Futebol precisa de reforma radical, cuja base está no Projeto de Responsabilidade Fiscal do Esporte, que prevê a reestruturação administrativa das agremiações
O título conquistado pela Alemanha consagrou não apenas um bom time, mas também, e principalmente, o modelo com o qual o país pôde montá-lo. Após os fracassos na Copa do Mundo de 1998, na França (desclassificação nas quartas de final), e, sobretudo, na Eurocopa de 2000, quando a seleção marcou apenas um gol, a federação alemã montou um projeto de recuperação do seu futebol. Nele, além do investimento de € 700 milhões, um dos pontos fortes foi a reformulação da liga e do campeonato, com o enquadramento dos clubes em normas de gestão austeras, não descartada a exclusão de agremiações endividadas.
Do mesmo modo, mas com resultados opostos, a participação da seleção brasileira na Copa foi a síntese do que tem sido o futebol pentacampeão nos últimos anos. Nele prevalecem desorganização, autossuficiência, farra na administração dos clubes. Para além da humilhação das goleadas, a distância que separa o futebol brasileiro do alemão também se mede em números: enquanto o Brasileirão, a mais importante competição do país, apresenta uma média de público de 12 mil por partida, o equivalente da Bundesliga atrai, por jogo, em torno de 45 mil torcedores.
Esse perfil desastroso não é fruto de um apagão conjuntural, mas decorrência de um problema de fundo: a manutenção de uma estrutura na qual se misturam incompetência gerencial, corrupção e personalismo na gestão de clubes e federações, responsáveis pela (des)organização de um esporte que já deu muitas alegrias. Disso resulta um quadro que se encaminha rapidamente para o caos completo, com torneios esvaziados, tíbia formação de craques, esvaziamento do mercado nacional de jogadores e, principalmente, a quase totalidade dos clubes brasileiros na bancarrota.
Se não houver uma profunda, radical, mudança na administração gerencial, o futebol brasileiro não escapa do desastre total. Este é o ponto com o qual comungam dirigentes de clubes, governo federal, Legislativo e representantes de jogadores, empenhados na discussão do Projeto de Responsabilidade Fiscal do Esporte, que tem por base o refinanciamento das dívidas das agremiações.
A afastá-los, a contrapartida dos clubes em troca da renegociação das dívidas. Acertadamente, o governo insiste na exigência de que as agremiações adotem gestões austeras. O preço do descumprimento das obrigações contratadas deve ser o rebaixamento nas competições disputadas. É remédio amargo, mas necessário para fazer frente a uma dívida de R$ 4 bilhões.
É preciso assegurar que a pactuação tenha cláusulas rígidas, admitindo-se apenas negociações em torno de prazos e outros detalhes, para evitar que o refinanciamento se transforme em mero repasse de verbas a clubes afundados em má gestão. Mas há setores propondo o afrouxamento das condições, o que é inaceitável. O projeto, que está na pauta da Câmara, deve ir a plenário esta semana — e é crucial que entre em regime de urgência. Está em jogo o futuro do futebol pentacampeão.
O título conquistado pela Alemanha consagrou não apenas um bom time, mas também, e principalmente, o modelo com o qual o país pôde montá-lo. Após os fracassos na Copa do Mundo de 1998, na França (desclassificação nas quartas de final), e, sobretudo, na Eurocopa de 2000, quando a seleção marcou apenas um gol, a federação alemã montou um projeto de recuperação do seu futebol. Nele, além do investimento de € 700 milhões, um dos pontos fortes foi a reformulação da liga e do campeonato, com o enquadramento dos clubes em normas de gestão austeras, não descartada a exclusão de agremiações endividadas.
Do mesmo modo, mas com resultados opostos, a participação da seleção brasileira na Copa foi a síntese do que tem sido o futebol pentacampeão nos últimos anos. Nele prevalecem desorganização, autossuficiência, farra na administração dos clubes. Para além da humilhação das goleadas, a distância que separa o futebol brasileiro do alemão também se mede em números: enquanto o Brasileirão, a mais importante competição do país, apresenta uma média de público de 12 mil por partida, o equivalente da Bundesliga atrai, por jogo, em torno de 45 mil torcedores.
Esse perfil desastroso não é fruto de um apagão conjuntural, mas decorrência de um problema de fundo: a manutenção de uma estrutura na qual se misturam incompetência gerencial, corrupção e personalismo na gestão de clubes e federações, responsáveis pela (des)organização de um esporte que já deu muitas alegrias. Disso resulta um quadro que se encaminha rapidamente para o caos completo, com torneios esvaziados, tíbia formação de craques, esvaziamento do mercado nacional de jogadores e, principalmente, a quase totalidade dos clubes brasileiros na bancarrota.
Se não houver uma profunda, radical, mudança na administração gerencial, o futebol brasileiro não escapa do desastre total. Este é o ponto com o qual comungam dirigentes de clubes, governo federal, Legislativo e representantes de jogadores, empenhados na discussão do Projeto de Responsabilidade Fiscal do Esporte, que tem por base o refinanciamento das dívidas das agremiações.
A afastá-los, a contrapartida dos clubes em troca da renegociação das dívidas. Acertadamente, o governo insiste na exigência de que as agremiações adotem gestões austeras. O preço do descumprimento das obrigações contratadas deve ser o rebaixamento nas competições disputadas. É remédio amargo, mas necessário para fazer frente a uma dívida de R$ 4 bilhões.
É preciso assegurar que a pactuação tenha cláusulas rígidas, admitindo-se apenas negociações em torno de prazos e outros detalhes, para evitar que o refinanciamento se transforme em mero repasse de verbas a clubes afundados em má gestão. Mas há setores propondo o afrouxamento das condições, o que é inaceitável. O projeto, que está na pauta da Câmara, deve ir a plenário esta semana — e é crucial que entre em regime de urgência. Está em jogo o futuro do futebol pentacampeão.
04 de agosto de 2014
Editorial O Globo
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