– Mmm. Blanquette de veau...
– Gosta? – É meu prato preferido.
– Eu sei. – Sou um especialista em blanquettes de veau.
– Eu sei. – Acho que o teste de um bom cozinheiro, ou de uma boa cozinheira, é a blanquette de veau. E não tenho paciência com quem se mete a fazer blanquettes de veau sem saber como. Certa vez, fechei um restaurante com a minha crítica ao seu blanquette de veau. O dono leu a minha crítica e fechou o restaurante no mesmo dia. Ouvi dizer que ele se suicidou.
– É verdade. – Um crítico gastronômico precisa ser implacável. Senão os incompetentes – ou, pior, os pretensiosos – tomam conta.
– Espero que o senhor aprove a minha blanquette.
– A senhorita sabe, claro, que eu não deveria estar aqui. Como crítico gastronômico, não posso aceitar convites como o que me fez. Mas não pude resistir.
– Talvez o meu decote o tenha convencido.
– Certamente ajudou.
– Mas coma, coma... Quero ver se o seu paladar é mesmo aguçado como dizem. Minha blanquette tem alguns ingredientes incomuns...
– Mmmm... Vamos ver. Não posso fazer feio. Detecto o vinho branco seco de qualidade, como convém... A vitela e o creme no ponto... Manteiga, farinha, perfeito. E um certo gosto forte de... sal do Himalaia?
– Cinza. – Cinza?!
– As cinzas do meu pai, que foi cremado depois de se suicidar por causa da sua crítica.
– Cinza. Interessante. Mas há algo mais... Eu diria...Tomilho?
– Não. – Estragão? – Veneno.
– Veneno. Claro. Esta não é uma blanquette de veau, é uma vingança.
– Acertou. – Eu deveria ter desconfiado do decote...
– Gosta? – É meu prato preferido.
– Eu sei. – Sou um especialista em blanquettes de veau.
– Eu sei. – Acho que o teste de um bom cozinheiro, ou de uma boa cozinheira, é a blanquette de veau. E não tenho paciência com quem se mete a fazer blanquettes de veau sem saber como. Certa vez, fechei um restaurante com a minha crítica ao seu blanquette de veau. O dono leu a minha crítica e fechou o restaurante no mesmo dia. Ouvi dizer que ele se suicidou.
– É verdade. – Um crítico gastronômico precisa ser implacável. Senão os incompetentes – ou, pior, os pretensiosos – tomam conta.
– Espero que o senhor aprove a minha blanquette.
– A senhorita sabe, claro, que eu não deveria estar aqui. Como crítico gastronômico, não posso aceitar convites como o que me fez. Mas não pude resistir.
– Talvez o meu decote o tenha convencido.
– Certamente ajudou.
– Mas coma, coma... Quero ver se o seu paladar é mesmo aguçado como dizem. Minha blanquette tem alguns ingredientes incomuns...
– Mmmm... Vamos ver. Não posso fazer feio. Detecto o vinho branco seco de qualidade, como convém... A vitela e o creme no ponto... Manteiga, farinha, perfeito. E um certo gosto forte de... sal do Himalaia?
– Cinza. – Cinza?!
– As cinzas do meu pai, que foi cremado depois de se suicidar por causa da sua crítica.
– Cinza. Interessante. Mas há algo mais... Eu diria...Tomilho?
– Não. – Estragão? – Veneno.
– Veneno. Claro. Esta não é uma blanquette de veau, é uma vingança.
– Acertou. – Eu deveria ter desconfiado do decote...
04 de agosto de 2014
Luís Fernando Veríssimo, O Estadão
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