"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 29 de julho de 2014

DIREITA E ESQUERDA: A RELEVÂNCIA DE UMA DISTINÇÃO - 1a. PARTE

Artigos - Cultura

Nestes dias de intenso cinismo político, turbo-alimentado por uma confusa “entrevista” (http://www.asemana.publ.cv/spip.php?article100562&ak=1) do sr. José Maria Neves, estafante e supinamente vazia, vale a pena retomar um tema mal esclarecido na esfera pública pátria.
 
A disputa esquerda vs. direita.
Proponho, todavia, aos amáveis leitores um exercício diferente, mais enriquecedor, num debate instruído que vá além dos slogans e estribilhos de circunstância. Não se vê outra alternativa.
 
Mas há, nisto tudo, um ponto estratégico que não pode ser ignorado: o ir e vir constante, e mesmo iluminante,entre a teoria e a prática.
Só assim se recupera a unidade primordial, o logos dos antigos. O ser das coisas. Como condição aliás da coerência e, porque não?, antídoto eficaz contra a mistificação; quefalsifica, que sacrifica, que destrói o laço eterno entre o discurso e a realidade. 
Temos, pois, de evitar as “palavras panzers” (Edgar Morin), o logro ideológico, a mentira fácil e escorregadia, o totem e os tabus.
 
Não podemos desistir. Não se vai, esclareça-se, cair no conto de fadas de A. Giddens (“para além da esquerda e da direita”) nem no doutrinarismo de um Bobbio, que propõe metas ideológicas no abstrato, sem analisar, convenientemente, a ação real dos partidos e das capelinhas.
 
Ainda não é “o fim das ideologias” (Daniel Bell, Meynaud,Aron, etc.). Não é também o “fim da história”. Robert Kagan já nos mostrou que, quando menos se espera, ela regressa fulgurante e decisiva.
 
A própria “terceira via” acaba, muitas vezes, por não ser a solução teórica, respaldando apenas, na sua intrínseca falta de imaginação, um sistema neomercantilista em que imperam “o clientelismo, as regulações e os subsídios” (José Manuel Moreira).
Temos, mais uma vez, e sempre, de pensar. Dealçar o olhar e ver o mundo: os continentes do saber e do conhecimento. Tudo. Temos de rejeitar, com J.-F. Revel, la connaissance inutile.
José Osvaldo de Meira Penna, esse sábio de fina intuição, cruzando como ninguém a Filosofia Política e a História das Ideias, diz-nos que a origem das duas palavrinhas mágicas remonta a 1792.
 
Estamos em plena Convenção.
Ano I do calendário revolucionário, expressão de um tempooutro e de uma nova “idade de ouro” (ver http://www.calendario.cnt.br/cal_revolucionarios.htm).
Os membros do partido jacobino, partidários da democracia radical, à la Rousseau, entram apressadamente pela porta esquerda, e sentam-se à esquerda da mesa do presidente.
Os girondinos, mais moderados e defensores do modelo parlamentar inglês, ao estilo whig, cultivando, aliás, as velhas liberdades, sentam-se à direita.
 
Surgem então, nesse ambiente tumultuoso da Revolução Francesa, a Gauche (Esquerda) e a Droite (Direita). Eis o puzzle montado. Decerto.
Surge, enfim, o motor do futuro e das disputassem fim.
Os jacobinos, com Robespierre à frente, lançam a França no caos.
Defendem a utopia da igualdade total, pregam o ódio contra a aristocracia, desprezam a religião e praticam, sem mercê, o terror da Vendeia. Nada será como dantes.
 
Como escreveu o mestre brasileiro, pouco conhecido entre nós, “A Droite permaneceu composta de liberais, que privilegiavam o primeiro termo do trinômio revolucionário Liberté, Égalité, Fraternité, ao passo que a Gauche, o lado dos assanhados e violentos, ia logo desencadear o Grande Terror de 1793/94 sob a liderança de Robespierre, no empenho exclusivo de fazer triunfar o segundo termo, igualitarista. Foi assim imposta uma ditadura terrorística que desequilibrou o regime, provocou a invasão estrangeira e conduziu ao império bonapartista, tendo como resultado a guerra civil, o genocídio da Vendéia e a conflagração européia: em suma, 1 milhão de mortos”.
A história não se apaga.
 
O sr. V. I. Lenine, em 1917, retomará a velha cilada, louvando-se expressamente no mestre gaulês da baderna. Hannah Arendt consagrou páginas deliciosas a este assunto.
A esquerda é, nestes termos, a encarnação perfeita da revolta e da tirania.A matriz do totalitarismo. A sua essência é a mentira, o crime em série. O doublespeak.
 
