Desde o mês passado, quando Ciro Gomes anunciou que, se eleito, trabalharia para limpar a lista de devedores da Serasa, ele tem apanhado mais que boi ladrão. Protetor de caloteiros, irresponsável, demagogo. Se um sistema de crédito tem 63 milhões de consumidores na lista negra, algo de grave está acontecendo na economia. O total dessa dívida é de R$ 225 bilhões, e o espeto médio do caloteiro do Serasa é de R$ 1.200.
No último grande calote do mercado financeiro, a Sete Brasil acertou pagar só R$ 2 bilhões aos grandes bancos que lhe emprestaram R$ 18 bilhões. Ganha um fim de semana em Miami quem conhecer um diretor de banco que emprestou à Sete acreditando que a empresa recriaria um setor da construção naval que já quebrara duas vezes. Por trás da Sete, estaria a Petrobras, e atrás dela, a Viúva.
13 MILHÕES – O inadimplente médio da Serasa comprou um iPhone, pretendia pagá-lo, e a loja que o vendeu achava que receberia. São necessários 13 milhões de caloteiros do Serasa para produzir um rombo comparável ao da Sete.
Pouco se ouviu falar do calote da Sete. Já a proposta de Ciro pareceu um prenúncio do fim do mundo. O restabelecimento do crédito de milhões de pessoas é coisa necessária e factível. Como alivia o andar de baixo, provocou muxoxos. Foi assim com a jornada de oito horas no século passado, com o Bolsa Família e com as cotas nas universidades públicas.
DEMOFOBIA – Pode-se reclamar da má qualidade dos candidatos à Presidência ou do nível de empulhação de suas propostas, mas quando aparece algo que merece ser discutido, como é o caso da proposta de Ciro, deve-se controlar a demofobia. Essa cautela é útil porque numa eleição presidencial prevalece a opinião dos sujeitos que se apertam para pagar uma dívida de R$ 1.200.
A renda domiciliar de sete em cada dez eleitores é de menos de três salários-mínimos. A turma que foi capaz de emprestar R$ 16 bilhões à Sete Brasil só elege o síndico do próprio edifício.
20 de agosto de 2018
Elio Gaspari
O Globo/Folha
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