Em entrevista ao GLOBO, economista americano diz que é preciso eliminar o déficit fiscal. Especialista em Brasil, ele afirma que programa de concessões causa incertezas no setor privado
Professor emérito da Universidade de Columbia e especialista em Brasil, o americano Albert Fishlow critica o baixo nível de investimentos no Brasil e diz que os programas de concessão do governo federal não deslancham porque falta confiança do setor privado. Fishlow participa, na noite desta segunda-feira, da série de conferências "As metamorfoses do Brasil Contemporâneo", promovida pelo Ibmec Conference.
Como vê e a decisão do Fed para o Brasil e emergentes?
Foi muito positivo, mas ainda há incertezas no futuro se os EUA conseguirão fechar o Orçamento.
Foi um alívio passageiro, então?
Isso mesmo.
Como o senhor avalia as ações do governo brasileiro para tentar aumentar os investimentos na economia?
Pelo resultado, não estou vendo ainda qualquer consequência. Uma coisa é prometer uma taxa de investimento daqui a poucos anos de 24% (do PIB), é o que dizem os relatórios do Ministério da Fazenda, a mesma coisa o BNDES. Mas não vi ainda esses investimentos ocorrendo.
O que tem travado os investimentos?
No Brasil, temos uma análise imperfeita dos anos de crescimento do governo Lula. Evidentemente, o que foi central na expansão foi o boom de commodities e isso está deixado de lado como se não fosse parte da decisão, como se tudo fosse fruto de decisões internas e de um aumento de apenas 2% na participação do investimento no PIB. Então, acho que esse é o problema fundamental. O Chile está com investimento de 26% do PIB, o Peru, 25%, o México, cerca de 21%, além da Índia com 35% e a China, com 45%.
O que foi subestimado no governo Lula?
O que foi subestimado foi o fato de que o consumo foi o elemento, foi o motor da economia e isto foi fácil, porque os termos de troca operaram em favor da economia e permitiram o aumento da renda individual.
O que deveria ter sido feito de outra forma?
Primeiro, a eliminação do déficit fiscal e a utilização do dinheiro para poupar. O governo poderia investir com esses recursos, como foi feito no Chile e como está sendo feito nos outros países.
Como o senhor avalia o programa de concessões do governo Dilma?
Os investimentos não têm deslanchado porque o setor privado não tem a confiança no futuro e ninguém vai fazer um investimento de 20 anos enquanto se pode investir nos bônus governamentais, pagando quase a mesma coisa. Não tem confiança e a taxa de retorno não é suficiente para tratar da incerteza ao longo do tempo.
O senhor compartilha da opinião da revista “The Economist” de que o Brasil pode ter “estragado tudo”?
A culpa é da própria “Economist”. Eles deram a ideia do voo para um outro planeta, enquanto de fato não havia investimento. Foi um problema de análise da “Economist” e agora eles estão culpando o Brasil.
01 de outubro de 2013
Clarice Spitz - O Globo
Como vê e a decisão do Fed para o Brasil e emergentes?
Foi muito positivo, mas ainda há incertezas no futuro se os EUA conseguirão fechar o Orçamento.
Foi um alívio passageiro, então?
Isso mesmo.
Como o senhor avalia as ações do governo brasileiro para tentar aumentar os investimentos na economia?
Pelo resultado, não estou vendo ainda qualquer consequência. Uma coisa é prometer uma taxa de investimento daqui a poucos anos de 24% (do PIB), é o que dizem os relatórios do Ministério da Fazenda, a mesma coisa o BNDES. Mas não vi ainda esses investimentos ocorrendo.
O que tem travado os investimentos?
No Brasil, temos uma análise imperfeita dos anos de crescimento do governo Lula. Evidentemente, o que foi central na expansão foi o boom de commodities e isso está deixado de lado como se não fosse parte da decisão, como se tudo fosse fruto de decisões internas e de um aumento de apenas 2% na participação do investimento no PIB. Então, acho que esse é o problema fundamental. O Chile está com investimento de 26% do PIB, o Peru, 25%, o México, cerca de 21%, além da Índia com 35% e a China, com 45%.
O que foi subestimado no governo Lula?
O que foi subestimado foi o fato de que o consumo foi o elemento, foi o motor da economia e isto foi fácil, porque os termos de troca operaram em favor da economia e permitiram o aumento da renda individual.
O que deveria ter sido feito de outra forma?
Primeiro, a eliminação do déficit fiscal e a utilização do dinheiro para poupar. O governo poderia investir com esses recursos, como foi feito no Chile e como está sendo feito nos outros países.
Como o senhor avalia o programa de concessões do governo Dilma?
Os investimentos não têm deslanchado porque o setor privado não tem a confiança no futuro e ninguém vai fazer um investimento de 20 anos enquanto se pode investir nos bônus governamentais, pagando quase a mesma coisa. Não tem confiança e a taxa de retorno não é suficiente para tratar da incerteza ao longo do tempo.
O senhor compartilha da opinião da revista “The Economist” de que o Brasil pode ter “estragado tudo”?
A culpa é da própria “Economist”. Eles deram a ideia do voo para um outro planeta, enquanto de fato não havia investimento. Foi um problema de análise da “Economist” e agora eles estão culpando o Brasil.
01 de outubro de 2013
Clarice Spitz - O Globo
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