Morre em Lisboa, aos 88 anos, o poeta português António Ramos Rosa
Minuto de silêncio – O poeta António Ramos Rosa, Prêmio Pessoa 1988 e considerado como um dos expoentes da poesia portuguesa do século XX, morreu nesta segunda-feira (23), aos 88 anos, informou à agência Lusa pessoa próxima à família do escritor.Poeta, ensaísta e tradutor, Ramos Rosa estava internado no Hospital Egas Moniz, em Lisboa, com pneumonia. Nascido em Faro, em 1924, António Ramos Rosa estava a poucos dias de cumprir 89 anos.
No início do mês tinha doado à autarquia de Faro o espólio relativo ao percurso acadêmico e literário, assim como várias distinções, como diplomas relativos ao doutoramento Honoris Causa, ao Prêmio Pessoa e ao grau de Grande Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada.
Os bens do poeta ficam sob alçada da Biblioteca Municipal de Faro, a que Ramos Rosa dá nome. O poeta, que deu ainda nome a um prêmio de poesia de Portugal, recebeu o Prêmio Pessoa em 1988, trinta anos após publicar o seu primeiro livro de poesia, “O Grito Claro” (1958).
Ramos Rosa estudou em Faro, passou pelo Movimento de Unidade Democrática Juvenil, deu aulas de português, inglês e francês, ao mesmo tempo em que trabalhava como empregado de escritório e tradutor. Foi crítico literário, cofundador da revista Árvore e codiretor das revistas Cassiopeia e Cadernos do Meio-Dia.
Da sua vasta e premiada obra poética fazem parte “Sobre o Rosto da Terra”, “Estou Vivo e Escrevo Sol”, “A Construção do Corpo”, “A Pedra Nua”, “Ciclo do Cavalo”, “O Incêndio dos Aspectos”, “Figuras Solares”, “O que não pode ser dito” e “Gênese seguido de Constelações’. Dos livros de ensaio que publicou destacam-se “Poesia, liberdade livre” e “Incisões oblíquas: estudos sobre poesia portuguesa contemporânea”.
Além do Prêmio Pessoa, António Ramos Rosa recebeu outras condecorações, como o Prêmio Associação Portuguesa de Escritores (APE), em 1989, e o Grande Prêmio Internacional de Poesia, em 1990. Em 2006, foi agraciado com o prêmio PEN Clube Português, com o Grande Prêmio de Poesia da APE pela obra “Gênese” e com o prêmio “Luís Miguel Nava”.
Casado com a poetisa Agripina Costa Marques, António Ramos Rosa tinha editado recentemente o livro “Numa folha, leve e livre”. (Com informações da Agência Lusa e do Correio da Manhã)
O equilíbrio musical dos instrumentos,
a paciência do teu pulso suave e certo,
o teu rosto mais largo e a calma força
que sobe e que modelas palmo a palmo,
rio que ascende como um tronco em plena sala.
A tua casa habita entre o silêncio e o dia,
Entre a calma e a luz o movimento é livre.
Acordar a leve chama veia a veia,
erguê-la do fundo e solta propagá-la
aos membros e ao ventre, até ao peito e às mãos
e que a cabeça ascenda, cordial corola plena.
Todo o corpo é uma onda, uma coluna flexível.
Respiras lentamente. A terra inteira é viva.
E sentes o teu sangue harmonioso e livre
correr ligado à água, ao ar, ao fogo lúcido.
No interior centro cálido abre-se a flor de luz,
rigor suave e óleo, música de músculos, roda
lenta girando das ancas ao busto ondeado
e cada vez mais ampla a onda livre ondula
a todo o corpo uno, num respirar de vela.
Sobre a toalha de água, à luz de um sol real,
dança e respira, respira e dança a vida,
o seu corpo é um barco que o próprio mar modela.”
24 de setembro de 2013
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