Uma das formas mais terríveis de se morrer é por fome. Seja pela interrupção abrupta ou gradual de alimentação, o ser humano passa por estágios que o levam ao total estado de bestialidade.
Ao se acentuar a falta de nutrientes, o corpo começa a consumir partes menos “importantes” para poder suprir o sistema nervoso central e o miocárdio.
É assim que aos poucos vão sendo eliminadas todas as reservas de gordura. Em paralelo, o corpo começa a consumir a musculatura. A consequência imediata é que o ser humano se torna cada vez mais fraco.
A redução de atividades motoras colabora para a queda na temperatura, que já se daria naturalmente pela perda de gordura e pelo pouco estoque de energia.
O indivíduo começa a sentir constantes e insuportáveis dores estomacais, acompanhadas de diversas dores musculares por todo o corpo.
Há um acelerado processo de queda de cabelos, a pele ganha uma aparência cada vez mais pálida, há diarréias. Os olhos parecem saltar do rosto, tonturas são cada vez mais constantes, até que a capacidade de concentração começa a se perder e junto com ela o raciocínio se debilita.
Os mais sortudos morrem logo devido à infecção de qualquer doença que encontre terreno fácil para desenvolver-se diante desse corpo debilitado e sem resistências imunológicas. Todos os outros vão sofrendo aos poucos, têm convulsões cíclicas, alucinações constantes, perdem o contato com a realidade até que morram definitivamente pela perda de massa corporal, queda da temperatura ou ausência de proteínas.
Se na conta individual a morte por inanição já é terrível, tente imaginar essas característias sendo desenvolvidas em uma comunidade inteira.
Pessoas até pouco tempo saudáveis, produtivas e levando uma vida normal começam a ver seus vizinhos e parentes morrendo lentamente, e a perceber que eles serão os próximos.
Não demora e, na ausência de alimentação para sua subsistência, dão vazão aos instintos mais severos de sobrevivência e começam a praticar canibalismo.
Pela resistência de outros seres a se sujeitarem a servir de refeição, buscam cada vez alvos mais fáceis para a auto-preservação, e é então que começam a atacar os mais indefesos: as crianças!
Todo esse processo acima é importante para explicar um dos atos mais nefastos já vistos na História da humanidade, provocados tanto pelo ódio desumano do regime comunista como pelos procedimentos e ações pregados por tal ideologia. Estou falando da Grande Fome imposta por Stálin ao até então próspero povo da Ucrânia.
Há 80 anos, nesta mesma época, entrava na fase final de inanição a população camponesa ucraniana e cossaca.
Por ser uma região fértil, produtiva e com fortes sentimentos nacionalistas, a Ucrânia foi uma das que mais bravamente resistiu às políticas de coletivização da produção implantadas por Stálin.
O ditador não perdoava a região por isso, e irritava-se sobremaneira com os “problemas” gerados por ali.
A resistência da população fazia com que o assassino acelerasse ainda mais o processo de coletivização e expropriação da produção, reduzindo a proporção da produção dos camponeses para consumo próprio e replantio. Era necessário suprir o aparelho repressor soviético, seu enorme exército e sua rede de abastecimento.
Síntese do pensamento totalitário comunista
Quanto mais Stálin aumentava os confiscos da produção em nome de suas políticas insanas, piores eram os resultados da colheita. E não haviam mais vozes a gritar:
Artistas, jornalistas, escritores, todos contra a coletivização haviam sido deportados, presos ou assassinados. Temendo por suas vidas e fracos, os ucranianos não resistiam mais. Com a redução da colheita, maiores eram as necessidades de confisco pelo Estado soviético.
Esse círculo vicioso gerava paranóias persecutórias típidas de regimes totalitários. Os fiscais do partido nas lavouras, os responsáveis pela distribuição e também as autoridades policiais acusavam-se mutuamente de incompetência e corrupção, em busca de livrarem a si próprios de condenações do aparelho opressor central.
Toda essa fúria desaguava nos camponeses, cada vez mais pressionados. Muitos eram torturados e presos por não conseguirem corresponder às expectativas dos planejadores, enterrar espigas de milho ou escondê-las em casa para sobrevivência, sonegando-as ao Estado.
A polícia soviética fazia rondas noturnas nas plantações pois sabiam que muitos produtores agiam na escuridão para tentar reservar o produto de seu trabalho para a própria subsistência
Até que chegou-se o momento em que as prisões e campos de concentração não suportavam mais produtores e esses começaram a ser devolvidos a suas lavouras.
Mas quando voltavam o cenário não era animador, as outrora áreas produtivas encontravam-se degradadas.
