BC se preocupa mais com a inflação do que com a atividade
Que não passa pela cabeça do Banco Central (BC) reduzir a taxa básica de juros (Selic) este ano, já está claro. A mesma certeza não se pode atribuir, porém, à possibilidade de o Comitê de Política Monetária (Copom) ter que elevar os juros, atualmente em 11% ao ano, nos próximos meses.
Nesse sentido, a principal variável tende a ser o comportamento da taxa de câmbio. É pedagógico lembrar o estresse que houve nos mercados na eleição presidencial de 2002, quando, mesmo após a divulgação três meses antes do pleito da "Carta aos Brasileiros" pelo candidato Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, a taxa de câmbio esbarrou em R$ 4 e a inflação chegou ao fim daquele exercício a 12,5%.
O nível de incerteza sobre como será a próxima gestão não está no mesmo grau daquele período, quando o candidato do PT teve que se comprometer com o respeito a contratos e descartar a hipótese de um "calote" na dívida pública. Não se espera, no governo, uma instabilidade daquela proporção, mas também não é prudente descartar a eventualidade de um "estresse" cambial e o BC se prepara para isso.
Aliás, já vinha se preparando e este mês completa um ano que o mercado de câmbio está sendo irrigado todos os meses pelo programa de leilões de swap, que atingiu US$ 92,6 bilhões.
O programa foi concebido para abastecer a demanda por "hedge" cambial e dar liquidez ao mercado, que se encontrava, então, apreensivo com os efeitos de uma normalização das condições monetárias nos Estados Unidos sobre o fluxo de capitais para o país.
Originalmente, os leilões de swap deveriam durar até o fim de 2013, mas foram prorrogados até o fim deste ano, em novas condições.
Debate-se, hoje, se o programa não estaria produzindo uma indevida valorização da taxa de câmbio, que, diga-se, é um importante instrumento para o controle da inflação.
No relatório divulgado esta semana, em que listou o Brasil entre os países emergentes mais "vulneráveis" neste momento, o Fundo Monetário Internacional (FMI) indicou, também, que o real estaria valorizado em até 15% frente ao que sugeririam os fundamentos da economia brasileira. O BC considerou controversa essa constatação.
Os leilões de swap pretendem dar maior tranquilidade aos mercados, mas não devem ser usados e ampliados para conter abruptas e intensas volatilidades decorrentes de um estresse eleitoral.
Nesse caso, a tendência da autoridade monetária é lançar mão de outros instrumentos, inclusive da taxa de juros.
A situação cambial do país não é de todo confortável. Até o dia 25 de julho o fluxo cambial estava negativo em US$ 4,68 bilhões, sendo menos US$ 3,89 bilhões de fluxo financeiro e menos US$ 783 milhões no comercial.
O déficit em transações correntes do balanço de pagamentos parou de crescer, mas está há um ano estacionado no patamar de 3,6% do PIB, ou US$ 80,2 bilhões. O que não é pequeno. Como o investimento direto estrangeiro é de US$ 63,2 bilhões, o país precisa de US$ 17 bilhões para fechar as contas externas do ano. Juros elevados são um atrativo para conquistar recursos externos, ainda que de curto prazo.
Ficou claro, nos últimos dias, que o Copom não cogita baixar os juros. Se havia alguma intenção ao escrever que o comitê "decidiu, por unanimidade, neste momento, manter a taxa Selic em 11% ao ano, sem viés", no comunicado da última reunião, era deixar a porta aberta para uma eventual elevação futura da taxa Selic.
Um corte da Selic este ano, como chegaram a supor alguns analistas para a reunião de setembro, poderia adicionar mais pressão sobre o câmbio e dificultar a queda da inflação, além do fato de a inflação ainda se mostrar bastante resistente e da convergência para a meta de 4,5% só estar na perspectiva do BC para depois da Olimpíada de 2016.
