Se pudesse contar com a genialidade de Lionel Messi e com a reconhecida capacidade técnica dos demais jogadores de sua seleção para enfrentar os problemas que ameaçam atirá-la na vala comum dos párias do mercado financeiro, a Argentina certamente não estaria vivendo o pesadelo que a atormenta desde quarta-feira e que promete se estender por longo e sofrido tempo.
Mas, bem diferente do que ocorre no futebol, em que os argentinos construíram reputação de competidores eficientes, os atuais ocupantes da Casa Rosada, sede do governo, gostam de tomar decisões perigosas. Ora movidos por velho populismo herdado do peronismo, ora por puro voluntarismo, próprio dos latino-americanos mais inflamados, os Kirchner - primeiro Néstor e, depois, a viúva, Cristina - não param de dar exemplos que não devem ser seguidos por governantes sérios.
A história recente de equívocos portenhos começou em 2001, com um ato vendido ao povo como atitude corajosa: o governo anunciou o calote de sua dívida com bancos e instituições financeiras internacionais de aproximadamente US$ 100 bilhões. Nessa hora, sempre aparece um bando de sonhadores que acreditam ser possível dar o cano em quem teve a coragem de emprestar dinheiro ao país necessitado de financiamento e ficar tudo por isso.
Mesmo no Brasil, nos anos 1990, não faltaram economistas de formação dita desenvolvimentista e políticos que sabiam apenas que soava bonito e patriótico ser contra o pagamento da dívida do país e, em vez disso, usar o dinheiro para tirar parte da população da pobreza. Ou não foram às aulas de economia ou simplesmente não entenderam nada.
Cinco anos depois, a Argentina, vendo o erro que foi o calote, pois não tinha dinheiro nem para bancar suas importações nem muito menos para investir no desenvolvimento, abriu ampla negociação com os credores, resultando numa clássica reestruturação da dívida, com prazos definidos de pagamento em troca de um bom desconto (chegou a 70% em alguns casos).
Mas nem todos os credores aceitaram esse jogo. Um grupo deles, que tem a receber US$ 1,5 bilhão, foi à Justiça dos Estados Unidos para obrigar a Argentina com um "paga lo que debes". Na quarta-feira, o grupo ganhou em última instância todos os direitos, inclusive o de "sequestrar" pagamentos que a Argentina fizer em bancos norte-americanos. O pior é que um desses pagamentos vence em 30 de junho e fica desde já impedido.
É, pois, uma bela enrascada. Em vez de enfrentá-la com serenidade e transparência, o governo argentino inundou Buenos Aires com cartazes com os dizeres "Basta, abutres", aplicados sobre as cores da bandeira dos EUA. É uma tentativa de enganar o povo com o velho truque de desqualificar o oponente, mesmo que ele tenha sido alguém que confiou na Argentina e está apenas querendo reaver o dinheiro.
Pode render votos, mas nem de longe melhora a situação do país, que não soube aproveitar o tempo que ganhou sem pagar para melhorar a economia. Em vez disso, distribuiu benesses para garantir resultados eleitorais. Esse é um filme velho que sempre acaba mal.
Mas, bem diferente do que ocorre no futebol, em que os argentinos construíram reputação de competidores eficientes, os atuais ocupantes da Casa Rosada, sede do governo, gostam de tomar decisões perigosas. Ora movidos por velho populismo herdado do peronismo, ora por puro voluntarismo, próprio dos latino-americanos mais inflamados, os Kirchner - primeiro Néstor e, depois, a viúva, Cristina - não param de dar exemplos que não devem ser seguidos por governantes sérios.
A história recente de equívocos portenhos começou em 2001, com um ato vendido ao povo como atitude corajosa: o governo anunciou o calote de sua dívida com bancos e instituições financeiras internacionais de aproximadamente US$ 100 bilhões. Nessa hora, sempre aparece um bando de sonhadores que acreditam ser possível dar o cano em quem teve a coragem de emprestar dinheiro ao país necessitado de financiamento e ficar tudo por isso.
Mesmo no Brasil, nos anos 1990, não faltaram economistas de formação dita desenvolvimentista e políticos que sabiam apenas que soava bonito e patriótico ser contra o pagamento da dívida do país e, em vez disso, usar o dinheiro para tirar parte da população da pobreza. Ou não foram às aulas de economia ou simplesmente não entenderam nada.
Cinco anos depois, a Argentina, vendo o erro que foi o calote, pois não tinha dinheiro nem para bancar suas importações nem muito menos para investir no desenvolvimento, abriu ampla negociação com os credores, resultando numa clássica reestruturação da dívida, com prazos definidos de pagamento em troca de um bom desconto (chegou a 70% em alguns casos).
Mas nem todos os credores aceitaram esse jogo. Um grupo deles, que tem a receber US$ 1,5 bilhão, foi à Justiça dos Estados Unidos para obrigar a Argentina com um "paga lo que debes". Na quarta-feira, o grupo ganhou em última instância todos os direitos, inclusive o de "sequestrar" pagamentos que a Argentina fizer em bancos norte-americanos. O pior é que um desses pagamentos vence em 30 de junho e fica desde já impedido.
É, pois, uma bela enrascada. Em vez de enfrentá-la com serenidade e transparência, o governo argentino inundou Buenos Aires com cartazes com os dizeres "Basta, abutres", aplicados sobre as cores da bandeira dos EUA. É uma tentativa de enganar o povo com o velho truque de desqualificar o oponente, mesmo que ele tenha sido alguém que confiou na Argentina e está apenas querendo reaver o dinheiro.
Pode render votos, mas nem de longe melhora a situação do país, que não soube aproveitar o tempo que ganhou sem pagar para melhorar a economia. Em vez disso, distribuiu benesses para garantir resultados eleitorais. Esse é um filme velho que sempre acaba mal.
21 de junho de 2014
Editorial Correio Braziliense
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