"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

O FUTEBOL DO FUTURO?

Didi dizia que quem devia correr não era o jogador, mas a bola. Hoje, o esporte exige que todo mundo defenda e ataque, que o atleta se movimente o tempo todo

Do jogo lento e cadenciado dos anos 60, dos ancestrais ferrolhos suíços e retrancas italianas que não deixavam o adversário jogar, dos craques dispondo de amplos espaços para exibir seu futebol-arte, do carrossel holandês maravilhando o planeta, do tiki-taka espanhol campeão do mundo ao futebol-total da Alemanha em 2014, o futebol mudou muito.

Nos tempos da bola de couro, os jogadores corriam uns três ou quatro quilômetros durante a partida, a preparação física era precária, craques como Gerson e Sócrates fumavam, Didi dizia que quem devia correr não era o jogador, mas a bola. Hoje, o futebol exige que todo mundo defenda e ataque, que o jogador se movimente o tempo todo e corra 12 quilômetros por jogo.

Até 1970, a Fifa não permitia substituições em partidas oficiais, ou o time jogava com dez ou o jogador ficava em campo se arrastando, inválido, como Pelé na Copa de 62. Nem o goleiro podia ser substituído, em caso de contusão grave algum jogador da linha vestia a sua camisa e ia para o gol. Como Pelé fez em jogos do Santos, se saindo bem até como goleiro.

Sob pressão internacional e em benefício do espetáculo, em 1970 a Fifa passou a permitir duas substituições e em 1995, três. Não se sabe por que três, e não quatro ou seis, mas melhorou muito o jogo, permitindo mudanças de tática durante a partida, com a troca de jogadores machucados, exaustos ou num mau dia. Hoje nos times de ponta as substituições são exploradas como recurso técnico e tático, com vários jogadores se revezando nas posições para melhor rendimento da equipe. Para ser campeão, já não basta um grande time, é preciso um elenco.

Com a evolução dos sistemas táticos, no futebol moderno o desgaste é brutal, os jogadores terminam mortos em campo, um esforço sobre-humano é exigido nos momentos finais das partidas e mais ainda nas prorrogações devastadoras. Então por que não podemos ter cinco, seis ou até 11 substituições?

Afinal, o objetivo é melhorar o jogo, tornando-o mais rápido, intenso e bem jogado, ou que os atletas sofram cada vez mais, submetidos a grandes sacrifícios em nome... do quê mesmo?

 
03 de agosto de 2014
Nelson Motta, O Globo

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