No romance 1984, Winston trabalha no curioso “Ministério da Verdade” como produtor incansável de mentiras. (Os vários crimes do sr. José Maria Neves, em 2006, e os atestados médicos falsos foram, com a aura de segredo de Estado, completamente ignorados, mas o dr. José Carlos Correia, o incrível, diz que estamos perante um “novo paradigma” no sector da justiça!!!).
As palavras, tomadas como estritas bandeiras de luta, irão mais tarde incendiar os corações e dividir povos e nações, com alterações semânticas que, por vezes, não passam de jogos de poder, encenações e oportunismo táctico.
 
Nos Estados Unidos da América, por ex., a esquerda (left) é, hoje, o partido “liberal”, defendendo mais intervenção do Estado na economia e, em geral, o modelo dowelfarestate.
Cada uma das partes da contenda, batendo orgulhosamente no peito, julgar-se-ádetentorada verdade revelada.Há nuances todavia, subtilezas que vão surgindo, num desafio ao espírito geométrico, ao longo do tempo.
 
A esquerda é, apesar de tudo, mestre na arte da empulhação; não tem igual.
Apresenta-se sempre, qual lobo vestido de cordeiro, como a detentora de todas as virtudes, o símbolo da rectidão, como o partido “amigo” dos pobres, da paz e da moralidade; santo e sempre cheio de boas intenções!
 
Mas quem provocou a grande hecatombe moral do séc. XX, a II Guerra Mundial e a maior miséria econômica e social de que se tem notícia desde a pré-história? Quem mais semeou o terrorismo [1] como sistema de governo? Karl Marx sempre defendeu o genocídio.
Quem fabricou o Gulag (leia-se A.Soljenitsyne) e a desgraça de Cuba?
Quem matou, com o requinte máximo da crueldade, mais de cem milhões de pessoas em nome de um “ideal” burlesco e irrealizável? Foi a esquerda e tem sido a esquerda, cuja fraude é, de fato, monumental. Em Italiano, a esquerda chama-se sinistra. Mesmo a calhar…
A esquerda, tal como salientou Alain Besançon, é, sem dúvida, a grande responsável pela Infelicidade do Século (e do XXI também?).
 
Na dita entrevista, o primeiro-ministro diz-se a favor do “empoderamento” (que neologismo mais feio e pedestre!) da sociedade civil, da urgente “desestatização” das mentes, da livre-iniciativa, etc., mas, logo a seguir, numa confusão genuinamente satânica, sufraga o despotismo keynesiano, com a continuação dos gastos públicos e a elevada cifra da dívida externa e do défice fiscal. (Parece que o mau exemplo de Portugal não serve para nada…).Ou seja, é o Estado paternalista, tutelando os seus pobres súbditos, quem vai lideraressa interessante, oops, “desestatização” das cabeças! O sr. JMN é, portanto, um indivíduo mesquinho e obcecado, uma alma doente, desejando simultaneamente uma coisa e o seu contrário. É impossível.

PS
: Quem quiser constatar in loco a desonestidade em ação, basta ouvir com atenção (http://www.rtc.cv/tcv/index.php?paginas=41&id_cod=33517) as declarações meiopatéticas, e bem falsas, de Julião Varela, o mui ilustre ex-sindicalista-ora-porta-voz-privilegiado-do-Governo, maldizendo, em delírio quase hipnótico, as privatizações da década de 90,que tão bons resultados trouxeram ao país e à nossa economia.
 
Indiscutivelmente. Não é por acaso que o Banco Mundial considerou, já em 2000, o processo exemplar, entre os melhores do mundo, refira-se. Mas o sr. Varela, castiço, não quer saber dos factos. Nestas coisas, segue a doutrina da turba. É um homem resoluto, um rebento puroda “democracia nacional revolucionária”! É pena que o dr. Olavo Correia, distraído nas explicações mais vulgares, não lhe tenha mostrado, com base por exemplo em F. Hayek, a ligação incindível entre a liberdade econômica e a dignidade da pessoa humana. O mercado livre não é um mero sistema econômico ou de produção, de bens e serviços. É antes a condição da liberdade humana. O seu significado é axiológico: ou mercado ou servidão. Quem for católico e sensível, que leia então a encíclica Centesimus Annus (http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_01051991_centesimus-annus_po.html).
 
29 de julho de 2014
Casimiro De Pina

Notas:
[1] - Sobre a influência do comunismo na promoção do próprio terrorismo islâmico, ver a instrutiva entrevista do ex-chefe da antiga Securitate romena, Mihai Pacepa,Da Rússia, com terror,in http://www.midiasemmascara.org/artigos/movimento-revolucionario/14427-da-russia-com-terror.html

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