Após ação de Temer, presidente do Senado promete calma na discussão
Lula admite conversa com senadores sobre o projeto, mas nega estar engajado na aprovação do texto de Dornelles
A cúpula do PMDB informou à presidente Dilma Rousseff que o projeto que confere autonomia operacional ao Banco Central não deve ser votado neste ano.
O próprio defensor da ideia, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fez chegar ao Palácio do Planalto o recado.
A pedido da presidente, seu vice, Michel Temer (PMDB-SP), conversou com Renan sobre o tema.
O senador alagoano prometeu tratar o assunto com calma e sinalizou que entendia as "preocupações" do governo, contrário ao projeto.
No entendimento de assessores presidenciais, Renan decidiu pautar o projeto para votação no Senado por estar insatisfeito com o governo. Para contornar o mal-estar, Dilma deve chamá-lo para uma conversa.
O presidente do Senado nutre a expectativa de indicar um aliado, o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), para o Ministério da Integração Nacional depois de Fernando Bezerra, do PSB, pedir demissão.
A presidente, contudo, resolveu indicar um interino para o cargo --o engenheiro Francisco Teixeira, que ocupava anteriormente a função de secretário de Infraestrutura Hídrica da pasta.
A decisão acabou frustrando o grupo do peemedebista.
Agora, a presidente deve informar a Renan que pretende indicar Vital do Rêgo para a pasta na reforma ministerial que fará no final deste ano ou início do próximo.
Dilma também chamará o senador da Paraíba para uma audiência.
Na semana passada, Renan surpreendeu o Planalto ao anunciar que colocaria em votação projeto substitutivo do senador Francisco Dornelles (PP-RJ) conferindo autonomia para o BC, com mandato fixo para sua diretoria.
Ontem, a coluna "Painel" informou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou a senadores simpatia pela proposta.
Depois de conversar com Dilma, ontem, Lula disse que, se fosse favorável a aprovar no Legislativo a autonomia do BC, teria feito a proposta em seu governo.
"Vocês [jornalistas] me conhecem, eu fui presidente da República por oito anos. Se eu fosse favorável, eu teria feito", afirmou, acrescentando que disse apenas aos senadores Renan, Dornelles e Lindbergh Farias (PT-RJ), também engajado na ideia, que "gostaria de conversar com eles" sobre o tema.
Dois conselheiros de Lula são defensores da proposta. O ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda) e o ex-presidente do BC Henrique Meirelles chegaram a defendê-la, nos bastidores.
"Qual é a lógica? Ninguém está debatendo isso hoje. Acabou esse debate. Não sei por que exigir mais autonomia do Banco Central do que ele tem. Isso é um absurdo. Eu fiquei oito anos na Presidência [e não fiz esta proposta]", continuou.
"Mesmo que eu fosse favorável ou que eu fosse contra não diria minha opinião porque é um problema de governo. Eu já fui governo. Se eu tivesse que fazer, eu faria quando estive na Presidência. Eu não posso deixar de ter feito uma coisa para dar palpite no que os outros devem fazer", disse Lula ontem.
31 de outubro de 2013
VALDO CRUZ, TAI NALON e RANIER BRAGON - Folha de São Paulo
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