Para Joseph Stiglitz, desaceleração global da economia explica ‘em parte’ o resultado
- (A contração brasileira acontece) num contexto global de desaceleração. Tudo está relacionado. Mas isso não explica completamente o Brasil. Não acho que se possa dizer que foi só por causa de fatores externos, mas sim que fatores externos com problemas internos podem levar a isso – disse o economista.
A percepção de Stiglitz em relação à economia brasileira é, em geral, boa. Segundo ele, houve um período de alta de preços na commodities em que vários países exportadores se beneficiaram, como o Brasil. Mas para ele, o sucesso do Brasil “vai além disso” e o Brasil não exporta apenas minérios.
- Cada vez que você sobe num avião nos EUA, é um Embraer – salientou.
Mas o prêmio Nobel também não escondeu sua surpresa com o tamanho da contração, que ele mesmo não sabe como explicar. Iniciou a entrevista perguntando aos jornalistas brasileiros: "E vocês, o que acham que está acontecendo?"
- As pessoas sempre disseram que o Brasil é o país do futuro. Mas acho que esse é um momento especialmente difícil para a economia global. Europa está em recessão, Estados Unidos estão em estagnação, China desacelera. Para mim, a surpresa é o tamanho da contração no Brasil. Mas devo dizer que não entendo totalmente. Estou um pouco surpreso – afirmou.
O economista lembrou que o Brasil foi afetado pela entrada e saída de capitais – o que desestabiliza economias e teve um impacto negativo. O Brasil aparentemente foi um dos países que mais sofreu com a política americana, de acordo com Stiglitz. A maior crítica do economista vai para o sistema financeiro brasileiro que, segundo ele, "tem sido uma preocupação há tempo".
- O Brasil vai ter que eventualmente pensar em reformar seu sistema financeiro. Vocês têm um sistema com taxas de juros reais muito, muito altas no sistema bancário, e taxas de juros mais razoáveis no BNDES. Portanto, têm um mercado financeiro muito segmentado. As taxas de juros que cobram no sistema bancário privado é uma das maiores do mundo! Isso, normalmente, não é uma boa forma de administrar o sistema financeiro - sustentou.
A diminuição dos estímulos monetários nos Estados Unidos (que o mercado chama de "tapering") "teve maior efeito no Brasil do que em outros países". Alguns analistas estão prevendo depreciação do real em 2014 por conta disso. Stiglitz não quis falar da inflação brasileira, alegando que não estudou o caso do país.
Debate sobre gastos com eventos é positivo
Perguntado se o Brasil não deveria estar crescendo muito mais por conta de investimentos com Copa do Mundo e Olimpíadas, Stiglitz concordou que, frequentemente, as construções para estes eventos incentivam a economia. Mas ele elogiou o debate acirrado no Brasil sobre os gastos públicos com as competições esportivas.
- O debate no Brasil sem sido mais vivo do que em outros países sobre se esta (Copa do Mundo e Olimpíadas) é a melhor forma de gastar dinheiro. E isso pode ter limitado o montante dos gastos. Na minha opinião, é um debate saudável, porque acho que, em outros países, houve período de crescimento. A previsão padrão é de que depois das Olimpíadas, tem crise. (risadas).
Stiglitz disse que sediar Copa ou Olimpíadas, pode ser bom ou ruim para a economia. Alguns países usaram isso como oportunidade para fazer investimentos que servem de base para crescimento econômico futuro. Outros, não.
- Outros países simplesmente construíram estádios e casas no lugar errado ou que não são usadas - um desperdício de recursos. Mas em alguns países, o entusiasmo ligado aos Jogos Olímpicos criou um otimismo que resultou em investimento em outras áreas. É um pouco incomum, mas há casos
03 de dezembro de 2013
Debora Berlinck - O Globo
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