"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

ANTESSALA DO DESEMPREGO


A verdade dos fatos volta a avisar que a economia brasileira vai muito mal. O Produto Interno Bruto (PIB) recuou 0,6% no segundo trimestre, derrubando previsões cor-de-rosa que o governo insistia em fazer ante o mau resultado (crescimento de 0,2%) dos três primeiros meses. Até então, o país estaria em trajetória de crescimento, ainda que lento. Era esse o discurso, mas nem isso se sustentou: o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pelo cálculo, revisou para -0,2% a taxa.
Essa revisão é normal e tecnicamente recomendável. Dela resultou que a economia brasileira, que nos últimos três anos vinha desacelerando, está há seis meses andando para trás. A esta altura, é ocioso discutir se estamos ou não em recessão técnica (quando a taxa de crescimento é negativa por dois trimestres seguidos). O que importa é que, mesmo que haja algum refresco no terceiro e no quarto trimestres, 2014 está fadado a fechar um ciclo de quatro anos de baixo desempenho econômico.

No trimestre encerrado em junho, os feriados da Copa do Mundo e supostos respingos da crise mundial estão sendo culpados pelo desastre. É certamente um exagero de quem não pretende, por motivos de calendário eleitoral, reconhecer erros de condução da política econômica, que se acumularam nos últimos anos. Mais sensato e mais construtivo será encarar o problema e buscar coesão para corrigir o rumo e inverter a escalada que põe em risco os empregos e a renda, conquistas que precisam ser mantidas.

Olhar mais crítico sobre os números do trimestre constata mais uma queda na atividade da indústria, que recuou 1,5%, ampliando o já longo ciclo de perdas de competitividade do setor. Além de grande geradora de empregos formais, a indústria é tradicional investidora em expansão e em modernização de equipamentos.

Mas não é isso o que vem ocorrendo: os investimentos, que deveriam ser um dos motores do crescimento do PIB, recuaram 5,3% no trimestre, na comparação com o trimestre anterior. Pior: na comparação com igual período de 2013, a queda foi 11,3%. Isso revela o nível da desconfiança da indústria numa reação da economia brasileira e na capacidade do governo de criar as condições para a retomada do crescimento em prazo razoável.

Outro dado preocupante que merece reflexão foi o desempenho dos serviços. Como ocorre com a maioria das economias de nações mais urbanizadas, esse é o setor que cresce mais rápido e mais aumenta a participação relativa no PIB. No Brasil, enquanto a indústria vem perdendo espaço (responde hoje por pouco mais de 16% da economia), a expansão dos serviços garantiu participação próxima de 70%. No segundo trimestre, o despenho dos serviços foi negativo em 0,5%, o pior desempenho desde o auge da crise mundial de 2008 (-2,8%).

Parte do recuo pode ter sido um dos efeitos perversos da Copa. Só parte. É relevante lembrar que se trata de atividade diretamente ligada ao aumento da renda da população. Nele estão as faculdades e colégios particulares, os restaurantes, o entretenimento, os cuidados com a saúde e com a beleza, para citar algumas demandas, que, não faz muito tempo, passaram a fazer parte da vida de milhões de consumidores. Será imperdoável perder tudo isso por omissão ou incapacidade de conduzir política econômica que favoreça o crescimento.

02 de setembro de 2014
Editorial Correio Braziliense
 

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