"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

SOCIALISMO CONSPIRATÓRIO

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Um elemento particularmente infeliz nas margens do movimento em defesa da liberdade é a crença em várias teorias conspiratórias sobre o governo e a economia. Algumas teorias são menos danosas do que outras, mas algumas são bastante sórdidas, sugerindo, por exemplo, que banqueiros judeus internacionais criaram e sustentam as tentativas do Federal Reserve, nos Estados Unidos, de manipular o sistema de moeda e crédito para seu próprio enriquecimento.

Teorias conspiratórias são tão antigas quanto o pensamento humano; elas satisfazem um profundo desejo de que alguém ou algum grupo de tudo e que o modo aparentemente caótico como evolui a vida social tem na verdade uma coerência subjacente. Dessa forma, já se observou, as teorias conspiratórias substituem a religião, oferecendo significado ao que de outro modo seria um mundo social sem sentido.

E, assim como a religião, as teorias conspiratórias repousam em última instância sobre a fé. As "melhores" teorias são aquelas que se mostram impenetráveis por evidências contraditórias. São, na linguagem da filosofia, "não falseáveis". Os defensores de tais teorias recorrem ao argumento de que qualquer contraprova na verdade reforça a teoria, pois mostra quão hábeis são os conspiradores em distrair nossa atenção de seu real poder.

Não é nisso que os liberais clássicos devem se envolver. Nossa defesa da liberdade precisa jazer, em última análise, sobre a razão e a lógica, e devemos estar abertos a evidências que genuinamente contradizem nosso entendimento do mundo. Teorias conspiratórias são sistemas fechados de pensamento que são o exato oposto da visão de mundo dinâmica, mutável e aberta que informa o liberalismo clássico.

Mas há um problema mais fundamental quando um liberal clássico adota a maioria das teorias conspiratórias. No fim das contas, acreditar que um pequeno grupo está manipulando processos econômicos e sociais para seus próprios objetivos concede aos defensores do planejamento econômico que controlar e manipular a economia é de fato possível! Em outras palavras, teorias conspiratórias são uma forma de socialismo. Se banqueiros internacionais realmente estão usando o Fed para manipular a economia e enriquecer, ou se políticos e burocratas estão usando o sistema de assistência social para enfraquecer a família ou empobrecer os negros, então usar o governo para atingir meios razoavelmente específicos parece ser possível.

Note que não estou negando que o governo pode causar todo tipo de problema, ou que instituições como o Fed estão de fato diminuindo o bem-estar econômico. (Eu fui um crítico do Fed em toda a minha carreira, especialmente quanto seu papel nas causas da atual recessão.)
O que estou defendendo é que a fonte dos problemas causados não está nas intenções malévolas daqueles que ocupas as cadeiras do poder, mas nos problemas estruturais que todos os governos encaram quando tentam cumprir as tarefas a eles atribuídas. Não é a maldade ou a incompetência do Fed que leva a problemas, mas a sua ignorância.

Por que não conspirações nobres?

Se recorrermos a teorias conspiratórias, também nos abrimos a uma reação óbvia de nossos críticos: se um pequeno grupo pode manipular a economia para fins perversos, por que não poderia um pequeno, ou até mesmo grande, grupo manipular a economia para objetivos mais nobres, como, por exemplo, alguma forma de justiça social? Quando caímos no pensamento conspiratório, estamos na verdade aceitando a premissa fundamental que está no coração de toda forma de socialismo: que é possível para os seres humanos controlar conscientemente a economia ou a sociedade de maneira mais geral. Ao fazê-lo, deixamos, como argumentei na semana passada, de usar a melhor defesa contra aqueles que acham que o governo pode fazer melhor que o mercado.

No nível mais basal, teorias conspiratórias vão contra o conceito de ordem espontânea, que desde a segunda metade do século XVIII, senão antes, está no centro no pensamento liberal clássico. De Smith a Menger e Hayek, o mercado, e a evolução social como um todo, são entendidos como um processo de descoberta que ninguém planejou, e ninguém controla. O próprio milagre do mercado, que a todo momento celebramos, demonstra que a ação humana sob as instituições certas produz coordenação, cooperação, prosperidade e paz sem necessidade de direção consciente.

Essa perspectiva ilustra como é complexo o mundo social. Uma implicação é que quase todas as escolhas que as pessoas fazem, sejam agentes do mercado ou atores políticos, provavelmente terá consequências acidentais à medida que interage com as instituições e as escolhas dos outros. Teorias conspiratórias sugerem que os conspiradores conseguem de alguma forma evitar consequências acidentais. Eles seriam estranhamente capazes de modelar o mundo de acordo com sua própria imagem, navegando sem esforço os complexos padrões da sociedade.

A capacidade de construir o mundo da forma como queremos — sem consequências indesejadas — estava no centro do futuro socialista idealizado de Marx e Engels. Quando liberais clássicos recorrem a teorias conspiratórias, admitem a possibilidade de tal controle e tornam fácil demais para seus críticos perguntar por que pessoas melhores não poderiam fazer a coisa certa. Teorias conspiratórias estão entre os modos mais fracos de defender a liberdade. Os defensores da liberdade devem se afastar de tais crenças e reafirmar o nosso compromisso com a razão, a lógica, e o poder das explicações baseadas em ordens espontâneas.

05 de agosto de 2014
Steven Horwitz
Publicado originalmente em TheFreeman.org.

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