Diante da subnutrição as famílias começavam a tomar medidas drásticas. Pegavam seus filhos crianças e fugiam para perto das cidades, abandonando-as ali mesmo à própria sorte na esperança de que fossem resgatados e alimentados por benfeitores ou pelo aparelho estatal.
Os camponeses voltavam à lavoura para esperar a própria morte e acreditavam que era melhor não ter as crianças por perto e abandonadas no campo quando morressem.
Só que as crianças não eram salvas por ninguém, mas sim recolhidas para delegacias.
Das delegacias elas eram levadas a postos ferroviários em caminhões. Nesses postos, médicos separavam as que ainda tinham alguma condição de subsistência das que já estavam inchadas e em estado final de inanição.
As que tinham alguma resistência iam a acampamentos, verdadeiros campos de concentração, como Holodnaia Gora, enquanto as outras eram levadas para longe da cidade e abandonadas na beira da estrada, para que morressem por ali mesmo e longe dos olhos da população.
Nos locais em que as crianças eram despejadas, cavavam grandes fossas para enterrar ali mesmo as que já chegavam ao local mortas, ou aparentemente mortas (muitas foram jogadas nas fossas mesmo estando respirando).
A Fome foi ação deliberada e consciente
As fugas de camponeses criavam um ambiente desolador nas cidades, e foi então que Stálin ordenou que se fechassem e controlassem todas as estações de trem das regiões atingidas pela fome, para evitar mais e mais famintos vagando nas metrópoles locais.
Os mortos de fome acumulavam-se na cidade, toda noite dezenas de corpos eram recolhidos. Nestas coletas de corpos, começou-se a perceber cada vez mais casos de defuntos com a barriga aberta.
Mais tarde, alguns dos “amputadores de defuntos” presos confessaram que arrancavam o fígado para fazer patês vendidos nas feiras locais.
Quando entrou o mês de Junho de 1933, Stálin e todo o Politburo já tinham claro que o castigo estava de bom tamanho, que os impactos já se faziam sentir no racionamento nacional e que não era mais possível seguir com a política de extermínio.
Foi então que começou, aos poucos, a liberar grandes lotes de grãos para ucranianos, cossacos e cazaques. Obviamente, os efeitos do ataque genocida não foram eliminados de imediato e centenas de milhares continuaram a sofrer os efeitos da provação vivida.
Estima-se que o déficit populacional total tenha superado os 10 milhões de habitantes. Somente na Ucrânia, é certo que mais de 3 milhões de pessoas morreram por consequência das mazelas da fome.
A somar-se toda a região, os números ultrapassam 7 milhões. 7 Milhões de mortos por fome em pouco mais de um ano de progressão de políticas socialistas.
Os historiadores da Ucrânia atribuem os atos puramente ao ódio de Stálin aos ucranianos. Essa visão narra a grande fome imposta à Ucrânia como um ato de guerra. Porém, é necessário dizer que, não obstante esse motivo, o extermínio representa a pura ação político-econômica pregada pelo socialismo.
Ainda que se tenha a particularidade de uma URSS paranóica sob a desculpa de uma inevitável guerra vindoura, e que portanto precisava sempre estocar alimentos para prováveis dificuldades futuras, tudo isso só aconteceu por uma tentativa inconsequente de implantar políticas planejadas em bancos acadêmicos por pessoas que crêem ser possível redesenhar e planificar toda a sociedade, incluindo seus meios produtivos.
A coletivização, o confisco da produção, o controle total pelo Estado dos meios produtivos e distributivos são políticas totalmente condizentes com o que prega o comunismo.
O ódio de classe aos camponeses produtivos e prósperos, tidos por reacionários, o bloqueio e a calada de todas as vozes contrárias às ações do Estado e tornar inimigos inaceitáveis todos que não enxergam o Estado como ente supremo de razão também são características típicas da mentalidade socialista.
Após 80 anos, se não a totalidade, ao menos algumas dessas políticas continuam a gozar de prestígio. Grandes erros que resultaram em crimes horrendos contra a humanidade não deveriam ser esquecidos.
Para Mais Informações:
Documentário “HOLODOMOR” feito pela Radio Quebec, disponível no YouTube;
Holodomor – O Genocídio Ucraniano – artigo de Luís de Matos Ribeiro para a Associação Internacional de Estudos Ibero-Eslavos, disponível no SCRIBD;
Livro “The Harvest of Sorrow: Soviet Collectivization and the Terror-Famine“, de Robert Conquest
Livro “Execution by Hunger: The Hidden holocaust“, do sobrevivente Miron Dolot;
Diversas fotografias de vítimas da Fome por toda a União Soviética aqui.
