A semana de entrevistas que a Globonews realizou com os principais candidatos à sucessão presidencial de outubro, sem dúvida, revelou a existência de interesse efetivo pelo desfecho das eleições presidenciais. Olha que escrevo este artigo ao anoitecer de ontem, portanto antes da sabatina da equipe da emissora com Jair Bolsonaro. Senti no correr do dia que a entrevista de ontem era a mais esperada de todas, tanto pelas contradições do candidato quanto pelas correntes radicais que representa e que estão sendo suficientes para colocá-lo na primeira posição nas pesquisas eleitorais.
Claro que o primeiro lugar em que se encontra refere-se ao contexto do qual Lula está excluído. Uma exclusão a meu ver definitiva e que significa a consequência lógica da condenação que o atingiu e dos recursos até aqui tentados mas não aceitos. Mas esta é outra questão.
DESINTERESSE – O fato é que jornalistas e cientistas políticos vêm apontando o desinteresse muito grande em relação ao próximo pleito. É verdade. Mas se olharmos o passado, vamos verificar que os índices de abstenção tendem a cair na medida em que os eleitores aproximam-se das urnas eletrônicas. O mesmo acontece com aqueles que hoje afirmam que votarão em branco ou pretendem anular o voto.
A partir do início da campanha na televisão e no rádio esses índices têm tendência declinante. É natural, sobretudo porque os debates na televisão ainda não se realizaram e o interesse pelos confrontos é alto. Assim não fosse o programa da Globonews não estaria atraindo o número de pessoas que acompanham as promessas dos principais candidatos e fazem comentários a respeito dos respectivos desempenhos.
CONSERVADORISMO – Ontem, sexta-feira, várias pessoas que falaram comigo disseram estar interessadas no programa com Bolsonaro. Inclusive porque Bolsonaro representa o conservadorismo mais extremado, principalmente nas questões referentes a segurança e suas ideias no campo econômico. Aliás, ele já afirmou por diversas vezes que os temas econômicos serão equacionados pelo ex-banqueiro Paulo Guedes, presumindo-se que ele seja nomeado ministro da Fazenda na hipótese de vitória final nas urnas.
Não importa no momento formular hipóteses sobre sua candidatura, no sentido de vitória ou derrota, mas sim pensar-se no que poderia ser sua administração à frente do país. O radicalismo de Bolsonaro formando um ângulo reto na geometria política, assusta a maior parcela do eleitorado e também preocupa os grandes empresários que temem pelo seu comportamento.
ROMPANTES DE CIRO – O empresariado teme também, por outro lado, os rompantes de Ciro Gomes e sua dificuldade em formar alianças. O caso do PSB é um exemplo. O Palácio do Planalto conseguiu distanciá-lo de Ciro, isolando-o na margem da correnteza eleitoral.
O PSB terminou aproximando-se do PT, e a Ciro Gomes restou a aliança consigo mesmo. Aliás, o isolamento de Ciro teve a participação do ex-presidente Lula, por considerar que a hipótese do apoio do PT significaria a superação definitiva de sua liderança no Partido dos Trabalhadores. Lula, nessa altura dos acontecimentos, ainda não chegou à realidade amplamente provável dos fatos. Ele não poderá ser candidato, entretanto, não quer ainda indicar ninguém. A perspectiva do PT concorrer com Fernando Haddad, Jaques Wagner ou Gleisi Hoffman, dependerá de sua decisão final e pessoal como comandante de uma nave com destino incerto nos mares revoltos da campanha eleitoral.
MAIS INTERESSE – Mas são pensamentos que voam ao redor das ideias. O fato mais significativo do interesse dos eleitores pela política foi cristalizado pelo êxito da Globonews em promover a série seletiva de entrevistas.
É esperar que os acontecimentos se desdobrem até a eleição, quando então ficarão mais nítidas as disposições que os votos neste ou naquele candidato, ou candidata, vão revelar.
O número de votos brancos e nulos vai diminuir, como já está diminuindo. Caso contrário os programas levados ao ar pela emissora, perfeitamente conduzidos pela jornalista Mirian Leitão, não teriam atingido o grau de interesse que alcançaram.
04 de agosto de 2018
Pedro do Coutto
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