"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

BISPO DE JALES TEME FUNDAMENTALISMO DE MARINA


 
No último sábado, Dilma Rousseff foi recebida pelo Bispo de Jales, Dom Demétrio Valentini. Ontem o bispo pagou a visita, em entrevista para o jornal Valor Econômico, atacando Marina Silva. O Brasil vivendo uma guerra religiosa. Pobre país!
 
A possível vitória na eleição presidencial da ex-ministra Marina Silva (PSB), uma evangélica da Assembleia de Deus, já reaproximou a presidente Dilma Rousseff (PT) da ala progressista da Igreja Católica. O clima, entretanto, é de pessimismo e a relação com a petista ainda é fria, como demonstra em entrevista ao Valor Pro o bispo de Jales (SP), dom Demétrio Valentini.
 
O prelado recebeu Dilma em sua diocese no último sábado, quando a presidente foi ao interior paulista para um encontro com o PMDB. Dom Demétrio é integrante do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), instituído pela Presidência da República e que poucas vezes se reuniu no governo Dilma. O bispo se manifestou no mesmo dia em que outro expoente do pensamento progressista católico, o ex-frei Leonardo Boff, chamou Marina de "Jânio de saias", em entrevista ao portal Brasil 247. A seguir, a entrevista concedida por dom Demétrio, por telefone, ao Valor:
 
Valor: Marina Silva é a primeira política pertencente a outra religião com chances concretas de se eleger presidente da República. Que tipo de efeito essa circunstância pode gerar para a Igreja Católica e para a sociedade brasileira?
Dom Demétrio Valentini: Caso ela seja eleita, a Marina também será a primeira governante egressa das antigas Comunidades Eclesiais de Base. Ela tem origem católica, ingressou na vida social pela sua origem católica. Agora, a gente tem medo do fundamentalismo que ela pode proporcionar. Existe na Marina uma tendência ao radicalismo, pela convicção exagerada ao defender seus valores e suas motivações, que pode derivar para o fundamentalismo.
 
Valor: O que seria este fundamentalismo?
Valentini: É o risco de fazer da religiosidade um instrumento de ação política. No Brasil, cada igreja evangélica tem seu candidato. No caso da Igreja Católica, isto é de um tempo anterior ao Concílio, isto acabou.
 
Valor: O que o senhor sente entre os fiéis da comunidade católica de Jales?
Valentini: Sinto um somatório de fatores favoráveis a Marina. A comoção pelo desastre que vitimou Eduardo Campos, a vontade de se ter algo diferente, o desejo de mudança. Estou intuindo que a situação é irreversível. A não ser que haja uma reviravolta em que comecem a pesar as fragilidades de Marina, que não estão no fato de ela não ser católica. Estão em ela ter pouca articulação política e portanto existirem dúvidas sobre como ela vai governar.
 
Valor: Surpreendeu ao senhor o fato da presidente Dilma o ter procurado?
Valentini: A você surpreendeu? Dilma foi bastante reticente com as instituições que fazem a intermediação política da sociedade. Ela não estabeleceu muitas pontes, mas comigo se sentiu acolhida, as portas para ela ficaram abertas. Em 2010 eu escrevi um artigo rebatendo posições dentro da Igreja contrárias à sua eleição. Aquilo foi importante, porque havia manifestações na hierarquia católica contra o voto em Dilma. Restaurou-se um ambiente de confiança no equilíbrio político da CNBB. Foi há quase quatro anos. Ela sabia que estava me devendo um gesto e lembrou aqui deste episódio. Para mim, todos os candidatos merecem apoio. Um candidato está sujeito a muitas ciladas, é uma posição extremamente difícil.
 
Valor: Por que o senhor diz que ela não estabeleceu pontes?
Valentini: A Dilma tem um estilo mais autoritário, ela pouco nos convocou. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva o fazia com muita frequência. Em 2005, quando estourou a crise do mensalão, ele convocou uma reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o 'Conselhão'. Era um momento em que a possibilidade de 'impeachment' era muito palpável. Pediram que eu abrisse a reunião, que fosse um dos três conselheiros a falar antes do presidente e eu fiz uma manifestação a favor da continuidade do governo. Dilma delegou a terceiros certas formalidades. Ela se sente muito segura em suas posições e acha que pode prescindir de certos contatos, tem um temperamento fechado. Quem se manteve firme no diálogo foi o ministro Gilberto Carvalho (da Secretaria Geral da Presidência).
 
Valor: A eleição de um novo papa no ano passado facilitou o diálogo do governo com a Igreja?
Valentini: Dilma ao chegar aqui viu o retrato do papa Francisco e falou: 'Agora temos um papa que nos apoia". Ela também viu o retrato do papa emérito Bento XVI. Nós tivemos no Brasil aquela circunstância dos protestos populares de junho e para Francisco foi um desafio vir ao Brasil logo depois. Ele esconjurou o temor de que iríamos para o caos e mostrou que existe uma juventude que está disposta a colaborar, a construir algo. Construiu-se um ambiente de respeito ao papa que vai muito além das fronteiras da Igreja.
 
Valor: Mas Dilma está certa em achar que Francisco a apoia e Bento XVI não o fazia?
Valentini: Não há porque fazer esta comparação e Dilma não a fez. Mas Francisco motivou a Igreja para ser mais aberta, a dialogar com setores que estão fora.

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