"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 15 de abril de 2014

FLERTE COM A RECESSÃO

SÃO PAULO - Os governantes culpam os céus. Falta chuva, a lavoura padece, a comida encarece, a inflação perturba, e as represas das águas de beber e de energizar se esvaziam, dizem. Mas a história não é bem essa. Muita areia e pouco caminhãozinho, os males do Brasil são.

Quando o mau clima restringe a oferta de alimentos, eles ficam mais caros e empurram o custo de vida, certo? Nem sempre. Depende da reação do consumidor.

O salário estagnado, a escassez de crédito na praça e a perspectiva de ficar desempregado promovem um certo tipo de comportamento. Se o tomate encareceu, evito o tomate. Se gastei mais no supermercado, deixo de ir ao cabeleireiro. O somatório desses ajustes domésticos inibe a escalada inflacionária.

A conduta selecionada, contudo, é diferente em momentos de baixo desemprego, acesso fácil aos empréstimos e alta dos vencimentos. Não deixo de comprar tomate nem de cortar o cabelo e coloco lenha na fogueira da inflação. O Brasil ainda está mais próximo desta situação hipotética que da descrita no parágrafo anterior.

O apetite pelo consumo também influencia o nível dos reservatórios, que é a diferença entre a água que entra e a que sai. Falta chuva, mas o quadro preocuparia menos se o consumo de água e energia não tivesse avançado rapidamente nos últimos anos, como efeito da alta na renda e no crédito dos brasileiros.

No caso da eletricidade e da água, entretanto, os preços ao consumidor não refletem o progressivo gargalo na oferta. Governos estaduais e o federal se endividam e arrocham empresas estatais para mascarar o efeito da cavalgada de custos. O cidadão não recebe estímulo para reduzir o consumo, e a situação piora.

O remédio, dizem os economistas mais informados, passa por anos de crescimento baixo, mas dificilmente por uma recessão. Será? Começo a ter dúvidas.

15 de abril de 2014
Vinicius Mota, Folha de SP
 

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