"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 27 de janeiro de 2018

REPRISE ELEITORAL: LULA REPETE ESTRATÉGIA E VAI LANÇAR NOVA CARTA AO POVO BRASILEIRO


Lula ainda pensa que vai disputar a sucessão
A menos de nove meses da eleição, dois movimentos simultâneos indicam uma volta ao passado na disputa de outubro. Mesmo condenado em segunda instância, Lula prepara uma carta que será lançada no aniversário do PT, em fevereiro, mas não mira no mercado financeiro e carrega tons diferentes daquela que o ajudou a se eleger pela primeira vez, em 2002. De quebra, o petista também abandonou de vez o discurso do “Lulinha paz e amor”. Em outra frente, o ex-presidente Fernando Collor (PTC) anunciou na última sexta-feira, dia 19, que pretende concorrer ao Planalto, 26 anos depois de renunciar ao comando do país em meio a um processo de impeachment.
A sensação de retrospectiva eleitoral se amplia com o time de veteranos que até agora se credenciaram para a corrida eleitoral, que tem, além de Lula (PT), Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT). Mesmo o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que nunca disputou eleições majoritárias, está na política desde 1989, quando foi eleito vereador no Rio, e ainda se apresenta como defensor da ditadura militar, que terminou em 1985.
TOM DE REPETIÇÃO – A estratégia de Lula também tem um tom de repetição. Assim como em 2002, encomendou a auxiliares a preparação de uma “Carta ao Povo Brasileiro” com detalhes da econômica que pretende seguir caso seja eleito. O rascunho do documento foi apresentado na quinta-feira, dia 18, pelo ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad ao próprio ex-presidente e aos ex-ministros Paulo Bernardo e Aloizio Mercadante.
Elaborada a partir de uma série de reuniões entre economistas realizadas no Instituto Lula, essa nova carta, ao contrário do documento de 2002, elaborado por Antonio Palocci, seria destinada à classe média e não ao mercado. A previsão é que versão final fique pronta em um mês e seja apresentada em um ato durante as comemorações do aniversário de 38 anos do PT no dia 26 de fevereiro. No texto, devem ser exaltados os dados de crescimento da economia e superavit primário obtidos pelo país no período em que Lula esteve no governo (2003-2010).
Mas se por um lado seguirá o receituário na economia que o ajudou em sua primeira vitória, em 2002, por outro, Lula descarta repetir o estilo que o ajudou a vencer aquela disputa. Em um discurso na noite de quinta-feira, dia 18, em São Paulo, o petista disse que não “pode mais ser o Lulinha Paz e Amor”. “Eu dei amor pra cacete e só tomei porrada”, disse, em ato com a participação de intelectuais que o apoiam, na Casa de Portugal, em São Paulo.
COLLOR – Em 2002, o estilo “paz e amor” ajudou Lula a livrar da pecha de radical. Ao descartar esse caminho, o petista indica que seguirá na linha mais agressiva que adotou nas eleições de 1989, 1994 e 1998 — na primeira delas o petista foi derrotado justamente por Collor. Hoje senador por Alagoas, Collor anunciou a sua pré-candidatura durante um evento na cidade de Arapiraca, no interior de Alagoas. O vídeo do discurso foi divulgado pelo site “THN1”. 
“Por isso, eu digo a vocês que esse é um momento dos mais importantes da minha vida, como pessoa e como homem público, porque hoje minha decisão foi tomada. Sou, sim, pré-candidato à Presidência da República. Obrigado, e vamos à vitória”,  disse o senador. Collor foi eleito em 1989, a primeira eleição direta depois da ditadura militar (1964-1985), vencendo Lula no segundo turno. Seu mandato foi interrompido em 1992.
Após tentativas frustradas de se eleger prefeito de São Paulo (em 2000) e governador de Alagoas (2002), Collor foi eleito senador em 2006. Em 2010, concorreu novamente ao governo estadual, mas foi derrotado. Em 2014, foi reeleito senador. Em 2016, ele se filiou ao PTC, partido originado do PRN, legenda pela qual ele chegou ao Planalto em 1989.
“CANDIDATURA EXITOSA” – O presidente de seu partido hoje é o mesmo daquela época: Daniel Tourinho. Ele afirma que a ideia da candidatura partiu da legenda, e conta que Collor demorou alguns meses para aceitar a proposta. “O partido vem insistindo, desde agosto do ano passado, para ele se lançar candidato. Ele falou que ia pensar, e a conversa evoluiu. Ele está bastante animado. Acreditamos que vai ser uma candidatura exitosa”, avalia.
Ele não considera que a gestão de Collor na presidência será fonte de desgaste. “Acho que o recall dele é extremamente positivo. Consideramos que o Centro está órfão”, disse. Em 2017, o senador tornou-se réu no Supremo Tribunal Federal (STF), em um processo derivado da Operação Lava-Jato, por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Ele ainda responde a outros quatro inquéritos na corte. O ex-presidente nega as acusações.
EXPECTATIVA – O cientista político Fernando Abrucio, professor da FGV, avalia que, ao entrar na disputa, Collor busca muito mais lutar por sua biografia do que vislumbrar uma possibilidade de vitória. “O Collor entra numa linha de quase aposentadoria política. Ele tem que aparecer para se defender, afinal o nome dele está na Lava-Jato. Ao mesmo tempo, é uma tentativa de um certo revival, já que a população está desencantada mesmo com a política’,  avalia o cientista político.
Sobre a sensação de passado que até o momento paira sobre as articulações eleitorais, avalia que o cenário para a eleição só deve ficar mais claro depois da próxima quarta-feira, dia 24, a partir do julgamento de Lula pelo TRF-4. “O novo ainda pode surgir até abril. Tem muita gente esperando o que vai acontecer com o Lula, com a reforma da Previdência, o que vai acontecer com Alckmin nas pesquisas. O cenário ainda está muito aberto”, afirmou.
Já o cientista política Fernando Antonio de Azevedo, professor da Universal Federal de São Carlos, acredita que o modelo de funcionamento dos partidos brasileiros não mudou, o que ajuda a explicar o atual quadro de candidaturas. “O novo só se dá em condições muito específicas. Na estrutura partidária que temos, a não ser que tenhamos o lançamento de um movimento, é pouco provável que surja um candidato novo”, disse.

27 de janeiro de 2018
Sérgio Roxo e
Daniel Gullino

O Globo

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