"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 24 de junho de 2014

AS COMPLEXIDADES DA SIMPLIFICAÇÃO

 




Quem xingou Dilma no Itaquerão? Fossem sonoros aplausos, a comunicação oficial não teria constrangimento em ressaltar a ruidosa e alegre saudação popular dedicada à presidente. Mas não foram aplausos. Impunha-se, portanto, circunscrever a ação dos torcedores a um pequeno e seleto grupo de privilegiados e em encontrar responsáveis pelo ocorrido.

O ex-presidente Lula, que, prudentemente, não passa nem de avião por sobre os estádios com cuja construção se comprometeu, veio às falas. Ao se manifestar, no dia seguinte, durante um comício do PT em Pernambuco, apelou para o velho truque de emoldurar o fato num quadro simplista: o estádio teria sido capturado por não torcedores, gente cheia de ódio.

Quem estimulou esse ódio? Setores da imprensa. Quais as razões do ódio? Revolta dos ricos contra o crescente bem estar dos pobres. Mas adiante, sublinhou não haver no estádio ninguém com cara de pobre. “A não ser você Dilma”. Nenhum “moreninho”. E afirmou que o público era formado pela “parte bonita da sociedade, que comeu a vida inteira”.

PRECONCEITOS

Ao querer simplificar, Lula complicou e se complicou. É impossível não perceber os preconceitos desse discurso. Para que tal oratória fique de pé, o ex-presidente decide que branco é bonito e moreninho feio, e que quem sempre comeu se revolta quando todos comem. Por quê? Faltando os porquês, o discurso cai. Desaba como uma pedra sobre os sapatos Louboutin da presidente com cara de pobre.

Lula sempre forçou antagonismos para se posicionar: pobres contra ricos, moreninhos contra branquinhos, olhos claros contra olhos escuros, empregados contra patrões, índios contra civilizados. E vice-versa, ao gosto do freguês. Agora, nos apresenta o Brasil dividido, também, entre o Brasil dos bonitos e o Brasil dos feios. Arre, Lula!

Mas não foi só aí que, por excesso de simplificação, a oratória ex-presidencial despencou a ponto de tornar a fala imprestável para qualquer par de neurônios que lhe desse atenção.
Afinal, quem, sem consultas, sem ouvir a opinião pública, na escuridão do próprio bestunto, decidiu trazer a Copa de 2014 para o Brasil? Quem cedeu às exigências e padrões da FIFA? Quem multiplicou as sedes e construiu estádios onde sequer existem clubes de futebol? Quem, se não o próprio Lula, criou o cenário para a festa do dia 12, não no histórico Maracanã, não na Capital Federal, mas no estádio do seu Corinthians?

Agora, após o acontecido, ele imagina que o país também se divide entre uma multidão burra e uns poucos inteligentes, entre os quais o próprio. E fala, novamente, como se nada tivesse a ver com o que acontece no país.

24 de junho de 2014
Percival Puggina
 

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