"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

POR QUE EXPORTAMOS PRODUTOS PRIMÁRIOS?


 
 

Todos, sem exceção, aprendemos na escola: “nós” vendemos matérias-primas e compramos produtos industrializados, “eles” vendem industrializados e compram matérias-primas. A lógica mercantilista, de comprar produtos baratos e vender caro para os países dominados continua. Seguimos meros mercado consumidor dos países já ricos. É quase como no futebol: vendemos um jogador ou dois para a Alemanha; quando vê, ela traz o time inteiro e nos vence no Mineirão. Será que essa história está bem contada?

Não, não está. Igualmente torto, porém, é dizer que “não somos um país industrial por que não queremos.” O Brasil e tantos outros – Argentina, Bolívia, Índia – sofrem de uma doença chamada “protecionismo”. Ah!, pensará alguém, lá vem aquele papo liberal sem fundamento! Ele não sabe que os países ricos são protecionistas! Verdade, mas vamos mais a fundo.

O comércio internacional vai bem além do óbvio; você sabia que o Brasil é um exportador de industrializados? “Mas e a soja, e o ferro, e a carne?” É, estão lá: são 49% da balança comercial. Sabia, também, que somos importadores de matéria-bruta? Carvão, petróleo, minérios; importamos mais produtos primários do que exportamos, diga-se de passagem. Temos a balança comercial correspondente à dos exploradores que aprendemos na escola! Mas calma, não vai dar pra mandar os filhos pra Disney e comprar uma casa em Punta del Este. O que comerciam os países ricos?

Eles exportam industrializados e importam... industrializados! Um exporta aço e importa carros; outro exporta carros e importa aço. E eles importam matérias-primas? Se não houver opção, importam. Imagine o quão mais caro é ter que trazer, digamos, ferro para fazer aço para, só então, fazer os carros! Mas não tem opção, afinal, nossos preços não são competitivos. É o protecionismo deles que acaba com a competitividade? Não, é o nosso!

Voltemos para a soja: por que não a beneficiamos? Você já se perguntou isso? Ah, nós não temos a tecnologia! É, não temos mesmo. Nem temos tecnologia para produzir iPhones, mas produziremos mesmo assim, não é verdade? Afinal de contas, nós importamos as máquinas; o empresário que faz óleo de soja na França não quer que você faça isso, mas o outro empresário, o esquecido que constrói a máquina que faz o óleo de soja, esse cara só quer que você compre a máquina. E não, eles não escondem essa tecnologia: um sexto das exportações americanas são maquinário, e isso é pouco perto das exportações francesas ou alemãs.

Ah, nós não temos mão-de-obra especializada! De novo, não temos mesmo. E nem tinha a China há 15 anos. O que eles fazem? Importam máquinas e trazem técnicos estrangeiros, além de mandarem chineses para o Estados Unidos e para a Europa para aprenderem. Aliás, todos os Tigres Asiáticos fizeram isso – e é o que a Alemanha, a Itália e o Japão fizeram há 140 anos.

Ah, mas não é simples assim! É, leitor, não é mesmo. Protegemos, por exemplo, os poucos fabricantes de máquinas têxteis nacionais das máquinas chinesas e japonesas, “para proteger a indústria nacional”, e ainda protegemos quem usa essas máquinas da competição estrangeira. E o mais protegido é o consumidor. Nos protegem de roupas, calçados e eletrônicos baratos, por exemplo, fazendo com que paguemos um absurdo pelo que, no Exterior, é coisa de gente pobre.

Isso mesmo: você que usa Gap, Nike, Diesel e Reebok se veste tão bem quanto um desempregado de Detroit. Parabéns! E não, não haveria a “falência da indústria nacional”: se você comprar seu Playstation 4 por mil reais, e não três, os outros dois que você deixou de gastar poderiam usados para comprar, por exemplo, CDs de sertanejo universitário. Pensando bem, melhor assim.

13 de agosto de 2014
Guilherme Dalla Costa é Acadêmico de Ciências Econômicas pela UNIFRA e Especialista do Instituto Liberal.

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