Um dos principais aliados do falecido presidente Hugo Chávez pediu proteção de Washington na condição de arquivo-vivo, com especialização em lavagem de dinheiro
Rafael Isea, 45 anos, desaparecera há um mês do cenário venezuelano. Um dos protagonistas da luta pelo poder que corrói as bases do governo Nicolás Maduro, estava sob ameaça de prisão e, aparentemente, negociava fora do país um acordo de proteção com a agência antidrogas dos Estados Unidos (DEA, na sigla em inglês).
Na tarde da última quinta-feira, Isea desembarcou com a família em Washington. Chegou em avião privado, num voo procedente da República Dominicana que, segundo o repórter Antonio Delgado, do El Nuevo Herald, foi pago pela DEA.
Isea seguiu um roteiro idêntico ao percorrido pelo juiz Eladio Ramón Aponte Aponte, 64 anos, que em maio do ano passado trocou a presidência da Suprema Corte da Venezuela pela proteção da agência americana especializada na guerra ao narcotráfico.
Aponte fez um acordo, confessou cumplicidade com uma rede sul-americana de traficantes de cocaína e admitiu ter manipulado processos judiciais para favorecê-los em negócios que - segundo contou - eram partilhados com alguns dos mais graduados funcionários civis e militares do governo Chávez.
Citou especificamente: o atual presidente da Assembleia Nacional, deputado Diosdado Cabello; o ex-ministro da Defesa, general de brigada Henry de Jesus Rangel Silva; o comandante da IVa. Divisão Blindada do Exército, Clíver Alcalá; e, o vice-ministro de Segurança Interna e diretor do Escritório Nacional Antidrogas, Néstor Luis Reverol.
O Departamento do Tesouro dos EUA mantém bloqueados os bens de Henry de Jesus Rangel Silva (atual governador do Estado de Trujillo), Ramón Emilio Rodríguez Chacín (governador de Guárico) e do diretor da seção de Inteligência Militar da Venezuela, Hugo Armando Carvajal Barrios. Estão identificados na listagem da agência de controle de investimentos estrangeiros (OFAC, na sigla em inglês), subordinada ao Tesouro, como pessoas vinculadas ao narcotráfico.
Todos construíram sua biografia política na esteira da liderança de Chávez e têm papel destacado na luta em curso por trás da cadeira presidencial ocupada por Nicolás Maduro desde abril. Isea escolheu a proteção de Washington na condição de arquivo-vivo, com especialização em lavagem de dinheiro, sobretudo a do narcotráfico.
Foi denunciado, inclusive na agência anticorrupção da ONU, por operar uma espécie de máquina de produção de dólares durante a era chavista. Manipulou um título (Notas Estruturadas) para troca de bônus de dívidas externas classificados como lixo da Argentina, Equador, Bielorrússia e Venezuela.
Por esse canal financeiro transitaram cerca de US$ 10 bilhões, com diferença de cotação cambial de 3.435 bolívares por dólar: o mecanismo levou a Venezuela a comprar títulos externos dos parceiros pela cotação média do mercado paralelo (5.800 bolívares por dólar) ao mesmo tempo em que vendia os seus pela cotação média do mercado oficial (2.150 bolívares). Entre os intermediários esteve o Banco Lehman Brothers, aquele cuja quebra jogou os EUA na maior crise financeira dos últimos 80 anos. Eram todos bons companheiros.
24 de setembro de 2013
José Casado, O Globo
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