Internacional - América Latina
Os ensaios do novo livro de Pedro Corzo destilam, nas palavras do autor, “preocupação” e “dor” pela “falta de solidariedade da política latino-americana em relação a Cuba, e o escasso compromisso dos líderes da região com o enraizamento da democracia no continente”.
Miami - O jornalista, cineasta e ativista cubano Pedro Corzo, exilado em Miami, reúne no livro “Mediataciones en la Vía”, conferências e ensaios publicados nos últimos 20 anos e prognostica que “o castrismo sobreviverá aos Castro (Fidel e Raúl)” como “forma de poder”.
“Não considero que o castrismo tenha morrido, porque o castrismo não é uma ideologia, senão uma forma de manter o poder”, expôs hoje Corzo em uma entrevista, na qual mostrou-se convicto de que o processo de “sucessão dinástica” em favor do presidente cubano, Raúl Castro, trata de articular um “processo de transição dentro do próprio castrismo”.
Diferentemente de alguns dissidentes na ilha que creem que não tem sentido ser anti-castrista porque o castrismo morreu, quanto a seu ciclo vital, Corzo insiste em que o “trânsito” impulsionado por Raúl Castro preservará “a estrutura de comando, e de poder e influência” dos militares, um aspecto determinante.
Na opinião do diretor do Instituto de la Memoria Histórica Cubana contra el Totalitarismo, a mentalidade de monopólio do poder, por parte do castrismo e do Partido Comunista, se manterá inflexível, alimentada por “uma herança que sucede da gesta falsa que se elaborou a partir do processo de insurreição contra (o ditador Fulgencio) Batista”.
Detido muito jovem em 1964 pela polícia do regime e condenado a 20 anos de prisão, embora tenha sido libertado em 1971, Corzo debulha neste livro sua vida de “luta frontal contra o totalitarismo castrista, os êxitos e fracassos do exílio cubano”, a falácia do chamado “socialismo do século XXI” ou o fenômeno da “subversão castrista na Venezuela”.
Corzo afirma que, na realidade, o modelo cubano “não exporta uma ideologia, senão normas e fundamentos para a tomada e conservação do poder”, como assim sucedeu, apontou, na recente história da Venezuela com o triunfo de um “topo” do castrismo, o falecido ex-presidente venezuelano Hugo Chávez, que estabeleceu no país sul-americano uma “ditadura institucional que se converteu no principal sustento do Governo” da ilha.
A vintena de ensaios e escritos que configuram o livro, abordam de forma pormenorizada e reflexiva aspectos essenciais do devir histórico da ilha desde o triunfo da revolução, um poder que “sempre foi capaz de se reinventar, de criar, como na história de ‘El Gatopardo’, os ajustes necessários para que tudo continue igual, sem mudanças reais”.
Vinculado ao exercício jornalístico desde seu primeiro destino de exílio em 1981, na Venezuela, Corzo desenvolveu um trabalho constante de análise e denúncia de um regime que, como condensa no livro, transgride a liberdade do povo cubano, tenta suprimir a oposição e sufoca qualquer tentativa de pluralidade informativa.
Corzo foi desde sua adolescência um membro ativo de grupos de resistência ao castrismo como o Diretório Revolucionário Estudantil e o Movimento Revolucionário do Povo (MRP) e, anos mais tarde, no exílio, seu trabalho como jornalista de imprensa, rádio e televisão supuseram a continuidade de seu compromisso pela defesa da implantação de um Estado de Direito em Cuba.
Seu frutífero trabalho à frente do Instituto da Memória Histórica Cubana contra o Totalitarismo cristalizado em mais de uma dúzia de livros de temática cubana e a rodagem de quatorze documentários, o último dos quais, “Mito y realidad de la medicina en Cuba”, estreará muito em breve.
Porém, Corzo volta a um ponto medular de sua exposição, o que ele denomina “sucessão-transição” dentro do mesmo castrismo, tal e como “qualquer monarquia absoluta do passado com uma corte ‘militar’ com interesses econômicos muito poderosos e um grande controle sobre a sociedade, que não tem direitos”.
Porém, estes ensaios destilam também, nas palavras do autor, “preocupação” e “dor” pela “falta de solidariedade da política latino-americana em relação a Cuba, e o escasso compromisso dos líderes da região com o enraizamento da democracia no continente”.
Finalmente, resulta vital “conhecer bem o passado” para poder interpretar e gerar mudanças no presente e articular “perspectivas e bases para um futuro diferente e positivo”.
Nota da tradutora:Fui presenteada pelo autor do livro e recebi dele autorização para publicá-lo no Brasil, e me coloco à disposição das editoras para tal.
27 de junho de 2014
Escrito por Agência EFE
Tradução: Graça Salgueiro
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