Começou com a Venezuela. Pobre país! O tenente coronel Hugo Chavez, quando tudo indicava que pudesse surgir como um novo Peron, talvez um Vargas, preferiu trafegar na linha vermelha do bizarro socialismo bolivariano, como ele o batizou. Comprou briga com os norte-americanos, a quem chamou de carrascos imperialistas (ainda que não o incomodasse os carrascos continuarem comprando o seu petróleo) y otras cositas más.
Completou essa magistral idiotice com outras cartadas de igual insanidade, como a submissão aos inadimplentes Fidel e seu irmão, inclusive com o aporte de farta mesada, o apoio às Farc, incluindo o governo da Colômbia no rol de seus inimigos, além da farta distribuição de petrodólares a Cuba, à Bolívia e a outros menos votados.
Tudo por se achar obcecado pela implantação, inicialmente na área andina, da falácia comunista disfarçada sob o poncho de Simon Bolivar, a quem foi perturbar na tranquilidade de sua tumba. Não poderia ter sido outro o resultado: quebrou, literalmente, a pátria de El Libertador.
Sua morte, fecho tragicômico da opereta caribenha de que foi protagonista, chorada por uns e aplaudida pelos demais, foi um grande serviço prestado ao povo de seu país... Alguém acredita que esse governo vagabundo do Maduro vai se sustentar em uma nação falida, em todos os sentidos? Sem dispor do pão e sem levar o mínimo jeito para o circo, no que o seu padrinho – agora virado em diáfano pajarito – era rematado mestre?
Por outro lado, quem pode garantir que a queda de Maduro – ao que tudo indica, inevitável – trará de volta à Venezuela a democracia e a paz? Qual será a posição das Forças Armadas? Até que ponto estarão elas contaminadas com o vírus que, com certeza, lhes foi inoculado? Serão os baluartes da reconstrução democrática, ou produzirão algum clone de tiranete para substituir o anterior? Terá Capriles ou outro líder antichavista condições de se eleger e de exercer o mandato? Que fazer com os cento e tantos milhares de cubanos aboletados em diversas áreas sensíveis da vida da nação?
Certamente, os coleguinhas de Chaves, e agora de Maduro, aí incluído o infeliz governo brasileiro do PT, acudirão com pretextos e pressões de toda ordem no âmbito da famigerada Unasul, o serpentário onde chocaram com tanto carinho seus fatídicos ovos.
Deslocando a pontaria mais para o Sul, encontramos o oportunista Correa e o cocaleiro Evo, que pegaram carona no bonde do Chavez. O Maduro não tem cacife para mantê-los no colo, ainda mais agora, no cai-não-cai em que se encontra. E os dois, pelas próprias pernas, não irão muito longe caso insistam na enrascada bolivariana em que se meteram. Os primeiros sintomas começam a se fazer sentir, na medida em que suas economias fenecem enquanto as dos vizinhos não bolivarianos florescem. Pode até acontecer que seus países venham também a desistir do tal bolivarianismo e retomem o juízo perdido.
Se o Equador voltar ao seio da comunidade andina, ao lado de Chile, Peru e Colômbia, a Bolívia não terá como não seguir no mesmo rumo. Quanto ao valente Paraguai, nosso parceiro de Itaipu teve a sorte de ser expulso do malsinado Mercosul. Em razão do atrevimento de seus congressistas em recusar a admissão da Venezuela de Chavez, e não, como se difundiu, por terem apeado – aliás, dentro da lei – seu lascivo presidente. Volta suas vistas para a Alca e projeta acordos bilaterais com os EUA e com a comunidade andina. Que los cumpla feliz!
Os Kirschner, por sua vez, depois de arrematarem a obra de seus antecessores peronistas, deixando em cacos o fantástico país de seus avós, também vão morrer, com toda a certeza. Biologicamente, gentileza que El Penguino já fez aos nossos queridos hermanos, ou, então, politicamente, como a viúva dele... en la playa. A Argentina, assim como seu vizinho Brasil, tem tudo para bombar no cenário continental desde que não a atrapalhem governos ineptos e mal intencionados como os últimos que teve. Se o culto povo argentino, já em grande parte, como se sabe, impaciente com as artimanhas e arbitrariedades de seus atuais governantes, exercitar o bom senso e a razão, saberá escolher, na próxima rodada, quem seja capaz de, pelo menos, não atrapalhar com tanta intensidade... Ou não saberá... No dizer abalizado de Jorge Luís Borges, o argentino é um indivíduo; não um cidadão.
