Muita interessante a entrevista do professor Nick Nesbitt, da Universidade de Princeton, sobre a atualidade do pensamento de Karl Marx, um século e meio depois de sua obra “O Capital”, e o seu resumo mais ainda. E é pena ver gente que nunca deve ter lido atentamente “O Capital” falando de marxismo e regimes marxistas para cá e para lá. Do mesmo modo que virou moda as nossas esquerdas rotularem todos seus opositores de fascistas.
Nunca existiu no mundo o que legitimamente se pudesse chamar de um “regime marxista”. Marx não propôs nada que pudesse ser implantado num país como a Rússia imperial nem como a China do tempo de Chiang Kai Chek. Foram implantados ali regimes violentamente autoritários que tentaram utilizar, em sociedades tecnologicamente ainda primitivas sem desenvolvimento industrial, algumas de suas idéias julgadas mais convenientes pelos revolucionários.
FOCO NA INDUSTRIALIZAÇÃO – Marx escreveu “O Capital” pensando muito mais nas condições de trabalho da Inglaterra em industrialização do seu tempo. Não se pode julgar da validade das teorias de Marx simplesmente pelo resultado político e econômico destas implantações.
Quanto a Marx não ter previsto a Inteligência Artificial, que, aliás, ninguém na época teria tido meios de prever, ela é talvez o desenvolvimento final do que ele dizia quanto à desvalorização do trabalho.
Logo após a Segunda Guerra Mundial falava-se muito, principalmente nos Estados Unidos, de como a modernização dos processos produtivos, que foi impulsionado pela indústria de guerra, levaria a uma sociedade em que as pessoas precisariam trabalhar menos tempo para produzir o necessário e começavam a se preocupar (seriamente) em como aproveitar o tempo de lazer que seria gerado por isto. Falava-se muito também na conquista de novas fontes de energia, como a energia de fusão, que seriam praticamente grátis comparadas com os custos existentes e permitiriam a prosperidade universal. Nada disto aconteceu assim.
DURA REALIDADE – Vemos hoje que a realidade é muito dura, com as pessoas trabalhando por mais tempo e com um aumento do desemprego, que se acelera à medida em que os novos processos gerados aumentam de complexidade e fica impossível treinar os trabalhadores cujos postos estão sendo eliminados nas novas capacitações que se tornam necessárias.
A automação bancária, em que o Brasil foi um dos líderes, e que deveria, dentro daquele conceito, reduzir o volume de trabalho dos bancários, em vez disso diminuiu o número de empregos disponíveis para estes mesmos bancários e complicou a vida dos usuários que necessitem de qualquer coisa além do oferecido pelos caixas eletrônicos ou que não tenham o mínimo de conhecimento requerido para utilizá-los.
TERCEIRA VIA – Eu trabalhei toda a minha vida, direta ou indiretamente, com Tecnologia de Informação, seria o último a negar os benefícios possíveis com a Inteligência Artificial, mas me preocupa muito que não compreendamos os cuidados que precisam ser tomados com a sua evolução, tanto do ponto de vista prático quanto dos seus aspectos políticos e econômicos (e qualquer um que estude este campo sabe do que estou falando).
Concorde-se ou não, parcialmente ou inteiramente com o professor Nesbitt, a “Tribuna da Internet” resumiu bem a entrevista dele, ao assinalar que precisamos encontrar uma terceira via entre capitalismo e marxismo..
19 de setembro de 2017
Wilson Baptista Junior
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