"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

"A EUROPA DE ANGELA MERKEL"

Em seu terceiro mandato, chanceler alemã tem forte respaldo a sua política de austeridade como melhor opção para resolver a crise da zona do euro
 

A grande vitória de Angela Merkel e de seu partido CDU (com a aliada CSU) significa um forte respaldo do eleitorado à sua maneira pragmática e firme de conduzir a Alemanha. Mas representa também o triunfo de sua visão da Europa e, particularmente, da crise da zona do euro. Ao iniciar o terceiro mandato consecutivo no comando da maior economia europeia, a política oriunda da antiga RDA (comunista) reafirma a ênfase nas políticas de austeridade como a melhor alternativa para os países mais afundados na crise do euro, como Grécia, Portugal e Espanha.
 
Por cinco cadeiras, o partido de centro-direita da chanceler, que teve 41,5% dos votos, não conseguiu maioria absoluta, e seu parceiro na coalizão, o liberal FDP, pela primeira vez desde 1949 não terá assento no Parlamento por não conseguido 5% dos votos. O social-democrata SPD, principal partido de oposição, com 25,7%, finge não ter interesse na chamada “grande coalizão” com Merkel, declaração compreensível neste momento.
 
Não importa: ela é a grande vencedora, fato atestado pela imediata reação de líderes como François Hollande, da França, e David Cameron, do Reino Unido, ao demonstrar seu interesse em continuar trabalhando com a chanceler. Ninguém quer, é claro, passar recibo de que, como o socialista Hollande, preferia a vitória dos social-democratas, adeptos de “menos austeridade e mais desenvolvimento” como saída para a crise da zona do euro. Merkel compreendeu que sua votação minguaria se cedesse aos fortes apelos vindos de todas as partes da zona do euro para que suavizasse as políticas de austeridade impostas aos países em dificuldades.
 
O eleitor alemão puniria quem pedisse para que ele socorresse, além de um certo limite, países que não fizeram o dever de casa, como a Alemanha ainda no tempo do antecessor de Merkel, Gerhard Schroeder. Para sorte da política nascida em Hamburgo, em 1954, a zona do euro começou a dar alguns sinais de recuperação às vésperas das eleições gerais do último domingo.
Tendo recebido um forte mandato do povo alemão — a CDU teve a maior votação em mais de 20 anos —, a chanceler tem pela frente uma negociação, que se afigura longa, com o SPD para a montagem da “grande coalizão”. Analistas acham que este insistirá na criação do salário-mínimo, uma de suas bandeiras, possivelmente em troca de abrir mão da elevação de impostos.
 
A governante deverá se empenhar para levar à frente uma agenda de reformas para melhorar a competitividade, com investimentos para baixar o custo da energia, melhorar a infraestrutura de transportes e aliviar a dependência da economia do setor exportador. No plano continental, o desafio é criar um organismo de supervisão bancária supranacional, para monitorar os grandes bancos e prevenir, tanto quanto possível, que um problema num deles acabe arrastando para o buraco todo o sistema monetário europeu. O ponto já se encontra na agenda da UE há algum tempo.

24 de setembro de 2013
Editorial de O Globo

Nenhum comentário:

Postar um comentário