A visita da presidente da República, Dilma Rousseff, ao presidente da Federação Internacional de Futebol (Fifa), Joseph Blatter, em Zurique, já estava programada.
O que a presidente não contava era com Curitiba.
O que a presidente não contava era com Curitiba.
Atrasada na entrega de um dos 12 estádios do Mundial, a Arena da Baixada, a capital do Paraná levou a organização da Copa do Mundo a uma situação insustentável: pela primeira vez, desde que as arenas começaram a ser erguidas, a Fifa deu ultimato a uma das cidades sedes, ameaçando Curitiba de exclusão do torneio.
Dilma não contava com o passo em falso e, assim, permaneceu:
como se nada estivesse acontecendo. Na visita a Blatter, na sede da entidade máxima do futebol, a presidente ignorou os problemas de organização da Copa. Em seu breve pronunciamento, Dilma não mencionou a Arena da Baixada e repetiu o bordão publicitário "Copa das copas" cinco vezes num discurso de 12 parágrafos. "Vocês serão recebidos de braços abertos. Estamos preparados. O governo terá todo o empenho para que essa seja a Copa das copas", insistiu.
Antes de encerrar, disse ainda que "estádios são obras relativamente simples" e que o governo está se empenhando também em "aeroportos, portos e todas as obras necessárias".
Tanta suavidade parece ter contagiado o presidente da Fifa, Joseph Blatter. Ao contrário das últimas vezes, quando demonstrou preocupação com o ritmo dos estádios, Blatter rendeu-se ao "jeitinho brasileiro": "Não haverá problemas. No fim, tudo se resolve, principalmente no Brasil". A ironia da coisa está no comportamento de Blatter. Em entrevista recente, o presidente da Fifa chegou a dizer que o Brasil é o mais atrasado para um Mundial desde que ele assumiu a entidade.
Encerrada a reunião entre o presidente da Fifa e a do Brasil, muito provavelmente como parte do "pacote Copa do Mundo", Dilma — ou sua assessoria — interagiu com três figuras conhecidas do futebol brasileiro por meio de uma rede social, os jogadores Neymar e Kaká, e o ex-atacante Ronaldo Fenômeno.
Mas a estratégia de promover a Copa nas redes sociais não funcionou.
Antes de encerrar, disse ainda que "estádios são obras relativamente simples" e que o governo está se empenhando também em "aeroportos, portos e todas as obras necessárias".
Tanta suavidade parece ter contagiado o presidente da Fifa, Joseph Blatter. Ao contrário das últimas vezes, quando demonstrou preocupação com o ritmo dos estádios, Blatter rendeu-se ao "jeitinho brasileiro": "Não haverá problemas. No fim, tudo se resolve, principalmente no Brasil". A ironia da coisa está no comportamento de Blatter. Em entrevista recente, o presidente da Fifa chegou a dizer que o Brasil é o mais atrasado para um Mundial desde que ele assumiu a entidade.
Encerrada a reunião entre o presidente da Fifa e a do Brasil, muito provavelmente como parte do "pacote Copa do Mundo", Dilma — ou sua assessoria — interagiu com três figuras conhecidas do futebol brasileiro por meio de uma rede social, os jogadores Neymar e Kaká, e o ex-atacante Ronaldo Fenômeno.
Mas a estratégia de promover a Copa nas redes sociais não funcionou.
Com frases mecânicas por parte da presidente e respostas quase robotizadas dos craques brasileiros, o que se viu foi:
"Agora, quero saber do @KAKA, a espera pela #CopaDasCopas agita o mundo todo, não?" e "Sim, @dilmabr, nunca uma Copa vendeu tantos ingressos antecipadamente". Os diálogos acabaram irritando os internautas, que ironizaram o slogan "Copa das copas", questionando quando o Brasil será "o país dos países", e perguntaram se a presidente estava convocando Kaká, por enquanto fora dos planos do técnico Luiz Felipe Scolari.
