Espionagem — até de aliados — sempre fez parte da agenda de governos. Pelo menos daqueles que têm recursos para isso
Não há qualquer dúvida de que os Estados Unidos são a maior potência do planeta, tanto na área financeira como sob o ponto de vista militar. Mas essa posição confortável tem óbvias limitações, principalmente no caso de um país que também se orgulha de seu regime democrático, inalterado desde o berço.
Por isso mesmo, é preciso dar atenção a uma denúncia, feita esta semana pela chanceler da Alemanha Federal, Angela Merkel. Do alto de suas muletas, necessárias devido a um acidente de esqui, ela soltou o verbo esta semana no Parlamento alemão contra o poderoso aliado, devido ao seu programa de espionagem em massa, do qual não escapam aliados como a Alemanha.
O discurso de Merkel pode ser resumido a um trecho irrespondível: “As ações nas quais o fim justifica os meios, nas quais se faz tudo o que é possível tecnicamente, violam a confiança e semeiam a desconfiança. O resultado final não é mais segurança, e sim menos.”
São belas palavras. Podemos esperar, talvez com uma certa dose de ingenuidade, que já representem um limite para as políticas de segurança de outros aliados de Washington — como a própria Alemanha, naturalmente. Mas, na ausência de provas em contrário, palmas para a chanceler. Ela incluiu o Reino Unido em seu protesto contra a espionagem de aliados e acusou as duas potências numa especulação que não parece imprópria: “Será certo que não se trate só de se defender de ameaças terroristas, mas também de obter vantagens sobre seus aliados?”
Ela talvez terá alguma resposta hoje mesmo, quando receberá em Berlim o secretário de Estado americano, John Kerry. Mas, dado o caráter delicado da situação — que talvez possa ser definida como uma briga de velhos amigos —, é possível que os americanos prefiram deixar o assunto esfriar até uma visita de Merkel a Washington, que deverá acontecer dentro de alguns meses.
Diz um velho ditado: “Amigos, amigos, negócios à parte.” É preciso não esquecer que a espionagem — até de amigos — sempre fez parte da agenda de governos. Pelo menos daqueles que têm recursos para isso.
Não há qualquer dúvida de que os Estados Unidos são a maior potência do planeta, tanto na área financeira como sob o ponto de vista militar. Mas essa posição confortável tem óbvias limitações, principalmente no caso de um país que também se orgulha de seu regime democrático, inalterado desde o berço.
Por isso mesmo, é preciso dar atenção a uma denúncia, feita esta semana pela chanceler da Alemanha Federal, Angela Merkel. Do alto de suas muletas, necessárias devido a um acidente de esqui, ela soltou o verbo esta semana no Parlamento alemão contra o poderoso aliado, devido ao seu programa de espionagem em massa, do qual não escapam aliados como a Alemanha.
O discurso de Merkel pode ser resumido a um trecho irrespondível: “As ações nas quais o fim justifica os meios, nas quais se faz tudo o que é possível tecnicamente, violam a confiança e semeiam a desconfiança. O resultado final não é mais segurança, e sim menos.”
São belas palavras. Podemos esperar, talvez com uma certa dose de ingenuidade, que já representem um limite para as políticas de segurança de outros aliados de Washington — como a própria Alemanha, naturalmente. Mas, na ausência de provas em contrário, palmas para a chanceler. Ela incluiu o Reino Unido em seu protesto contra a espionagem de aliados e acusou as duas potências numa especulação que não parece imprópria: “Será certo que não se trate só de se defender de ameaças terroristas, mas também de obter vantagens sobre seus aliados?”
Ela talvez terá alguma resposta hoje mesmo, quando receberá em Berlim o secretário de Estado americano, John Kerry. Mas, dado o caráter delicado da situação — que talvez possa ser definida como uma briga de velhos amigos —, é possível que os americanos prefiram deixar o assunto esfriar até uma visita de Merkel a Washington, que deverá acontecer dentro de alguns meses.
Diz um velho ditado: “Amigos, amigos, negócios à parte.” É preciso não esquecer que a espionagem — até de amigos — sempre fez parte da agenda de governos. Pelo menos daqueles que têm recursos para isso.
31 de janeiro de 2014
Luiz Garcia, O Globo
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