Acredita-se no mercado que o preço da moeda local frente ao dólar só está na casa dos R$ 2,26 porque ainda incorporou a perspectiva de reeleição da presidente Dilma Rousseff. Se ficar claro que haverá um segundo mandato para a presidente, o câmbio tenderia a se desvalorizar e, portanto, a gerar mais inflação, segundo avaliação de fontes da área financeira.
A preocupação do BC, hoje, não é tanto com a fragilidade da atividade econômica, mas com a inflação.
Ao Banco Central estariam chegando informações sobre uma visível mudança de comportamento dos grandes investidores pessoas físicas nos últimos meses. Diferentemente dos argentinos, os brasileiros sempre deixaram seus investimentos em moeda local, mas, agora, os detentores de fortunas estariam optando por uma diversificação de portfólio, aplicando parte dos seus recursos em moeda estrangeira. Se isso tem valor potencial suficiente para produzir efeitos sobre a taxa de câmbio, é difícil dizer.
A militância do PT, aguerrida e importante para agitar as campanhas eleitorais, está apática, desestimulada.
Cientes disso, preocupados com o desempenho da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas eleitorais e temerosos de uma derrota do PT nas urnas, algumas importantes lideranças resolveram tentar chacoalhar os ânimos dos filiados.
Todos os petistas que trabalham no governo foram convidados para uma reunião, que lotou o auditório da sede do PT, no Setor Comercial Sul, em Brasília, na terça-feira. Lá estavam o ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, o secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, o secretário-executivo da Previdência Social, Carlos Gabas, dentre vários outros.
Durante a conversa, Gabas disse que o noticiário da grande imprensa aponta tantos erros e equívocos do governo Dilma e diz que as coisas estão tão ruins que "a gente chega a acreditar" e isso acaba por esfriar o entusiasmo da campanha pela reeleição. Ele pediu aos presentes que lhe enviassem informações e dados de realizações do governo em cada uma das áreas em que trabalham, para que possam ser levados às ruas e mostrados aos eleitores.
03 de agosto de 2014
Claudia Safatle, Valor Econômico
Que não passa pela cabeça do Banco Central (BC) reduzir a taxa básica de juros (Selic) este ano, já está claro. A mesma certeza não se pode atribuir, porém, à possibilidade de o Comitê de Política Monetária (Copom) ter que elevar os juros, atualmente em 11% ao ano, nos próximos meses.
Nesse sentido, a principal variável tende a ser o comportamento da taxa de câmbio. É pedagógico lembrar o estresse que houve nos mercados na eleição presidencial de 2002, quando, mesmo após a divulgação três meses antes do pleito da "Carta aos Brasileiros" pelo candidato Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, a taxa de câmbio esbarrou em R$ 4 e a inflação chegou ao fim daquele exercício a 12,5%.
O nível de incerteza sobre como será a próxima gestão não está no mesmo grau daquele período, quando o candidato do PT teve que se comprometer com o respeito a contratos e descartar a hipótese de um "calote" na dívida pública. Não se espera, no governo, uma instabilidade daquela proporção, mas também não é prudente descartar a eventualidade de um "estresse" cambial e o BC se prepara para isso.
Aliás, já vinha se preparando e este mês completa um ano que o mercado de câmbio está sendo irrigado todos os meses pelo programa de leilões de swap, que atingiu US$ 92,6 bilhões.
O programa foi concebido para abastecer a demanda por "hedge" cambial e dar liquidez ao mercado, que se encontrava, então, apreensivo com os efeitos de uma normalização das condições monetárias nos Estados Unidos sobre o fluxo de capitais para o país.
Originalmente, os leilões de swap deveriam durar até o fim de 2013, mas foram prorrogados até o fim deste ano, em novas condições.
Debate-se, hoje, se o programa não estaria produzindo uma indevida valorização da taxa de câmbio, que, diga-se, é um importante instrumento para o controle da inflação.
