Maio tem pior desempenho na criação de empregos desde 1992, e mau desempenho evidente da economia sugere que a situação se agravará
O surpreendente descompasso do mercado de trabalho começa a ser corrigido, mas não de maneira favorável. Registra-se, desde 2012, um descolamento entre o baixo crescimento da economia, de um lado, e os altos níveis de emprego, de outro. Nos últimos meses, porém, surgiram evidências de piora na geração de vagas.
São ruins os dados recém-divulgados pelo Ministério do Trabalho. Foram criados 58,8 mil empregos formais em maio, o pior saldo para o mês desde 1992.
Estão na indústria, como sempre, as maiores dificuldades: fecharam-se 28,5 mil postos de trabalho. O setor de serviços, provavelmente impulsionado por contratações temporárias ligadas à Copa do Mundo, teve desempenho positivo, com abertura de 38,8 mil vagas.
Essa é, porém, apenas uma parte do quadro, pois as informações do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) se referem aos empregos formais, contabilizados pelas empresas. Outras fontes revelam sinais ambíguos.
Um exemplo é a Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE (PME), realizada em uma amostra de domicílios em seis capitais (São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife e Salvador). O levantamento mede a geração de vagas formais e informais, a taxa de desemprego e a renda do trabalho.
Pela PME, a perda de dinamismo também é patente; há vários meses a ocupação não cresce. Por outro lado, a taxa de desemprego permanece no menor nível da história (4,9%) --sobretudo porque muitas pessoas têm desistido de pleitear um posto de trabalho.
Maior acesso ao ensino superior --que atrasa a busca por emprego--, desalento pelas dificuldades do país e menor expansão populacional são alguns dos motivos.
Quanto ao crescimento da renda, seu ritmo atual, cerca de 3% ao ano acima da inflação, é bem inferior ao de períodos recentes e insuficiente para sustentar fortes altas no consumo. O contexto, vale lembrar, é de elevado endividamento das famílias.
Neste ano, o IBGE passou a divulgar uma nova pesquisa, a Pnad Contínua, abrangendo 3.464 municípios. De acordo com essa métrica, o desempenho é melhor, com crescimento da população ocupada até o primeiro trimestre (o último dado disponível).
O mercado de trabalho, hoje, está em algum ponto entre morno e frio, a depender do observador.
Em qualquer caso, o mau desempenho evidente em outros indicadores --queda da confiança de empresas e consumidores, redução das intenções de investimento, estoques excessivos na indústria-- sugere que a situação dos empregos continuará a esfriar.
27 de junho de 2014
Editorial Folha de SP
O surpreendente descompasso do mercado de trabalho começa a ser corrigido, mas não de maneira favorável. Registra-se, desde 2012, um descolamento entre o baixo crescimento da economia, de um lado, e os altos níveis de emprego, de outro. Nos últimos meses, porém, surgiram evidências de piora na geração de vagas.
São ruins os dados recém-divulgados pelo Ministério do Trabalho. Foram criados 58,8 mil empregos formais em maio, o pior saldo para o mês desde 1992.
Estão na indústria, como sempre, as maiores dificuldades: fecharam-se 28,5 mil postos de trabalho. O setor de serviços, provavelmente impulsionado por contratações temporárias ligadas à Copa do Mundo, teve desempenho positivo, com abertura de 38,8 mil vagas.
Essa é, porém, apenas uma parte do quadro, pois as informações do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) se referem aos empregos formais, contabilizados pelas empresas. Outras fontes revelam sinais ambíguos.
Um exemplo é a Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE (PME), realizada em uma amostra de domicílios em seis capitais (São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife e Salvador). O levantamento mede a geração de vagas formais e informais, a taxa de desemprego e a renda do trabalho.
Pela PME, a perda de dinamismo também é patente; há vários meses a ocupação não cresce. Por outro lado, a taxa de desemprego permanece no menor nível da história (4,9%) --sobretudo porque muitas pessoas têm desistido de pleitear um posto de trabalho.
Maior acesso ao ensino superior --que atrasa a busca por emprego--, desalento pelas dificuldades do país e menor expansão populacional são alguns dos motivos.
Quanto ao crescimento da renda, seu ritmo atual, cerca de 3% ao ano acima da inflação, é bem inferior ao de períodos recentes e insuficiente para sustentar fortes altas no consumo. O contexto, vale lembrar, é de elevado endividamento das famílias.
Neste ano, o IBGE passou a divulgar uma nova pesquisa, a Pnad Contínua, abrangendo 3.464 municípios. De acordo com essa métrica, o desempenho é melhor, com crescimento da população ocupada até o primeiro trimestre (o último dado disponível).
O mercado de trabalho, hoje, está em algum ponto entre morno e frio, a depender do observador.
Em qualquer caso, o mau desempenho evidente em outros indicadores --queda da confiança de empresas e consumidores, redução das intenções de investimento, estoques excessivos na indústria-- sugere que a situação dos empregos continuará a esfriar.
27 de junho de 2014
Editorial Folha de SP
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