"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 5 de agosto de 2017

A VITÓRIA DA MALA, COM O CONGRESSO NO CABRESTO


Deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) ajeita mala de dinheiro falso levada pela oposição para o plenário da Câmara (RANIER BRAGON / Folhapress)
Chico Alencar ajeita a mala de “dinheiro” no plenário
Uma mala cheia de dinheiro transformou Michel Temer no primeiro presidente do Brasil a ser denunciado no exercício do cargo. A acusação é forte, mas não dará em nada. A Câmara negou autorização para que o Supremo abra um processo contra o peemedebista.
A vitória de Temer é a vitória da mala. Ao blindá-lo, os deputados deixaram claro que provas não importam. O que mantém um presidente na cadeira é a sua capacidade de manter o Congresso no cabresto.
LISTA DE EMENDAS – A instantes da votação, o governo ainda barganhava verbas e nomeações. O ministro Antonio Imbassahy circulava com uma lista de emendas e cobrava a fatura de quem ameaçava votar contra o presidente.
O clima de feira livre fazia par com a avacalhação no plenário. Deputados trocaram empurrões, atiraram dinheiro falso para o alto e encenaram uma guerra de bonecos infláveis. O presidente Rodrigo Maia alimentou o circo ao dizer que queria encerrar a votação cedo para assistir a uma partida de futebol na TV.
Na Câmara, o jogo foi digno dos piores campos de várzea. A oposição se embananou numa tentativa desastrada de adiar a sessão. O governo atropelou a lógica ao defender a blindagem do presidente.
IMPUNIDADE – Os papagaios do Planalto repetiam que engavetar a denúncia não significava garantir impunidade a Temer. A Justiça só precisaria esperar o fim do mandato para processá-lo. Isso equivale a dizer que todo suspeito de crime deve ser investigado, a não ser que esteja na Presidência.
Além de colher os frutos do fisiologismo, Temer saboreou a solidariedade de outros políticos na mira da lei. Celso Jacob, o deputado-presidiário, foi um dos 263 que apoiaram sua permanência no cargo. Depois de votar, ele retornou à sua cela na Papuda.
Ao enterrar o caso da mala, a Câmara deu as costas ao eleitorado, que cobrava em peso a saída do presidente. No entanto, o abismo entre representantes e representados não chega a ser uma novidade da era Temer.

05 de agosto de 2017
Bernardo Melo Franco
Folha

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