Sem responder às críticas e sem explicar a inegável crise do setor industrial nos últimos três anos, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, tentou desqualificar os comentários feitos pelo empresário Pedro Passos, presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), em entrevista publicada no Estado de domingo. O empresário, segundo o ministro, converteu-se em "militante de projeto político eleitoral da oposição" e suas críticas foram feitas fora do âmbito do debate. Não merecem, portanto, uma resposta. Foi uma pena ele ter escolhido esse caminho fácil.
Talvez tivesse produzido algo interessante, instrutivo e original, se tentasse responder com base em dados técnicos e em fatos. Afinal, o discurso econômico do governo tem sido muito ruim, do ponto de vista técnico, e em geral se esfarela quando confrontado com os fatos - como taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), inflação muito longe da meta, contas externas em deterioração, contas públicas maquiadas de forma tosca e baixo nível de investimento público e privado
Mas o ministro preferiu evitar o confronto com as afirmações do empresário sobre a perda de credibilidade do governo, as prioridades erradas da política econômica, as causas do descompasso entre demanda e oferta e a necessidade de medidas urgentes para a elevação da produtividade. O ministro deveria ser capaz de tratar dessas questões. Afinal, foi responsável, durante os últimos três anos, pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - três áreas onde se acumularam resultados desastrosos.
Se o PIB tiver crescido 2,3% em 2013, a expansão econômica terá ficado em 6,1% em três anos, com média anual muito próxima de 2%, uma taxa humilhante em comparação com os padrões internacionais, mesmo numa fase de crise global. A produção industrial, pelos números conhecidos até agora, foi em 2013 quase 1% inferior à de 2010, último ano do governo anterior. A inflação se manteve muito perto de 6% e em 2014 continuará longe da meta de 4,5%. O superávit comercial caiu seguidamente e só se manteve em US$ 2,56 bilhões no ano passado graças ao agronegócio e à exportação fictícia de US$ 7,74 bilhões de plataformas de petróleo e gás.
Os setores sob responsabilidade do ministro - desenvolvimento, indústria e comércio exterior - compõem uma lista de fracassos e harmonizam-se muito bem com a coleção de fiascos econômicos acumulada em três anos pela presidente Dilma Rousseff.
Sem enfrentar críticas como a do presidente do Iedi, o ministro Fernando Pimentel se permite atribuir o baixo crescimento brasileiro a fatores externos, repetindo sem constrangimento aparente o blá-blá-blá habitual de seus companheiros de governo. "Analistas falam do Brasil como se a crise não existisse, como se devêssemos ter desempenho de atleta olímpico em meio à Amazônia", disse ele em entrevista ao jornal Valor. Não se sabe se corou ao pronunciar essa frase, mas é improvável.
Nenhum ministro brasileiro explicou até agora por que a crise afetou o Brasil tão cruelmente e permitiu, ao mesmo tempo, desempenho muito melhor a economias em desenvolvimento da Ásia e da América do Sul. Talvez porque tivessem governos mais competentes, mais sérios e menos propensos a gastar bilhões para estimular o consumo, quando o problema estava em outras áreas.
Depois de três anos sem brilho na chefia de uma pasta potencialmente muito importante, o ministro Pimentel deixa o posto para disputar o governo de Minas Gerais e ajudar a presidente Dilma Rousseff em sua campanha para a reeleição. Apresentado pela imprensa, na época de sua nomeação, como um futuro superministro, ele sai de Brasília sem um triunfo na política industrial e com resultados humilhantes na área do comércio exterior. Duplamente humilhantes, pelo resultado geral da balança e pelo rombo crescente no comércio de manufaturados. Mas há um lado positivo nessa história: imagine-se o resultado se ele tivesse acumulado a responsabilidade pela política agrícola.
11 de fevereiro de 2014
Editorial O Estado de S.Paulo
11 de fevereiro de 2014
Editorial O Estado de S.Paulo
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