"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

BLACK TADINHOS

 

Os "black blocs" foram tratados com benevolência, para não dizer simpatia, desde os protestos de junho. Artistas, políticos, intelectuais, publicitários e jornalistas foram condescendentes com depredações de prédios públicos, ataques a bancos, tentativas de linchamento de policiais etc., sempre partindo da premissa de que os vândalos estavam "mudando o país".
 
Caetano Veloso, ao vestir a máscara preta dias depois de manifestantes terem quebrado cinco agências bancárias, uma concessionária e um ônibus no Rio, tornou-se um símbolo da causa. Com a habitual profundidade, disse que, como um "velho baiano", achava que seria muito "bonito" se as pessoas saíssem mascaradas no Sete de Setembro.
 
Na esteira do compositor, atores como Wagner Moura, Mariana Ximenes e Camila Pitanga gravaram vídeo contra o que chamaram de prisões arbitrárias, dias depois de manifestantes indefesos jogarem coquetéis molotov no consulado americano e na Câmara do Rio. A glamorização do vandalismo prosseguiu com uma peça publicitária incentivando a "estética black bloc'" e com uma marchinha de Carnaval composta em homenagem a uma "menina black bloc'".
 
Mas não parou por aí.
 
Suplicy, sempre bonzinho, recebeu um deles em sua casa, dizendo querer entender a "tática" do movimento. Depois leu no Senado uma carta na qual o sujeito defendia a "reação efetiva" do povo. O ministro Gilberto Carvalho, preocupado em entender o "fenômeno social", quatro dias após um coronel da PM ter sido espancado, convidou a garotada para um "diálogo". O sociólogo Chico de Oliveira, afirmando fazer uma boa avaliação dos "black blocs", foi entusiasta: "Vamos ver se, com eles, a gente chacoalha essa sociedade conformista".
 
A família do cinegrafista Santiago Andrade sabe bem o que significam as expressões "reação efetiva", "fenômeno social" e "chacoalhar essa sociedade conformista".

13 de fevereiro de 2014
Rogério Gentile, Folha de São Paulo|

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