Números de emprego, salários e consumo são bons; mas não dá para melhorar sem crescer mais
DILMA ROUSSEFF ontem fez festa com os números do emprego. Publicou vários "tuítes", no Twitter, a respeito da baixa do desemprego, do aumento da ocupação e das várias melhorias qualitativas do mercado de trabalho. É tudo verdade.
A presidente comparava, de resto, os números de agora aos de 2003, "quando assumimos [o PT] o governo".
Nos últimos dois anos do governo FHC (2001-02) e nos dois primeiros de Lula (2003-04), a taxa de desemprego teve picos horríveis de 13%. O desemprego ainda flutuaria em torno de 10% até meados de 2007. Foi então que a taxa começou a descer a ladeira até chegar aos minúsculos 4,3% de dezembro passado, ou de 5,4% na média do ano, as menores da história conhecida (desde 2002).
O desemprego caiu ainda mais rapidamente depois da recessão de 2009, com o crescimento fenomenal e exorbitante de 7,5% de 2010, com o aumento do crédito, em particular do crédito concedido por bancos públicos. Mais adiante, a partir de 2011, o governo passaria a ter mais deficit, os juros básicos baixariam a níveis também historicamente baixos.
Foi também a partir de 2008 que a inflação se tornou persistentemente alta e chatinha. No mesmo ano, o país voltou a registrar deficit em conta-corrente (a comprar mais bens e serviços do que vendê-los no exterior). Inflação persistente, relativamente alta, e deficit em conta-corrente são sinais de algum excesso de consumo.
Não, não se pretende aqui dizer que desemprego baixo e salários melhores sempre acabam em inflação e deficit preocupantes. Em parte, porém, foi isso mesmo o que aconteceu.
A proporção precisa de desemprego e inflação é uma mistura da alquimia econômica praticamente impossível de calcular. Porém, ainda que incalculável e mesmo que não se acredite nessas taxas magicamente equilibradas, elas existem, como as bruxas. A prova do pudim é comê-lo. Descontadas eventuais desgraças econômicas (como choques de escassez, de petróleo ou comida, por exemplo), desemprego baixo além da conta dá em inflação.
Não se trata de uma maldição. É possível ter taxas menores de desemprego com inflação mais baixa, desde que a produtividade da economia seja maior (fazer mais com menos, fazer "mais barato"). Como aumentar a produtividade geral da economia é outra pesquisa quase mística, digamos, uma espécie de Santo Graal dos economistas. Mas, mesmo bem longe da perfeição, sabe-se o bastante sobre o assunto, sobre aumento de produtividade.
Investir em mais equipamentos e máquinas, de preferência tecnologicamente mais avançados, ajuda bem. Diminuir custos de transporte e outros relacionados com uma infraestrutura melhor ajuda bem. Para tanto, é preciso uma aplicação mais balanceada dos recursos da economia, uma dosagem melhor de consumo e investimento, dosagem que não sai bonitinha de uma planilha de cálculos, mas que existe, como as bruxas.
Temos exagerado para mais ou menos em todas as doses: gastos, juros, inflação, salários, investimento, poupança, crédito. A taxa de crescimento da economia é cadente, assim como a de consumo, salários e, agora, da população ocupada. Não, não houve desastre. Mas não é possível sair do chão puxando os cabelos, como temos tentado fazer.
DILMA ROUSSEFF ontem fez festa com os números do emprego. Publicou vários "tuítes", no Twitter, a respeito da baixa do desemprego, do aumento da ocupação e das várias melhorias qualitativas do mercado de trabalho. É tudo verdade.
A presidente comparava, de resto, os números de agora aos de 2003, "quando assumimos [o PT] o governo".
Nos últimos dois anos do governo FHC (2001-02) e nos dois primeiros de Lula (2003-04), a taxa de desemprego teve picos horríveis de 13%. O desemprego ainda flutuaria em torno de 10% até meados de 2007. Foi então que a taxa começou a descer a ladeira até chegar aos minúsculos 4,3% de dezembro passado, ou de 5,4% na média do ano, as menores da história conhecida (desde 2002).
O desemprego caiu ainda mais rapidamente depois da recessão de 2009, com o crescimento fenomenal e exorbitante de 7,5% de 2010, com o aumento do crédito, em particular do crédito concedido por bancos públicos. Mais adiante, a partir de 2011, o governo passaria a ter mais deficit, os juros básicos baixariam a níveis também historicamente baixos.
Foi também a partir de 2008 que a inflação se tornou persistentemente alta e chatinha. No mesmo ano, o país voltou a registrar deficit em conta-corrente (a comprar mais bens e serviços do que vendê-los no exterior). Inflação persistente, relativamente alta, e deficit em conta-corrente são sinais de algum excesso de consumo.
Não, não se pretende aqui dizer que desemprego baixo e salários melhores sempre acabam em inflação e deficit preocupantes. Em parte, porém, foi isso mesmo o que aconteceu.
A proporção precisa de desemprego e inflação é uma mistura da alquimia econômica praticamente impossível de calcular. Porém, ainda que incalculável e mesmo que não se acredite nessas taxas magicamente equilibradas, elas existem, como as bruxas. A prova do pudim é comê-lo. Descontadas eventuais desgraças econômicas (como choques de escassez, de petróleo ou comida, por exemplo), desemprego baixo além da conta dá em inflação.
Não se trata de uma maldição. É possível ter taxas menores de desemprego com inflação mais baixa, desde que a produtividade da economia seja maior (fazer mais com menos, fazer "mais barato"). Como aumentar a produtividade geral da economia é outra pesquisa quase mística, digamos, uma espécie de Santo Graal dos economistas. Mas, mesmo bem longe da perfeição, sabe-se o bastante sobre o assunto, sobre aumento de produtividade.
Investir em mais equipamentos e máquinas, de preferência tecnologicamente mais avançados, ajuda bem. Diminuir custos de transporte e outros relacionados com uma infraestrutura melhor ajuda bem. Para tanto, é preciso uma aplicação mais balanceada dos recursos da economia, uma dosagem melhor de consumo e investimento, dosagem que não sai bonitinha de uma planilha de cálculos, mas que existe, como as bruxas.
Temos exagerado para mais ou menos em todas as doses: gastos, juros, inflação, salários, investimento, poupança, crédito. A taxa de crescimento da economia é cadente, assim como a de consumo, salários e, agora, da população ocupada. Não, não houve desastre. Mas não é possível sair do chão puxando os cabelos, como temos tentado fazer.
31 de janeiro de 2014
Vinicius Torres Freire, Folha de SP
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