22 de março de 2018
in reaça blog
Revisado por Maíra Adorno @mairamadorno
Ao se acentuar a falta de nutrientes, o corpo começa a consumir partes menos “importantes” para poder suprir o sistema nervoso central e o miocárdio.
É assim que aos poucos vão sendo eliminadas todas as reservas de gordura. Em paralelo, o corpo começa a consumir a musculatura. A consequência imediata é que o ser humano se torna cada vez mais fraco.
A redução de atividades motoras colabora para a queda na temperatura, que já se daria naturalmente pela perda de gordura e pelo pouco estoque de energia.
O indivíduo começa a sentir constantes e insuportáveis dores estomacais, acompanhadas de diversas dores musculares por todo o corpo.
Há um acelerado processo de queda de cabelos, a pele ganha uma aparência cada vez mais pálida, há diarréias. Os olhos parecem saltar do rosto, tonturas são cada vez mais constantes, até que a capacidade de concentração começa a se perder e junto com ela o raciocínio se debilita.
Os mais sortudos morrem logo devido à infecção de qualquer doença que encontre terreno fácil para desenvolver-se diante desse corpo debilitado e sem resistências imunológicas. Todos os outros vão sofrendo aos poucos, têm convulsões cíclicas, alucinações constantes, perdem o contato com a realidade até que morram definitivamente pela perda de massa corporal, queda da temperatura ou ausência de proteínas.
Se na conta individual a morte por inanição já é terrível, tente imaginar essas característias sendo desenvolvidas em uma comunidade inteira.
Pessoas até pouco tempo saudáveis, produtivas e levando uma vida normal começam a ver seus vizinhos e parentes morrendo lentamente, e a perceber que eles serão os próximos.
Não demora e, na ausência de alimentação para sua subsistência, dão vazão aos instintos mais severos de sobrevivência e começam a praticar canibalismo.
Pela resistência de outros seres a se sujeitarem a servir de refeição, buscam cada vez alvos mais fáceis para a auto-preservação, e é então que começam a atacar os mais indefesos: as crianças!
Todo esse processo acima é importante para explicar um dos atos mais nefastos já vistos na História da humanidade, provocados tanto pelo ódio desumano do regime comunista como pelos procedimentos e ações pregados por tal ideologia. Estou falando da Grande Fome imposta por Stálin ao até então próspero povo da Ucrânia.
Há 80 anos, nesta mesma época, entrava na fase final de inanição a população camponesa ucraniana e cossaca.
Por ser uma região fértil, produtiva e com fortes sentimentos nacionalistas, a Ucrânia foi uma das que mais bravamente resistiu às políticas de coletivização da produção implantadas por Stálin.
O ditador não perdoava a região por isso, e irritava-se sobremaneira com os “problemas” gerados por ali.
A resistência da população fazia com que o assassino acelerasse ainda mais o processo de coletivização e expropriação da produção, reduzindo a proporção da produção dos camponeses para consumo próprio e replantio. Era necessário suprir o aparelho repressor soviético, seu enorme exército e sua rede de abastecimento.
Síntese do pensamento totalitário comunista
Quanto mais Stálin aumentava os confiscos da produção em nome de suas políticas insanas, piores eram os resultados da colheita. E não haviam mais vozes a gritar:
Artistas, jornalistas, escritores, todos contra a coletivização haviam sido deportados, presos ou assassinados. Temendo por suas vidas e fracos, os ucranianos não resistiam mais. Com a redução da colheita, maiores eram as necessidades de confisco pelo Estado soviético.
Esse círculo vicioso gerava paranóias persecutórias típidas de regimes totalitários. Os fiscais do partido nas lavouras, os responsáveis pela distribuição e também as autoridades policiais acusavam-se mutuamente de incompetência e corrupção, em busca de livrarem a si próprios de condenações do aparelho opressor central.
Toda essa fúria desaguava nos camponeses, cada vez mais pressionados. Muitos eram torturados e presos por não conseguirem corresponder às expectativas dos planejadores, enterrar espigas de milho ou escondê-las em casa para sobrevivência, sonegando-as ao Estado.
A polícia soviética fazia rondas noturnas nas plantações pois sabiam que muitos produtores agiam na escuridão para tentar reservar o produto de seu trabalho para a própria subsistência
Até que chegou-se o momento em que as prisões e campos de concentração não suportavam mais produtores e esses começaram a ser devolvidos a suas lavouras.
Mas quando voltavam o cenário não era animador, as outrora áreas produtivas encontravam-se degradadas.
