Em negociação de delação com os procuradores da Carne Fraca, Daniel Gonçalves Filho, apontado pela Polícia Federal como chefe do esquema de corrupção na unidade do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, no Paraná, cita pagamentos “normalmente em espécie” de empresas do setor alimentício para o ex-ministro da Justiça Osmar Serraglio (PMDB-PR). O peemedebista voltou à Câmara dos Deputados nesta quarta-feira, 31, após ser demitido do Ministério da Justiça e da Segurança Pública pela presidente Michel Temer.
Serraglio, segundo Gonçalves Filho, seria um de seus “padrinhos” no cargo. Ao lado de Maria do Rocio Nascimento, ex-chefe do Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal, Gonçalves Filho é apontado como líder do esquema descoberto pela operação Carne Fraca e seria responsável por arrecadar propinas de frigoríficos e empresas do setor alimentício.
DELAÇÃO EM MARCHA – A proposta de delação premiada do fiscal está na Procuradoria-Geral da República (PGR) e complica a situação de Serraglio. Como vai reassumir sua cadeira na Câmara dos Deputados, o deputado será investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), caso o acordo seja homologado.
O candidato a delator afirmou aos procuradores da República que empresas do setor de carnes e processados pagavam valores para Serraglio e outros políticos. Daniel explicou que ele mesmo entregava o dinheiro para o deputado do PMDB.
Um grampo da Carne Fraca capturou uma conversa de Serraglio (PMDB-PR) com o fiscal agropecuário No diálogo, o peemedebista se refere a Daniel Gonçalves como “o grande chefe”.
FRIGORÍFICO – Segundo a decisão que deflagrou a Carne Fraca, “em conversa com o deputado Osmar Serraglio, Daniel é informado acerca de problemas que um Frigorífico de Iporã estaria tendo com a fiscalização do MAPA (o frigorífico Larissa situa-se na mesma cidade)”. O frigorífico Larissa pertence ao empresário Paulo Rogério Sposito, candidato a deputado federal pelo estado de São Paulo em 2010 com o nome Paulinho Larissa.
“Logo após encerrar a ligação, Daniel ligou para Maria do Rocio, contando-lhe que o fiscal de Iporã quer fechar o Frigorífico Larissa daquela localidade”, informa a decisão. “Ele pede a ela que averigue o que está acontecendo e lhe ponha a par. ela então obedece à ordem e em seguida o informa de que não tem nada de errado lá, está tudo normal, informação esta depois repassada a Osmar Serraglio.”
CONFIRMAÇÃO – Denunciada ao lado de Gonçalves Filho como uma das lideranças do esquema, a ex-chefe do Serviço de Inspeção do Ministério da Agricultura, no Paraná, Maria do Rocio também deu início a uma negociação de delação premiada. Ela assinou o termo de confidencialidade com o MPF nos últimos dias. Estado apurou que nas primeiras conversas com os investigadores, a funcionária pública confirmou os supostos pagamentos.
Em conversa telefônica interceptada pela Polícia Federal em 2016, com autorização judicial, a fiscal, que está presa preventivamente, cita o nome “Serraglio” como “o velhinho que está conosco”.
A assessoria de Serraglio diz que é tudo mentira: “Absolutamente impossível ele estar falando isso. Jamais, em momento algum, o Deputado tratou com ele sobre qualquer tipo de recursos, menos ainda de qualquer tipo de ilicitude.”
02 de junho de 2017
Fabio Serapião
Estadão
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