Os debates eleitorais mal começaram e já dá para verificar que o governo não quer admitir ter cometido erros graves na condução da política econômica.
Na sabatina realizada em Brasília por iniciativa do jornal Folha de S.Paulo e nos debates realizados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), a presidente Dilma insistiu em que nada há de especialmente errado com a inflação e que o baixo crescimento econômico deve ser debitado à crise global, e não a coisas nossas. Ao contrário do que vem espalhando o cordão de pessimistas, afirma a presidente, as finanças públicas estão sob controle e mais superávit não dá para fazer porque, afinal, outros países também não conseguem.
Alguns observadores vêm advertindo de que, se vencer as eleições, a presidente Dilma insistirá compulsivamente na linha de política econômica do primeiro mandato. Será – dizem estes – mais do mesmo. No entanto, as distorções que pedem correção imediata são tão grandes que parece impossível evitar mudanças mais profundas na política econômica, mesmo com a presidente Dilma sendo reconduzida a um novo mandato.
O Banco Central não poderá, por exemplo, continuar a despejar cerca de US$ 90 bilhões (em sete meses) em swaps no câmbio futuro apenas para evitar novas desvalorizações do real. É um preço alto demais, em desalinhamento dos preços relativos em relação aos internacionais e em perda de competitividade da indústria, apenas para evitar um ou dois pontos a mais de inflação.
Também não dá para manter indefinidamente represados os preços de produtos e serviços públicos, como energia elétrica, combustíveis e transportes urbanos (veja gráfico no Confira).
Ainda que não seja por meio de tarifaços, como garante a presidente Dilma, será preciso corrigi-los e, mais do que isso, será preciso definir critérios claros para correções subsequentes. Até agora, dependeram da vontade da autoridade superior.
Também não é possível manter os juros básicos a 11% ao ano ou até puxar para novas altitudes para tentar conter a inflação, quando o resto do mundo convive hoje com juros rastejantes.
Mesmo que a opção do governo for pelo gradualismo – o que não parece a melhor solução -, essas correções, por sua vez, exigirão mais austeridade na condução das contas públicas, portanto, a obtenção de um superávit primário (sobra de arrecadação) bem maior, destinado a conter o endividamento e a criação excessiva de demanda interna descolada do aumento da produção.
E, por falar em produção, não é possível garantir um avanço sustentável do PIB sem recuperação ampla da confiança, sem forte impulsão dos investimentos e sem incentivos ao aumento da poupança interna, o que aparentemente só será possível com a reforma da Previdência Social.
Tudo isso não poderá se limitar a uma simples troca da hoje desacreditada equipe econômica nem a uma cirurgia plástica apenas para fins estéticos. Exigirá mudanças bem mais radicais. Se vitoriosa nas urnas, ou a presidente Dilma enfrenta essa agenda e, nesse caso, terá boa possibilidade de garantir uma virada na economia ou, então, não a enfrenta e corre grave risco de inviabilizar a administração da política econômica brasileira.
Na sabatina realizada em Brasília por iniciativa do jornal Folha de S.Paulo e nos debates realizados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), a presidente Dilma insistiu em que nada há de especialmente errado com a inflação e que o baixo crescimento econômico deve ser debitado à crise global, e não a coisas nossas. Ao contrário do que vem espalhando o cordão de pessimistas, afirma a presidente, as finanças públicas estão sob controle e mais superávit não dá para fazer porque, afinal, outros países também não conseguem.
Alguns observadores vêm advertindo de que, se vencer as eleições, a presidente Dilma insistirá compulsivamente na linha de política econômica do primeiro mandato. Será – dizem estes – mais do mesmo. No entanto, as distorções que pedem correção imediata são tão grandes que parece impossível evitar mudanças mais profundas na política econômica, mesmo com a presidente Dilma sendo reconduzida a um novo mandato.
O Banco Central não poderá, por exemplo, continuar a despejar cerca de US$ 90 bilhões (em sete meses) em swaps no câmbio futuro apenas para evitar novas desvalorizações do real. É um preço alto demais, em desalinhamento dos preços relativos em relação aos internacionais e em perda de competitividade da indústria, apenas para evitar um ou dois pontos a mais de inflação.
Também não dá para manter indefinidamente represados os preços de produtos e serviços públicos, como energia elétrica, combustíveis e transportes urbanos (veja gráfico no Confira).
Ainda que não seja por meio de tarifaços, como garante a presidente Dilma, será preciso corrigi-los e, mais do que isso, será preciso definir critérios claros para correções subsequentes. Até agora, dependeram da vontade da autoridade superior.
Também não é possível manter os juros básicos a 11% ao ano ou até puxar para novas altitudes para tentar conter a inflação, quando o resto do mundo convive hoje com juros rastejantes.
Mesmo que a opção do governo for pelo gradualismo – o que não parece a melhor solução -, essas correções, por sua vez, exigirão mais austeridade na condução das contas públicas, portanto, a obtenção de um superávit primário (sobra de arrecadação) bem maior, destinado a conter o endividamento e a criação excessiva de demanda interna descolada do aumento da produção.
E, por falar em produção, não é possível garantir um avanço sustentável do PIB sem recuperação ampla da confiança, sem forte impulsão dos investimentos e sem incentivos ao aumento da poupança interna, o que aparentemente só será possível com a reforma da Previdência Social.
Tudo isso não poderá se limitar a uma simples troca da hoje desacreditada equipe econômica nem a uma cirurgia plástica apenas para fins estéticos. Exigirá mudanças bem mais radicais. Se vitoriosa nas urnas, ou a presidente Dilma enfrenta essa agenda e, nesse caso, terá boa possibilidade de garantir uma virada na economia ou, então, não a enfrenta e corre grave risco de inviabilizar a administração da política econômica brasileira.
04 de agosto de 2014
Celso Ming, O Estadão
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