Algumas pessoas realmente não compreendem por que liberais não gostam do governo e, portanto, querem que ele faça pouco ou nada. Incapazes de encontrar o motivo, elas atribuem maus motivos àqueles que denigrem o governo: eles não gostam dos pobres, dos trabalhadores, dos doentes e da educação.
Mas o que é tão difícil de entender? O governo é significativamente diferente de qualquer outra coisa na sociedade. É a única instituição que pode legalmente ameaçar e iniciar violência; ou seja, sob a lei, os seus servidores podem usar força física, até o ponto e incluindo força letal — não em defesa de vidas inocentes, mas contra indivíduos que não ameaçaram nem agrediram qualquer pessoa.
“O governo não é razão. Não é eloquência”, disse George Washington. “O governo é força; como o fogo ele é um servo perigoso — e um mestre temível”.
Essa não é uma descrição controversa do estado. Mesmo pessoas entusiásticas a respeito do governo concordariam.
Dada essa característica singular, por que ninguém está cansado do estado? Quer pensem que ele é necessário ou não, ele é pergoso pela sua própria natureza, e devemos assumir que assim continuará, não importa qual seja a sua estrutura.
Mesmo assim, se você falar do governo dessa maneira, você será visto com desconfiança e poderá até mesmo ser marginalizado. Isso não está confinado em apenas um lado do espectro política. Esquerda e direita têm as suas áreas preferidas onde eles gostariam de ver a força do governo agindo. Cada um dos lados considera a cautela alheia um defeito. Então a esquerda, que se preocupa com a privacidade, não encontra problemas, por exemplo, na intrusão nos assuntos mais pessoais: cuidado médico. Aqui eles confiam no poder e descartam temores racionais de controle burocrático arbitrário sobre a saúde e sobre a vida. Por outro lado, a direita, que prega a liberdade e a livre iniciativa, confiam no poder quando o objetivo é policiar o mundo, caçando imigrantes não autorizados e preseguindo fabricantes, comerciantes e consumidores de substâncias não aprovadas.
Nós todos crescemos acreditando que o uso da força (exceto como defesa pessoal) é errado. Nós somos ensinados a não agredir outras pessoas e a não tomar nada delas. Isso se aplica às nossas associações também. No entanto, quando crescemos, querem que acreditemos que uma instituição – o governo – pode operar segundo regras diferentes. Ninguém explica por que.
Consentimento tácito
É claro que se você pressionar o suficiente, você ouvirá pseudoexplicações. Alguém inevitavelmente invocará o consentimento tácito. Você sabe: você escolhe viver aqui e essas são as regras – se não gosta, vá embora. Mas a afirmação de que, de alguma maneira, nós todos concordamos em ser coagidos é ridícula, e Charles Johnsonquestiona se consentimento é possível quando a retenção do consentimento é considerada impossível.
Além do mais, esse argumento implica que o governo é o dono do país, incluindo a sua propriedade, o que levanta uma grande questão.
Pressione mais um pouco, e alguém invocará a democracia, mas mais uma vez isso não nos leva a lugar algum. No meu tempo de vida, as únicas eleições foram para resolver quem tomaria conta do governo, não qual deveria ser, se qualquer um, o seu poder. (Sim, candidatos algumas vezes prometem reduzir o poder do governo, mas como um governante não pode não pode manter essa promessa, ela não significa muito). A ficção da representação democrática serve mais para conter divergência do que para descrever a realidade.
A maioria das pessoas concordaria que um sinal da maturidade e da racionalidade de um indivíduo, para não mencionar as suas habilidades sociais, é a sua compreensão de que a cooperação dos outros deve ser obtida exclusivamente através da persuasão. Se você deseja algo de outra pessoa, você faz uma oferta ou apresenta um argumento. Você não exige, ameaça ou aterroriza. Mesmo assim, nos toleramos uma instituição que exige, ameaça e aterroriza frequentemente em um grande e crescente variedade de assuntos. Ele não exige apenas que nós não causemos dano ou tomemos os seus pertences. Ele nos faz entregar nosso dinheiro para todo o tipo de propósitos. Ele exige que cumpramos as regras (em constante mudança) a respeito do que consumidos, de como administramos o nosso cuidado médico e de que maneira comercializamos com outras pessoas — e quem essas pessoas devem ser. E ele constantemente nos aterroriza na sua cruzada brutal contra a automedicação
Routineiramente enganados
Importa para o meu propósito neste artigo se os servidores do governo pensam que estão cuidando do nosso bem-estar, alimentando o seu gosto pelo poder ou satisfazendo os interesses dos endinheirados e com boas coneções. O resultado é o mesmo: somos rotineiramente atrapalhados pelo governo nos nossos esforços de viver, cooperar e de nos beneficiarmos mutuamente uns aos outros. Nós somos a economia que eles presumem administrar.
Defensores do poder alegarão que sem um governo expansivo, os fracos se tornarão vulneráveis aos fortes, as massas aos ricos. Mas esse apelo é destruído quando revisamos a história do governo e percebemos que, deixadas as aparências de lado, no final das contas, o poder se alinha aos fortes e aos ricos contra todo o resto. É verdade, poder – o que bastiat chamou de “pilhagem legal” e abrigo contra a competição – é a fonte da sua força e de uma boa parte da riqueza.
A teoria econômica e social fornecem amplo motivo para cautela a respeito do estado. Mas ão devemos deixar a teoria moral para trás. O governo, mesmo quando parece ser bom, diminui a nossa liberdade e humanidade. Quão revoltantemente irônico é que pessoas que alegam defender a benevolência e a cooperação usem a violência como um meio legítimo para os seus fins.
05 de agosto de 2014
Sheldon Richman
Publicado originalmente em The Freeman Online.
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