No relatório divulgado esta semana, em que listou o Brasil entre os países emergentes mais "vulneráveis" neste momento, o Fundo Monetário Internacional (FMI) indicou, também, que o real estaria valorizado em até 15% frente ao que sugeririam os fundamentos da economia brasileira. O BC considerou controversa essa constatação.
Os leilões de swap pretendem dar maior tranquilidade aos mercados, mas não devem ser usados e ampliados para conter abruptas e intensas volatilidades decorrentes de um estresse eleitoral.
Nesse caso, a tendência da autoridade monetária é lançar mão de outros instrumentos, inclusive da taxa de juros.
A situação cambial do país não é de todo confortável. Até o dia 25 de julho o fluxo cambial estava negativo em US$ 4,68 bilhões, sendo menos US$ 3,89 bilhões de fluxo financeiro e menos US$ 783 milhões no comercial.
O déficit em transações correntes do balanço de pagamentos parou de crescer, mas está há um ano estacionado no patamar de 3,6% do PIB, ou US$ 80,2 bilhões. O que não é pequeno. Como o investimento direto estrangeiro é de US$ 63,2 bilhões, o país precisa de US$ 17 bilhões para fechar as contas externas do ano. Juros elevados são um atrativo para conquistar recursos externos, ainda que de curto prazo.
Ficou claro, nos últimos dias, que o Copom não cogita baixar os juros. Se havia alguma intenção ao escrever que o comitê "decidiu, por unanimidade, neste momento, manter a taxa Selic em 11% ao ano, sem viés", no comunicado da última reunião, era deixar a porta aberta para uma eventual elevação futura da taxa Selic.
Um corte da Selic este ano, como chegaram a supor alguns analistas para a reunião de setembro, poderia adicionar mais pressão sobre o câmbio e dificultar a queda da inflação, além do fato de a inflação ainda se mostrar bastante resistente e da convergência para a meta de 4,5% só estar na perspectiva do BC para depois da Olimpíada de 2016.
Acredita-se no mercado que o preço da moeda local frente ao dólar só está na casa dos R$ 2,26 porque ainda incorporou a perspectiva de reeleição da presidente Dilma Rousseff. Se ficar claro que haverá um segundo mandato para a presidente, o câmbio tenderia a se desvalorizar e, portanto, a gerar mais inflação, segundo avaliação de fontes da área financeira.
A preocupação do BC, hoje, não é tanto com a fragilidade da atividade econômica, mas com a inflação.
Ao Banco Central estariam chegando informações sobre uma visível mudança de comportamento dos grandes investidores pessoas físicas nos últimos meses. Diferentemente dos argentinos, os brasileiros sempre deixaram seus investimentos em moeda local, mas, agora, os detentores de fortunas estariam optando por uma diversificação de portfólio, aplicando parte dos seus recursos em moeda estrangeira. Se isso tem valor potencial suficiente para produzir efeitos sobre a taxa de câmbio, é difícil dizer.
A militância do PT, aguerrida e importante para agitar as campanhas eleitorais, está apática, desestimulada.
Cientes disso, preocupados com o desempenho da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas eleitorais e temerosos de uma derrota do PT nas urnas, algumas importantes lideranças resolveram tentar chacoalhar os ânimos dos filiados.
Todos os petistas que trabalham no governo foram convidados para uma reunião, que lotou o auditório da sede do PT, no Setor Comercial Sul, em Brasília, na terça-feira. Lá estavam o ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, o secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, o secretário-executivo da Previdência Social, Carlos Gabas, dentre vários outros.
Durante a conversa, Gabas disse que o noticiário da grande imprensa aponta tantos erros e equívocos do governo Dilma e diz que as coisas estão tão ruins que "a gente chega a acreditar" e isso acaba por esfriar o entusiasmo da campanha pela reeleição. Ele pediu aos presentes que lhe enviassem informações e dados de realizações do governo em cada uma das áreas em que trabalham, para que possam ser levados às ruas e mostrados aos eleitores.
03 de agosto de 2014
Claudia Safatle, Valor Econômico
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