SÃO PAULO - À primeira vista, o povo enlouqueceu. Segundo o Datafolha, 59% dos brasileiros acham que a inflação vai aumentar e 43% apostam na alta do desemprego. Não obstante, 56% creem que sua situação econômica pessoal vai melhorar. Como conciliar essas asserções aparentemente contraditórias?
Meu palpite é o de que a explicação está não na economia, mas na psicologia, mais especificamente nas tinturas com as quais encaramos o futuro. Apesar da exuberância de temperamentos humanos, há entre nós uma tendência para o otimismo local e o pessimismo global.
No plano pessoal, nutrimos a mais generosa das predisposições. É o que os psicólogos chamam de viés da superioridade ilusória ou efeito lago Wobegon, "um lugar onde todas as mulheres são fortes, todos os homens, bonitos, e todas as crianças estão acima da média".
Temos uma confiança pouco razoável em nós mesmos e nossas capacidades. Isso se traduz em paradoxos estatísticos como o fato de 87% dos alunos de MBA de Stanford julgarem sua performance acadêmica acima da mediana da escola ou 93% dos americanos acreditarem que são motoristas mais hábeis que a média. Num estudo, pacientes de câncer se revelaram mais otimistas com seu futuro do que os controles saudáveis.
Nas atividades em que nossa performance afeta o resultado, é útil nutrir autoconfiança. Se eu imaginar que consigo realizar uma tarefa, tenho mais chance de sucesso do que se achar que fracassarei logo de cara.
Na esfera global, isto é, em relação a coisas sobre as quais não temos nenhum controle, a lógica se inverte. Aqui, leva vantagem quem se prepara para o pior, ou seja, o pessimista. Se seu catastrofismo não se confirma, ele fez papel de bobo, mas, se a cautela extra era motivada, ela pode ter-lhe garantido a descendência.
Alguns séculos de civilização e aulas de matemática não bastaram para mudar essa visão de mundo.
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