"Os estádios são obras relativamente simples. (O governo) fará todo o empenho para ser a Copa das copas. Isso inclui estádios, aeroportos, portos e todas as obras necessárias para que a gente seja o país que bem recebe todos que vão nos visitar"
Dilma Rousseff
Análise da notícia
Em campo, a distorção
ALEXANDRE BOTÃO
Cunhado no início dos anos 1980, dentro de uma Apple ainda microcósmica, o termo "campo de distorção da realidade" nasceu como piada interna. Steve Jobs, em sua pirotecnia — carisma, vá lá —, adornava uma história ou um produto de tal modo que criava um "campo de distorção" em torno dela/dele. Assim, Jobs conseguia fazer com que empregados e, de carona, consumidores acreditassem nos superpoderes da companhia. Mesmo quando não havia bulhufas.
Aplicada à Apple, a percepção é engraçadinha. Fora dali, soa ingênua.
"Os estádios são obras relativamente simples. (O governo) fará todo o empenho para ser a Copa das copas. Isso inclui estádios, aeroportos, portos e todas as obras necessárias para que a gente seja o país que bem recebe todos que vão nos visitar"
Dilma Rousseff
Análise da notícia
Em campo, a distorção
ALEXANDRE BOTÃO
Cunhado no início dos anos 1980, dentro de uma Apple ainda microcósmica, o termo "campo de distorção da realidade" nasceu como piada interna. Steve Jobs, em sua pirotecnia — carisma, vá lá —, adornava uma história ou um produto de tal modo que criava um "campo de distorção" em torno dela/dele. Assim, Jobs conseguia fazer com que empregados e, de carona, consumidores acreditassem nos superpoderes da companhia. Mesmo quando não havia bulhufas.
Aplicada à Apple, a percepção é engraçadinha. Fora dali, soa ingênua.
Ou assustadora, a depender do grau de consciência do Jobs da vez. Na terça-feira, a Fifa desembarcou no campo de futevôlei da Arena da Baixada e foi embora sacodindo poeira e deixando ultimato real — o primeiro a uma das sedes da Copa. No dia seguinte, manifestantes protestaram do lado de fora do estádio, na inauguração da Arena das Dunas, enquanto Dilma distribuía pontapé inicial lá dentro.
Quem, no Planalto, insistiu em fazer do discurso de ontem da presidente da República uma hashtag anêmica e ainda acreditou que chegara a ideia brilhante ao orquestrar um Twitter-marionete com Neymar e Kaká prestou desserviço à chefe de Estado (e à própria chefe, claro).
Como resultado, nem a estreia da presidente em outra rede social, essa dedicada à publicação de vídeos, escapou da revolta dos usuários, que bradaram, ainda que protocolarmente, por "escolas, hospitais, segurança...".
No fim das contas, o erro de quem vendeu agenda positiva na web resume-se a uma ironia. O "campo de distorção da realidade" original só funcionou (e funciona até hoje) porque tem torcida literalmente fanática, os fanboys. Já a torcida da Copa do Mundo, quem diria, não é dada a um fanatismo tão cego assim...
Quem, no Planalto, insistiu em fazer do discurso de ontem da presidente da República uma hashtag anêmica e ainda acreditou que chegara a ideia brilhante ao orquestrar um Twitter-marionete com Neymar e Kaká prestou desserviço à chefe de Estado (e à própria chefe, claro).
Como resultado, nem a estreia da presidente em outra rede social, essa dedicada à publicação de vídeos, escapou da revolta dos usuários, que bradaram, ainda que protocolarmente, por "escolas, hospitais, segurança...".
No fim das contas, o erro de quem vendeu agenda positiva na web resume-se a uma ironia. O "campo de distorção da realidade" original só funcionou (e funciona até hoje) porque tem torcida literalmente fanática, os fanboys. Já a torcida da Copa do Mundo, quem diria, não é dada a um fanatismo tão cego assim...
Correio Braziliense
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