A despeito de suas debilidades, aliás, desde sua constituição decorrentes da reserva do poder de veto reservada a cinco Estados, a ONU não se libertou até agora dessa mácula.
Contudo, nela continua a existir a tribuna de caráter mundial da qual o Brasil tem o privilégio de ocupar na abertura dos trabalhos da Assembleia Geral, como legado de um alegretense que reunia ao talento a bravura e a ambos o fascínio de sua personalidade de escol: a Osvaldo Aranha se deve esse prerrogativa. Isto posto, nada mais natural que nessa ocasião nosso país seja representado pelo chefe do Estado.
Não faz muito tempo foi amplamente divulgado que a senhora presidente pensava em suspender a viagem aos Estados Unidos a convite daquele país e sem demora a suspensão foi convertida em cancelamento. Ao mesmo tempo, foi descoberto o acesso de fontes americanas a assuntos referentes ao nosso país, fato objeto de ampla publicidade.
Ambas as ocorrências foram noticiadas reiteradamente como alvo do discurso a ser proferido pela senhora presidente na oração que deveria pronunciar ao ser aberta a Assembleia Geral, o que foi confirmado. Ocorre que, a novidade descoberta não se sabe se pela senhora presidente, se pelo Itamaraty ou pelo inominado assessor especial da presidência, de novidade não tinha nada.
O tom pouco educado e inadequado do discurso é tentativa de exibir uma suposta valentia, útil apenas para fins internos e eleitoreiros
De modo que até a xingação, aliás, anunciada antes do discurso da Assembleia Geral e por todos os meios de comunicação e depois confirmada, não surpreendeu a ninguém; curiosamente foi publicado sem que nenhuma autoridade americana sequer de média importância que fosse, estivesse presente quando do discurso; para que se seu teor era de todos de antemão conhecido?
O tom pouco educado e inadequado do discurso é tentativa de exibir uma suposta valentia, útil apenas para fins internos e eleitoreiros. O Brasil perdeu uma oportunidade de falar para o mundo.
Nesta altura o que me parece de particular importância é saber se o Itamaraty inspirou ou acompanhou o plano, ou se foi ele concebido pela senhora presidente com ou sem a colaboração do assessor especial, ainda que, qualquer que seja a resposta, o fato é de suma gravidade; contudo, o interesse nacional reclama que esse ponto seja esclarecido. Se o Itamaraty tinha conhecimento mais diminuído fica ele, fenômeno que tem sido apontado particularmente por diplomatas de alta expressão.
Depois da xingação veio à louvação. A senhora presidente prosseguiu fazendo o elogio do seu próprio governo com a pretensão de incentivar investimentos estrangeiros. Com todas as vênias, parece-me que o expediente chega às raias da infantilidade, até porque os eventuais investidores além de cientes da situação interna e externa do país, seguramente são leitores, entre outras publicações de circulação internacional, do The Economist. Em síntese, o discurso proferido em Nova York se destinava à pretendida reeleição. Convém lembrar que, não faz muito, a senhora presidente declarou sem rebuços que na campanha ela seria uma “fera”.
01 de outubro de 2013
Paulo Brossard
Fonte: Zero Hora
Nenhum comentário:
Postar um comentário