arco de partidos, por ela ser candidata de uma legenda peso-médio, o PSB. De mais a mais, é tamanha a fragmentação da estrutura partidária brasileira que, seja quem vença eleição hoje no Brasil, a barganha entre partidos é inevitável na busca pela governabilidade.
Derrotada por Aécio Neves (PSDB) na disputa pela ida ao segundo turno contra a candidata à reeleição Dilma Roussef (PT), Marina pratica o que prega, ao negociar com os tucanos um entendimento programático para aderir à candidatura de Aécio.
Faz muito bem. Não apenas por coerência, mas também porque é necessário enfatizar, e cada vez mais, a melhor forma de se exercitar a negociação político-partidária.
Não é grave alguma demora para o desfecho desta negociação, embora haja limites para a indecisão numa campanha tão curta. Marina tem razão em reivindicar de Aécio Neves que adote pontos do seu programa para que o apoie. Mas necessita de bom senso e sensibilidade para avaliar se, diante do mesmo adversário comum de 2010, o melhor é repetir a abstenção daquele ano, posição que poderá ser entendida hoje como autoritária, de negação do jogo político saudável.
Nenhum dilema, porém, retardou o apoio a Aécio dos ex-candidatos Eduardo Jorge (PV) e Pastor Everaldo (PSC), entre outros. O mapa definitivo das adesões depende de condicionantes regionais que interferem nessa acomodação de terreno político-partidário.
O importante é os principais candidatos de oposição, Aécio e Marina, estabelecerem nítida diferença com o fisiologismo com que o PT negocia suas alianças desde a primeira campanha presidencial vitoriosa de Lula, em 2002. Foi quando houve a reunião a portas fechadas entre José Dirceu e Delúbio Soares, do PT, e Valdemar Costa Neto, então PL, em Brasília. Enquanto Lula e José Alencar, também PL, esperavam na sala, os três acertaram as cifras do dote de Alencar para ele ser o vice de Lula.
Percebeu-se depois que ali já estava presente o embrião do mensalão e do atual escândalo na Petrobras, em que acordos são caucionados em dinheiro de origem obscura, em nome de um projeto de poder.
Tanto tempo depois, Dirceu e Valdemar, mensaleiros condenados, estão presos, e Aécio e Marina podem firmar um acordo de campanha de forma translúcida e em bases éticas. Mesmo que não se entendam, terá valido pelo nível da negociação.
11 de outubro de 2014
Editorial O Globo
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