Artigos - Globalismo
O supracitado Aleksandr Dugin não é um ideólogo, é um estrategista. Todavia, antes de aprofundarmo-nos sobre o que é ou o que pode ser estratégia, consideremos primeiro a situação na Ucrânia. Ou as tropas russas entrarão em território ucraniano após 9 de maio ou a Rússia contará com agentes secretos infiltrados no governo ucraniano para reestabelecer (ou manter) controle indireto do país. Se esta última estratégia for adotada, ela poderá proporcionar a Moscou uma nova maneira de causar danos à União Europeia desde dentro. O fato de que as estruturas clandestinas russas já estejam estabelecidas por toda a Europa é pouco reconhecido ou não recebe apreciação suficiente pelos analistas da área. A dependência energética que a Europa tem da Rússia é fato reconhecido, claro, mas isso é trivial se for comparar.
11 de maio de 2014
Jeffrey Nyquist
Tradução: Leonildo Trombela Junior
A entrada da Ucrânia na OTAN significa morte para a Rússia.
Alexander Prokhanov
Alexander Prokhanov
Na primeira fase do estabelecimento do Partido Comunista, Zyuganov (não sem minha participação e a participação de Prokhanov,...) tentou compreender e avaliar conceitualmente o componente nacional na ideologia soviética (nacional-bolchevismo); porém, as autoridades do Partido Comunista logo desistiram dessa iniciativa, ligando com algumas outras – provavelmente mais importantes – questões. Ainda assim, no nível da retórica e da reação primária, os comunistas russos falam como nacional-conservadores e às vezes como “monarquistas ortodoxos”.
Aleksandr Dugin, A Quarta Teoria Política
Aleksandr Dugin, A Quarta Teoria Política
O supracitado Aleksandr Dugin não é um ideólogo, é um estrategista. Todavia, antes de aprofundarmo-nos sobre o que é ou o que pode ser estratégia, consideremos primeiro a situação na Ucrânia. Ou as tropas russas entrarão em território ucraniano após 9 de maio ou a Rússia contará com agentes secretos infiltrados no governo ucraniano para reestabelecer (ou manter) controle indireto do país. Se esta última estratégia for adotada, ela poderá proporcionar a Moscou uma nova maneira de causar danos à União Europeia desde dentro. O fato de que as estruturas clandestinas russas já estejam estabelecidas por toda a Europa é pouco reconhecido ou não recebe apreciação suficiente pelos analistas da área. A dependência energética que a Europa tem da Rússia é fato reconhecido, claro, mas isso é trivial se for comparar.
A grande estratégia de Moscou sempre foi multidimensional. Para atingir um objetivo, os russos não seguem uma única linha de ação; eles seguem simultaneamente várias linhas paralelas e opostas em sua abordagem. Isto torna difícil para os estrategistas ocidentais anteciparem os movimentos da Rússia. Novamente a Rússia nos desconcerta. Continuamos iludidos e impossibilitados de perceber que a Rússia possui instrumentos clandestinos desenvolvidos durante o regime soviético que são indisputavelmente mais sofisticados.
Não temos nada que possa competir com eles. Para se ter ideia, existe a penetração econômica e financeira da Europa pelos negócios e empresas de fachada da Rússia. Também há o papel desempenhado pelo crime organizado russo que apela ao expediente de chantagens e lavagem de dinheiro.
Não obstante, há, assim como havia na Guerra Fria, as clássicas redes de agentes secretos empenhados na infiltração de governos e no exercício de influência política. Levando em consideração todos esses elementos, enquanto os países europeus não souberem quais possibilidades o governo russo realmente – e clandestinamente – goza, nunca haverá uma apreciação completa de como Moscou articula suas forças militares e usa sua influência diplomática.
Não temos nada que possa competir com eles. Para se ter ideia, existe a penetração econômica e financeira da Europa pelos negócios e empresas de fachada da Rússia. Também há o papel desempenhado pelo crime organizado russo que apela ao expediente de chantagens e lavagem de dinheiro.
Não obstante, há, assim como havia na Guerra Fria, as clássicas redes de agentes secretos empenhados na infiltração de governos e no exercício de influência política. Levando em consideração todos esses elementos, enquanto os países europeus não souberem quais possibilidades o governo russo realmente – e clandestinamente – goza, nunca haverá uma apreciação completa de como Moscou articula suas forças militares e usa sua influência diplomática.
