Os bancos centrais existem para combater a inflação, mas eis que o inimigo pode ser outro e espalhar perversidades equivalentes. Pode ser a deflação, uma renitente queda de preços, como ameaça acontecer agora na área do euro.
A deflação provoca distorções tão ou até maiores do que a inflação. A disseminada expectativa de queda de preços, como a que ocorre agora, provoca estagnação das vendas no varejo, porque o consumidor tende a adiar compras à espera de que os preços baixem. E o investidor também pisa nos freios, porque não enxerga aumento do mercado. Ou seja, a deflação aprofunda a recessão e o desemprego.
Para o setor público (governos), a deflação também é um problema porque os impostos são, na sua grande maioria, cobrados sobre os preços e preços em queda tendem a reduzir a arrecadação, o que é péssimo para países altamente endividados como na Europa.
Mas para todos os endividados, e não só os Tesouros, a deflação é uma encrenca, porque os passivos não são deflacionados na mesma proporção que os preços. Na prática, a baixa dos bens e serviços eleva as dívidas em termos relativos.
Na Europa, a deflação é especialmente perversa porque a melhor maneira de reativar as economias nacionais seria promover a desvalorização da própria moeda, que é um mecanismo cuja função é reduzir os salários (e demais rendas) em relação aos vigentes nas economias concorrentes. Como os países da área não podem desvalorizar a moeda nacional porque o euro é moeda comum, a única maneira de produzir o mesmo efeito seria derrubar os salários. Foi o que já fez a Alemanha, com a concordância dos sindicatos. No setor privado, o desemprego pode encarregar-se disso. Mas no setor público é bem mais difícil reduzir os vencimentos dos funcionários.
Sabe-se que a ameaça de deflação está aumentando na Europa não só porque os preços sobem bem menos, mas, também, porque o mercado financeiro passou a praticar juros baixíssimos, no momento de até 0,7% ao ano. Em março, como apontou segunda-feira a Eurostat, organismo encarregado das estatísticas econômicas, a inflação média do bloco foi 0,5% em termos anuais (veja o gráfico no Confira).
Ontem, o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, não escondeu sua preocupação com os estragos que podem ser causados pela deflação. Anunciou que estuda medidas de estímulo, "inclusive políticas monetárias não convencionais", que são providências da mesma natureza das tomadas nos últimos três anos pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), chamadas afrouxamento quantitativo. Consistem em emitir moeda para comprar títulos públicos e privados e, assim, injetar dinheiro na economia.
Na área do euro, essa resposta "não convencional" seria mais complicada do que foi nos Estados Unidos, porque os tais ajustes são assimétricos de país para país, o que provoca níveis também diferentes de variação de preços dentro da mesma área monetária.
O conjunto de países do euro é o maior comprador de produtos brasileiros (19,3% das exportações em 2013), à frente da China (19,0%) e dos Estados Unidos (10,3%). O aprofundamento da deflação e da recessão econômica provocaria um encolhimento ainda maior do já asfixiado mercado externo das empresas brasileiras.
A deflação provoca distorções tão ou até maiores do que a inflação. A disseminada expectativa de queda de preços, como a que ocorre agora, provoca estagnação das vendas no varejo, porque o consumidor tende a adiar compras à espera de que os preços baixem. E o investidor também pisa nos freios, porque não enxerga aumento do mercado. Ou seja, a deflação aprofunda a recessão e o desemprego.
Para o setor público (governos), a deflação também é um problema porque os impostos são, na sua grande maioria, cobrados sobre os preços e preços em queda tendem a reduzir a arrecadação, o que é péssimo para países altamente endividados como na Europa.
Mas para todos os endividados, e não só os Tesouros, a deflação é uma encrenca, porque os passivos não são deflacionados na mesma proporção que os preços. Na prática, a baixa dos bens e serviços eleva as dívidas em termos relativos.
Na Europa, a deflação é especialmente perversa porque a melhor maneira de reativar as economias nacionais seria promover a desvalorização da própria moeda, que é um mecanismo cuja função é reduzir os salários (e demais rendas) em relação aos vigentes nas economias concorrentes. Como os países da área não podem desvalorizar a moeda nacional porque o euro é moeda comum, a única maneira de produzir o mesmo efeito seria derrubar os salários. Foi o que já fez a Alemanha, com a concordância dos sindicatos. No setor privado, o desemprego pode encarregar-se disso. Mas no setor público é bem mais difícil reduzir os vencimentos dos funcionários.
Sabe-se que a ameaça de deflação está aumentando na Europa não só porque os preços sobem bem menos, mas, também, porque o mercado financeiro passou a praticar juros baixíssimos, no momento de até 0,7% ao ano. Em março, como apontou segunda-feira a Eurostat, organismo encarregado das estatísticas econômicas, a inflação média do bloco foi 0,5% em termos anuais (veja o gráfico no Confira).
Ontem, o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, não escondeu sua preocupação com os estragos que podem ser causados pela deflação. Anunciou que estuda medidas de estímulo, "inclusive políticas monetárias não convencionais", que são providências da mesma natureza das tomadas nos últimos três anos pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), chamadas afrouxamento quantitativo. Consistem em emitir moeda para comprar títulos públicos e privados e, assim, injetar dinheiro na economia.
Na área do euro, essa resposta "não convencional" seria mais complicada do que foi nos Estados Unidos, porque os tais ajustes são assimétricos de país para país, o que provoca níveis também diferentes de variação de preços dentro da mesma área monetária.
O conjunto de países do euro é o maior comprador de produtos brasileiros (19,3% das exportações em 2013), à frente da China (19,0%) e dos Estados Unidos (10,3%). O aprofundamento da deflação e da recessão econômica provocaria um encolhimento ainda maior do já asfixiado mercado externo das empresas brasileiras.
05 de abril de 2014
Celso Ming, O Estado de S.Paulo
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