"Futebol é muito simples: quem tem a bola ataca; quem não tem defende"
Neném Prancha
O que os políticos e a seleção brasileira têm em comum? Ambos se preocupam mais com a defesa. Compreende-se que os políticos procedam assim. Afinal, inocentes ou culpados, antes de tudo são suspeitos de prometerem o que não fazem, de trambicagens inimagináveis e de traírem o voto que os elege. Só há um motivo para que a seleção aposte mais na defesa: o medo que seus dirigentes têm da derrota.
O MEDO DERIVA de outra coisa que aproxima políticos e seleção: a carência de uma ideia nova. O Plano Real foi a ideia nova que marcou o período de oito anos do presidente Fernando Henrique Cardoso. E a inclusão social, a que marcou o período de oito anos do presidente Lula. Agradecido, o povo quer mais. E, por ora, nada surgiu capaz de satisfazê-lo. Ocorre o mesmo com a seleção. Que nova proposta sustenta o futebol que ela apresentou na Copa até aqui? Ou nos amistosos que a precederam?
O EXERCÍCIO DA POLÍTICA entre nós só tem feito se deteriorar desde o fim da ditadura militar de 1964. Nos anos 1980, por exemplo, quando se reclamava da qualidade do Congresso, o deputado Ulysses Guimarães, então presidente do PMDB, respondia: "Espere o próximo". Quanto à seleção... A rigor o futebol servido por ela não surpreende o mundo desde o tri no México em 1970.
ESTA TARDE, EM BRASÍLIA, não basta que a seleção vença a dilacerada seleção de Camarões. Nem mesmo que a goleie. É preciso que exiba um futebol capaz de resgatar pelo menos parte da confiança da torcida abalada por seu desempenho mediano até aqui. Contra a Croácia, demos graças ao Senhor. Ou melhor: ao juiz japonês que viu um pênalti onde não houve. Contra o México, o medo venceu a esperança.
NA MAIORIA DAS VEZES só ganha quem não tem medo de perder. É verdade que fomos tetra na Copa de 1994 exibindo um futebol de segunda categoria. Ou de terceira. Fomos penta em 2002 quando o brilho de três ou quatro jogadores se impôs a um esquema burocrático de jogo. Mas o que é pior: a melhor lembrança do futebol de 1958, 1962 e 1970 está, hoje, nos pés e na imaginação de alguns dos nossos adversários.
SALVE A ALEMANHA do futebol compacto pontuado de estrelas que trocam de posição e que não se desesperam nem mesmo se estiverem em desvantagem no placar. Foi o que ocorreu no último sábado quando empatou com Gana. Sem falar do extravagante 4 x 0 aplicado em Portugal de Cristiano Ronaldo. Salve a Holanda que ocupa todos os espaços do campo, sobe e desce em bloco e dispõe de um contra ataque mortal.
SALVE O URUGUAI que fez contra a Inglaterra um dos melhores jogos desta Copa. Exibiu a garra que falta à seleção brasileira desde a final da Copa das Confederações. Salve a França que desencantou em cima da Suíça e que mais de uma vez já foi a nossa algoz. Cuidado com a Itália e a Argentina. Estão um degrau abaixo das que merecem ser louvadas. Em todo o caso, a Argentina tem Messi. A Itália, o maestro Andrea Pirlo.
QUE TEMOS? Temos Neymar. Que como Messi pode decidir uma parada. Mesmo ele, porém, se apagou no jogo contra o México. É tal seu apetite pela bola que com frequência não a compartilha. Tem quatro anos a mais do que tinha Pelé quando jogou uma Copa pela primeira vez. Está longe de lembrá-lo. O que se espera dele está além do que tem para dar. Corre o risco de ser esmagado pela expectativa nacional.
ASSIM, NA POLÍTICA como no futebol, o problema está no elenco, estúpido! Infelizmente, a pobreza é geral.
24 de junho de 2014
Ricardo Noblat, O Globo
O MEDO DERIVA de outra coisa que aproxima políticos e seleção: a carência de uma ideia nova. O Plano Real foi a ideia nova que marcou o período de oito anos do presidente Fernando Henrique Cardoso. E a inclusão social, a que marcou o período de oito anos do presidente Lula. Agradecido, o povo quer mais. E, por ora, nada surgiu capaz de satisfazê-lo. Ocorre o mesmo com a seleção. Que nova proposta sustenta o futebol que ela apresentou na Copa até aqui? Ou nos amistosos que a precederam?
O EXERCÍCIO DA POLÍTICA entre nós só tem feito se deteriorar desde o fim da ditadura militar de 1964. Nos anos 1980, por exemplo, quando se reclamava da qualidade do Congresso, o deputado Ulysses Guimarães, então presidente do PMDB, respondia: "Espere o próximo". Quanto à seleção... A rigor o futebol servido por ela não surpreende o mundo desde o tri no México em 1970.
ESTA TARDE, EM BRASÍLIA, não basta que a seleção vença a dilacerada seleção de Camarões. Nem mesmo que a goleie. É preciso que exiba um futebol capaz de resgatar pelo menos parte da confiança da torcida abalada por seu desempenho mediano até aqui. Contra a Croácia, demos graças ao Senhor. Ou melhor: ao juiz japonês que viu um pênalti onde não houve. Contra o México, o medo venceu a esperança.
NA MAIORIA DAS VEZES só ganha quem não tem medo de perder. É verdade que fomos tetra na Copa de 1994 exibindo um futebol de segunda categoria. Ou de terceira. Fomos penta em 2002 quando o brilho de três ou quatro jogadores se impôs a um esquema burocrático de jogo. Mas o que é pior: a melhor lembrança do futebol de 1958, 1962 e 1970 está, hoje, nos pés e na imaginação de alguns dos nossos adversários.
SALVE A ALEMANHA do futebol compacto pontuado de estrelas que trocam de posição e que não se desesperam nem mesmo se estiverem em desvantagem no placar. Foi o que ocorreu no último sábado quando empatou com Gana. Sem falar do extravagante 4 x 0 aplicado em Portugal de Cristiano Ronaldo. Salve a Holanda que ocupa todos os espaços do campo, sobe e desce em bloco e dispõe de um contra ataque mortal.
SALVE O URUGUAI que fez contra a Inglaterra um dos melhores jogos desta Copa. Exibiu a garra que falta à seleção brasileira desde a final da Copa das Confederações. Salve a França que desencantou em cima da Suíça e que mais de uma vez já foi a nossa algoz. Cuidado com a Itália e a Argentina. Estão um degrau abaixo das que merecem ser louvadas. Em todo o caso, a Argentina tem Messi. A Itália, o maestro Andrea Pirlo.
QUE TEMOS? Temos Neymar. Que como Messi pode decidir uma parada. Mesmo ele, porém, se apagou no jogo contra o México. É tal seu apetite pela bola que com frequência não a compartilha. Tem quatro anos a mais do que tinha Pelé quando jogou uma Copa pela primeira vez. Está longe de lembrá-lo. O que se espera dele está além do que tem para dar. Corre o risco de ser esmagado pela expectativa nacional.
ASSIM, NA POLÍTICA como no futebol, o problema está no elenco, estúpido! Infelizmente, a pobreza é geral.
24 de junho de 2014
Ricardo Noblat, O Globo
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