Foi Clausewitz quem disse que a guerra é a continuação da política por outros meios (i.e. violentos). Foi Lênin que inverteu esse dito, dizendo que a política é a continuação da guerra por outros meios. A Revolução Bolchevique não foi apenas uma revolução política e social; ela significou uma revolução no pensamento estratégico que até hoje não foi devidamente apreciada. A vitória pode ser alcançada com uma combinação de meios militares e não militares. Ela pode ser alcançada por meio da sabotagem econômica, pela guerra de informações ou até mesmo pela corrupção do governo, da língua e da cultura.
As famosas palavras do velho estrategista chinês Sun Tzu podem servir de inspiração para uma nova e abrangente ciência estratégica. A estratégia se torna o deus governante de todos, o princípio de governança e a resposta oriental à política constitucional do Ocidente. Oh sim, mesmo que estejam em decadência, os Estados Unidos ainda são (pelo menos parcialmente) guiados pela Constituição. Já a Federação Russa é guiada pela sua política de longo alcance baseada nos princípios de Sun Tzu: “A arte da guerra é baseada em truques”, disse o chinês. “Portanto, quando estivermos prontos para atacar, devemos parecer incapazes. Quando usarmos nossas tropas devemos parecer inativos. Quando estivermos perto, devemos fazer o inimigo acreditar que estamos longe. Quando estivermos longe, devemos fazê-lo acreditar que estamos perto. Use armadilhas para atrair o inimigo. Finja desordem e o destrua-o.”
O brilhantismo de Sun Tzu reside no fato de que sua abordagem dialética do truque pode ser aplicada a qualquer conjunto de opostos. Sendo assim, poderíamos reescrever as palavras de Sun Tzu da seguinte maneira: “A arte da guerra é baseada em truques. Portanto, quando você é um comunista, você deve parecer que é um observante capitalista (e.g. Beijing). Quando você é um ateísta cínico, você deve parecer cristão (e.g. Putin). Quando você atacar um oponente usando sucedâneos islâmicos, você deve parecer estar sendo atacado por esses mesmos sucedâneos (e.g. Chechênia). Quando você possui supremacia nuclear estratégica (como possui a Rússia), você deve se mostrar como uma mera potência regional (é o que diz Obama sobre a Rússia). Use armadilhas para atrair o inimigo. Finja desordem e o destrua-o”.
A transposição de opostos que vão da dimensão espaço-temporal à dimensão ideológica esquerda-direita é apenas uma das possibilidades. Se foi possível Putin ter seu álibi checheno antes da destruição das Torres Gêmeas no 11 de setembro, também foi possível para ele ter um álibi cristão (prendendo as integrantes do Pussy Riot) no meio da derrocada cultural dos Estados Unidos. Enquanto o aquecimento global é usado como pretexto para sabotar as economias ocidentais, Putin, a fim de manter as aparências, diz acreditar no “resfriamento global”. Novamente, pode-se usar a analogia de um álibi. Dados esses exemplos, não podemos tomar as intenções declaradas de Moscou pelo valor de face. Então Moscou quer mesmo anexar a Ucrânia ou empurrá-la para os braços da Europa? Seria a própria Ucrânia um barril de veneno pronto para ser derramado sobre a Europa? Novamente Putin está criando seu álibi. Assim, quando a cultura ocidental se tornar gay, Putin não será culpado; quando se descobrir que o aquecimento global é um boato, Putin não será culpado; quando a Ucrânia for ajudada pela UE e se mostrar o canudo que sugará a Europa até à falência, Putin não será culpado. (Com efeito, ele será visto como o salvador da Europa.)
Sun Tzu sugeriu que a excelência na arte da guerra consiste em vencer sem precisar lutar. Para conseguir isso é necessário infiltrar o terreno inimigo e atrapalhar seus planos por meio de provocação, sabotagem e semeio de confusão. Deve-se desmoralizar a cultura, espalhar ideias irracionais por toda a intelligentsia e promover a ilegalidade e a bebedeira entre as classes profissionais trabalhadoras. Como disse Sun Tzu, “em todas as lutas, métodos diretos podem ser usados para dar início a uma batalha, mas métodos indiretos serão necessários para assegurar a vitória”.
É necessário saber para qual direção o inimigo marcha e é igualmente necessário que ele desconheça a sua. A melhor estratégia é aquela que é desconhecida pelos outros e o guerreiro mais efetivo é aquele que entra em terreno inimigo sem ser reconhecido. Para atingir qualquer objetivo, descreva a si mesmo como alguém cujo objetivo é inconcebível. Muitos serão capazes de impedi-lo. Entretanto, quem pensará que se deve fazer isso?
11 de maio de 2014
Jeffrey Nyquist
Tradução: Leonildo Trombela Junior
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