Já o pequeno Uruguai, este tem o único presidente melancia que não enganou ninguém. Declaradamente socialista – não daqueles de 12 anos, como alguém escarneceu há pouco tempo –, o folclórico tupamaro don José (Pepe) Mujica, que anda de fusca e calça alpargatas, conheceu bem o resultado desastroso do assistencialismo exagerado que levou seu país, a saudosa Suíça sul-americana do início do século passado, à bancarrota quase que total. Sabe também o quanto custou à sua nação recuperar-se e sair do vermelho. Por mais extremada que seja a sua ideologia, nada indica que pretenda se valer desse ou de outro expediente demagógico para se perpetuar no poder. O Uruguai parece ainda possuir uma estrutura partidária e uma tradição consolidada capazes de promover o jogo político e a alternância de seus governantes.
É este um cenário irreal? Fruto do otimismo exagerado, até da alienação ou da ingenuidade de um daqueles inocentes úteis, assim qualificados em nossos manuais de defesa interna? Será pura utopia, “sonho de uma noite de verão”, ou terá esse cenário, pelo menos, alguma chance de se concretizar?
Até teria, não fosse a situação do Brasil, a nação sul-americana dentre as que obedecem à orientação gramscista do abominável Foro de São Paulo que se encontra em fase mais avançada de – sejamos claros – comunização. Mais avançada até que a Venezuela, onde a metade de seu povo hoje protesta e resiste bravamente. Metade que, salvo inconcebíveis genocídio ou extermínio, tende a se tornar maioria, porque dispõe de liderança, porque sua causa é nobre e porque combate o bom combate.
Nenhum outro desses países na fila da cubanização sofre tão expressivo e generalizado aparelhamento do estado como o nosso. Agentes e cúmplices do processo, aos magotes, acomodam-se em posições de mando e em cargos públicos para os quais são em geral despreparados e incompetentes, mas onde se ajustam à perfeição aos objetivos reais da duma: o popular “tá tudo dominado”. O último passo, imoral mas decisivo, se deu com a recente capitulação da corte suprema, onde a cor política ou ideológica logrou substituir, despudoradamente, o “renomado saber jurídico”.
Em tempos pregressos o secretário de estado norte-americano Henry Kissinger afirmou que para onde o Brasil se inclinasse toda a América Latina se inclinaria. É triste a constatação de que hoje se inverte o sentido daquele prognóstico: é o Brasil que vai a reboque, subserviente à ideologia e aos mandos e desmandos de agentes de outras plagas, que têm tradições, princípios e costumes completamente diferentes dos nossos.
Muito piores, entretanto, são nossos próprios agentes internos, mais preocupados consigo mesmos e com seu sonho cafajeste e megalômano de poder do que com o país que dilapidam e com o povo que fingem proteger. Travestidos de brasileiros, o que não são, porque este gentílico não se aplica aos que roubam sem qualquer cerimônia o patrimônio financeiro da nação e o pulverizam em obras caríssimas em Cuba ou em suspeitos perdões de dívidas a insuspeitos ditadores africanos e a contumazes caloteiros sul-americanos como Venezuela, Bolívia e Paraguai, enquanto condenam o país à estagnação e o povo brasileiro à ignorância, à insegurança e à insalubridade. Sem falar na miséria disfarçada pela esmola que o conduz à inércia, condição essencial para a garantia dos votos que os conservarão, sabe Deus até quando, no domínio do terreiro que com tanto capricho prepararam.
De onde viemos? Para onde vamos?
Sabemos todos de onde viemos. Independente de convicção política ou ideológica, todos o sabemos. Viemos de um país que, bem ou mal, com maior ou menor intensidade, vinha cumprindo as etapas de seu desenvolvimento social e econômico. De um país sem tantos patrulhamentos e preconceitos, livres que éramos da tirania do insuportável “politicamente correto”.
Se tínhamos racismo, homofobia e outros “ismos” e “ias”, eram todos muito menores e menos incômodos do que os que hoje nos são impostos. Éramos tão diferentes como o somos agora, mas isso não nos incomodava tanto. Era penoso ser pobre, ou pertencer a uma das hoje consagradas “minorias”, mas não era pecado não ser ou não pertencer. Viemos de um país em que não se roubava tanto e tão descaradamente, e não se gastava mais em propaganda do que em educação.
Em que não se trocavam leitos em hospitais sucateados por estádios de altíssimo padrão. Enfim, viemos de um país que, “sem chegar a ser uma brastemp”, também não oferecia ao mundo a imagem que hoje escancara de desordem governamental, de falta de seriedade, de desonestidade institucionalizada e de tolerância com a violência, com o crime, com as drogas e com a péssima qualidade dos serviços prestados à população, que por eles, regiamente, paga.
Por fim, viemos de um país que, historicamente, foi capaz de vencer os desafios à sua, ainda que frágil, democracia, e de desbaratar as diversas tentativas de instauração da detestável “ditadura do proletariado” (proletariado, aliás, que nunca obteve mais do que as migalhas do banquete).
Para onde vamos?
Sim, para onde? Quem souber, por favor, me comunique.
Flavio Acauan Souto é Coronel de Cavalaria na reserva.
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