Diante da subnutrição as famílias começavam a tomar medidas drásticas. Pegavam seus filhos crianças e fugiam para perto das cidades, abandonando-as ali mesmo à própria sorte na esperança de que fossem resgatados e alimentados por benfeitores ou pelo aparelho estatal.
Os camponeses voltavam à lavoura para esperar a própria morte e acreditavam que era melhor não ter as crianças por perto e abandonadas no campo quando morressem.
Só que as crianças não eram salvas por ninguém, mas sim recolhidas para delegacias.
Das delegacias elas eram levadas a postos ferroviários em caminhões. Nesses postos, médicos separavam as que ainda tinham alguma condição de subsistência das que já estavam inchadas e em estado final de inanição.
As que tinham alguma resistência iam a acampamentos, verdadeiros campos de concentração, como Holodnaia Gora, enquanto as outras eram levadas para longe da cidade e abandonadas na beira da estrada, para que morressem por ali mesmo e longe dos olhos da população.
Nos locais em que as crianças eram despejadas, cavavam grandes fossas para enterrar ali mesmo as que já chegavam ao local mortas, ou aparentemente mortas (muitas foram jogadas nas fossas mesmo estando respirando).
A Fome foi ação deliberada e consciente
As fugas de camponeses criavam um ambiente desolador nas cidades, e foi então que Stálin ordenou que se fechassem e controlassem todas as estações de trem das regiões atingidas pela fome, para evitar mais e mais famintos vagando nas metrópoles locais.
Os mortos de fome acumulavam-se na cidade, toda noite dezenas de corpos eram recolhidos. Nestas coletas de corpos, começou-se a perceber cada vez mais casos de defuntos com a barriga aberta.
Mais tarde, alguns dos “amputadores de defuntos” presos confessaram que arrancavam o fígado para fazer patês vendidos nas feiras locais.
Quando entrou o mês de Junho de 1933, Stálin e todo o Politburo já tinham claro que o castigo estava de bom tamanho, que os impactos já se faziam sentir no racionamento nacional e que não era mais possível seguir com a política de extermínio.
Foi então que começou, aos poucos, a liberar grandes lotes de grãos para ucranianos, cossacos e cazaques. Obviamente, os efeitos do ataque genocida não foram eliminados de imediato e centenas de milhares continuaram a sofrer os efeitos da provação vivida.
Estima-se que o déficit populacional total tenha superado os 10 milhões de habitantes. Somente na Ucrânia, é certo que mais de 3 milhões de pessoas morreram por consequência das mazelas da fome.
A somar-se toda a região, os números ultrapassam 7 milhões. 7 Milhões de mortos por fome em pouco mais de um ano de progressão de políticas socialistas.
Os historiadores da Ucrânia atribuem os atos puramente ao ódio de Stálin aos ucranianos. Essa visão narra a grande fome imposta à Ucrânia como um ato de guerra. Porém, é necessário dizer que, não obstante esse motivo, o extermínio representa a pura ação político-econômica pregada pelo socialismo.
Ainda que se tenha a particularidade de uma URSS paranóica sob a desculpa de uma inevitável guerra vindoura, e que portanto precisava sempre estocar alimentos para prováveis dificuldades futuras, tudo isso só aconteceu por uma tentativa inconsequente de implantar políticas planejadas em bancos acadêmicos por pessoas que crêem ser possível redesenhar e planificar toda a sociedade, incluindo seus meios produtivos.
A coletivização, o confisco da produção, o controle total pelo Estado dos meios produtivos e distributivos são políticas totalmente condizentes com o que prega o comunismo.
O ódio de classe aos camponeses produtivos e prósperos, tidos por reacionários, o bloqueio e a calada de todas as vozes contrárias às ações do Estado e tornar inimigos inaceitáveis todos que não enxergam o Estado como ente supremo de razão também são características típicas da mentalidade socialista.
Após 80 anos, se não a totalidade, ao menos algumas dessas políticas continuam a gozar de prestígio. Grandes erros que resultaram em crimes horrendos contra a humanidade não deveriam ser esquecidos.
Para Mais Informações:
Documentário “HOLODOMOR” feito pela Radio Quebec, disponível no YouTube;
Holodomor – O Genocídio Ucraniano – artigo de Luís de Matos Ribeiro para a Associação Internacional de Estudos Ibero-Eslavos, disponível no SCRIBD;
Livro “The Harvest of Sorrow: Soviet Collectivization and the Terror-Famine“, de Robert Conquest
Livro “Execution by Hunger: The Hidden holocaust“, do sobrevivente Miron Dolot;
Diversas fotografias de vítimas da Fome por toda a União Soviética aqui.
22 de março de 2018
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Revisado por Maíra Adorno @mairamadorno
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