O ministro da Fazenda acha que nada aconteceu após o rebaixamento do Brasil porque a bolsa subiu e o real se valorizou. Acredita que isso prova que a queda não teve a menor importância. É uma avaliação apressada. O mercado comemora o quadro político mais desfavorável para a presidente Dilma e compra ações das empresas, principalmente estatais, até porque elas estão baratas.
Estar a um degrau de perder o grau de investimento não é uma situação confortável. Se o Brasil descer mais um nível estará fora dos portfólios dos grandes investidores institucionais, que são quem realmente movimenta dinheiro grande. A gestão fiscal continua dando motivos de preocupação. Só para falar da última: o subsídio à energia já custou R$ 10 bilhões em três meses, quando o cálculo era de R$ 9 bilhões em um ano. O que o ministro deveria estar fazendo é o dever de casa para evitar o rebaixamento por outra agência e a confirmação da incerteza fiscal do Brasil. No primeiro bimestre, a receita líquida do governo aumentou 7,3%; as despesas subiram 15,5%.
As ações tinham caído demais e o real havia se desvalorizado muito, por isso era natural o refluxo. E é também costumeira a volatilidade em ano eleitoral. Os pregões oscilam na expectativa e ao sabor das pesquisas. Mas intenção de voto agora tem pouca consistência, já que a campanha não começou de fato. Quem está no poder tem mais exposição.
O mais óbvio é entender o que acontece na bolsa como uma recuperação depois da queda que a levou a 46 mil pontos. Vejam no gráfico o Ibovespa e o índice americano S&P 500. Aqui, caiu em três anos; lá, subiu. Não é comemoração antecipada de resultado eleitoral nem sinal de que as agências perderam influência.
A presidente Dilma já esteve em situação muito mais tranquila. A pesquisa CNI-Ibope, divulgada na semana passada, não tem intenção de voto, mas quando é olhada em detalhes revela que caiu desde junho a aprovação do governo, mesmo nas políticas que a propaganda oficial escolheu para serem o carro-chefe da campanha de reeleição. Na inflação, como já era esperado, 71% desaprovam. Mas na política de saúde - de onde saiu o candidato governista para o maior colégio e de onde o governo espera ganhar pontos com o Mais Médicos - a desaprovação chega a 77%. O favoritismo está em queda.
Por outro lado, a oposição ainda não conseguiu firmar uma alternativa forte. E isso, em parte, é decorrência de que estamos em abril. As histórias recentes das eleições mostram que em seis meses muita coisa acontece e tudo pode mudar.
O quadro econômico é desfavorável ao governo. Inflação alta e subindo, baixo crescimento, insatisfação com serviços públicos e denúncias de corrupção na Petrobras estão fazendo o governo perder apoio na classe média. Isso alimenta os rumores da volta de Lula como candidato, o que divide as hostes governistas.
Durante o ano, haverá outros momentos de volatilidade na bolsa, por especulações sobre as eleições. A intervenção do governo na gestão das estatais foi tão desastrosa que é de se esperar que as ações subam ou desçam na razão inversa da popularidade do governo.
A administração da política econômica não deveria estar olhando para o pregão e sim para o dever de casa. Tudo o que for feito certo este ano reduzirá o peso do próximo ano. Se a presidente for reeleita, ela herdará os problemas cuja solução está sendo protelada, como o do custo da energia. E não há nada pior do que um segundo mandato com o eleitorado achando que foi traído. A esperteza de deixar a fatura para 2015 poderá arruinar um segundo mandato, se ele ocorrer.
Estar a um degrau de perder o grau de investimento não é uma situação confortável. Se o Brasil descer mais um nível estará fora dos portfólios dos grandes investidores institucionais, que são quem realmente movimenta dinheiro grande. A gestão fiscal continua dando motivos de preocupação. Só para falar da última: o subsídio à energia já custou R$ 10 bilhões em três meses, quando o cálculo era de R$ 9 bilhões em um ano. O que o ministro deveria estar fazendo é o dever de casa para evitar o rebaixamento por outra agência e a confirmação da incerteza fiscal do Brasil. No primeiro bimestre, a receita líquida do governo aumentou 7,3%; as despesas subiram 15,5%.
As ações tinham caído demais e o real havia se desvalorizado muito, por isso era natural o refluxo. E é também costumeira a volatilidade em ano eleitoral. Os pregões oscilam na expectativa e ao sabor das pesquisas. Mas intenção de voto agora tem pouca consistência, já que a campanha não começou de fato. Quem está no poder tem mais exposição.
O mais óbvio é entender o que acontece na bolsa como uma recuperação depois da queda que a levou a 46 mil pontos. Vejam no gráfico o Ibovespa e o índice americano S&P 500. Aqui, caiu em três anos; lá, subiu. Não é comemoração antecipada de resultado eleitoral nem sinal de que as agências perderam influência.
A presidente Dilma já esteve em situação muito mais tranquila. A pesquisa CNI-Ibope, divulgada na semana passada, não tem intenção de voto, mas quando é olhada em detalhes revela que caiu desde junho a aprovação do governo, mesmo nas políticas que a propaganda oficial escolheu para serem o carro-chefe da campanha de reeleição. Na inflação, como já era esperado, 71% desaprovam. Mas na política de saúde - de onde saiu o candidato governista para o maior colégio e de onde o governo espera ganhar pontos com o Mais Médicos - a desaprovação chega a 77%. O favoritismo está em queda.
Por outro lado, a oposição ainda não conseguiu firmar uma alternativa forte. E isso, em parte, é decorrência de que estamos em abril. As histórias recentes das eleições mostram que em seis meses muita coisa acontece e tudo pode mudar.
O quadro econômico é desfavorável ao governo. Inflação alta e subindo, baixo crescimento, insatisfação com serviços públicos e denúncias de corrupção na Petrobras estão fazendo o governo perder apoio na classe média. Isso alimenta os rumores da volta de Lula como candidato, o que divide as hostes governistas.
Durante o ano, haverá outros momentos de volatilidade na bolsa, por especulações sobre as eleições. A intervenção do governo na gestão das estatais foi tão desastrosa que é de se esperar que as ações subam ou desçam na razão inversa da popularidade do governo.
A administração da política econômica não deveria estar olhando para o pregão e sim para o dever de casa. Tudo o que for feito certo este ano reduzirá o peso do próximo ano. Se a presidente for reeleita, ela herdará os problemas cuja solução está sendo protelada, como o do custo da energia. E não há nada pior do que um segundo mandato com o eleitorado achando que foi traído. A esperteza de deixar a fatura para 2015 poderá arruinar um segundo mandato, se ele ocorrer.
05 de abril de 2014
Miriam Leitão, O Globo
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