"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 13 de junho de 2017

MIRIAM LEITÃO E A SÍNDROME DE ESTOCOLMO DA GLOBO


Miriam Leitão foi insultada por militantes do PT. Do mesmíssimo PT que Miriam Leitão tanto elogia. É a típica Síndrome de Estocolmo.

O filósofo e matemático alemão Gottlob Frege carrega em sua filosofia algo que explica à perfeição o ocorrido com a jornalista Miriam Leitão, da Globo News, em um vôo da Avianca, conforme seu relato no jornal O Globo. Trata-se da confusão costumeira entre sentido (Sinn) e referência (Bedeutung).

Certos discursos que inculcamos em nosso linguajar podem fazer um certo sentido interno ao que nós estamos dizendo. Por exemplo, se nos julgamos contra a exploração e a opressão (e quem não se julga?), nosso pensamento, para fazer sentido, precisa trabalhar no sentido de evitar ambas as coisas.

No entanto, fora do reino do mero discurso, e noves fora as contradições internas que podem fazer um discurso deixar de fazer sentido por si, quando o que dissemos precisa ter uma referência externa na realidade, será que conseguimos transubstanciá-los de fato naqueles partidos ou políticos que não exploram e não oprimem? Ou não sejam corruptos, ou defendam o mesmo que o povo defende?

Miriam Leitão, como boa parte do staff atual da Rede Globo, foi perseguida durante a ditadura. Suas idéias sobre feminismo, programas sociais, aborto, cotas, política fiscal, democracia ou qualquer tema polêmico à escolha do freguês têm chance de serem, 9 de cada 10, idênticas às do PT. Tal como vários jornalistas da Globo News, do jornal O Globo ou de qualquer parcela jornalística da Rede Globo, a visão de Miriam Leitão é progressista e “social”.



No entanto, o PT trata a Globo como um poço de reacionarismo, como se as novelas da Globo louvassem a Igreja Católica ou o protestantismo weberiano, como se a emissora estivesse empenhadíssima em um livre mercado laissez faire absoluto, como se a visão dos jornalistas da Globo fosse pró-Partido Republicano (e pró-Trump) e pró-Tories, como se a Globo odiasse o PT e estivesse desde O Rei do Gado martelando no Jornal Nacional e no imaginário coletivo das novelas e das celebridades que o MST é violento, que as drogas devem ser proibidas, que aborto é assassinato de crianças, que a sexualidade precisa conter freios, que a família é mais importante do que o Estado ou prazeres secundários.

Ou seja: até mesmo ignorando se o discurso interno do PT faz sentido (se seu modelo econômico é bom, se é honesto, se joga limpo, se tem alguma vantagem sobre outros partidos etc), há uma falha de referência, como oposto por Gottlob Frege: a Rede Globo que o PT descreve é a mesmíssima Rede Globo de 1965, como se ela não tivesse mudado uma vírgula de sua linha editorial daquela época até hoje.

O PT, com uma visão parada no tempo há meio século, acredita que Malhação é uma novela sobre estudo e disciplina, que o Videoshow é um programa sobre os valores morais das celebridades, que Fátima Bernardes fala sobre música erudita e educação escolástica, que Amor & Sexo é sobre castidade e fidelidade, que as novelas são sobre família, tradição e propriedade privada, que o BBB pariu Jair Bolsonaro.

O pior: o PT, ou qualquer professor de História clichê no país, acredita que foi o único a perceber que a Rede Globo, digamos, é ruim, e portanto, é direitista (afinal, na época em que nossas avós estavam com seus 20 e poucos anos, a Globo apoiou a ditadura). É uma dissonância da realidade que, antes mesmo de se analisar o sentido de seu discurso (se a esquerda é mesmo boa, se a direita é esse poço de tortura e abatimento de crianças etc), tem um referencial insanamente oposto à realidade.

Não é só Miriam Leitão: a Rede Globo inteira hoje incensa o PT, comprou o discurso “Fora Temer” com uma velocidade impressionante (vide a trapalhada de Lauro Jardim, que vendeu o áudio de Joesley Batista como uma “prova cabal” contra Temer, no que foi repetido roboticamente por todos os petistas do país, quando o revelador áudio não é tão cabal assim), enquanto chamou por meses a fio as manifestações contra Dilma e o PT de “protestos contra a corrupção”.

Miriam Leitão, diga-se, tem uma fundamental divergência com o PT: o desastre econômico. Não é, não quer ser, se ofenderia se fosse chamada de liberal ou de (horresco referens) conservadora. Não cansou de elogiar o PT, até mesmo quando o partido não merecia elogio algum (naquela velha litania de “o PT manteve nossa economia de 2% ao ano ‘nos eixos’, então merece aplausos”, que não convence senão quem se informa pela própria Globo). Seus valores, diga-se, estão incrivelmente mais próximos do PT do que de um DEM, PSC, NOVO ou qualquer partido com nítido viés anti-esquerda.

Mas, como o PT ainda tem referências da década de 60, como o PT ainda fala em ditadura (sic), ainda fala de privatização com nojinho (ZZzzzz), ainda está lutando contra o “neoliberalismo” (!) e ainda acha que não tem voz na mídia, que toda a elite está contra ele, naquele surrado discurso determinista de luta de classes que acha que ricos são ultra-capitalistas e pobres são revolucionários por força de classe, e não que isso seja uma ideologia panacona que se contradiz tão logo um mauricinho a pronuncie após aprendê-la para o vestibular num cursinho de R$ 2 mil de mensalidade.


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13 de junho de 2017
senso incomum

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