Entre os vários motivos que levaram o presidente Michel Temer a desistir da renúncia e enfrentar o massacre que está sofrendo, um dos principais foi a volta do presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Gilmar Mendes, que estava na Europa e desembarcou em Brasília na quinta-feira. O ministro sugeriu uma alternativa menos desonrosa para o amigo Temer, que não tem a menor condição de ficar à frente do governo, até porque a cada dia surgem mais comprovações de seus múltiplos atos de corrupção.
ADMISSÃO DE CULPA – Ao invés de renunciar, que significaria admissão de culpa, ou esperar a longa tramitação do processo de impeachment na Câmara e no Senado, com desgaste crescente e insuportável sofrimento, a saída menos traumática será a cassação da chapa Dilma/Temer pela Justiça Eleitoral, comandada por um velho amigo de fé, irmão, camarada.
Com isso, passará a constar na biografia (ou folha corrida) de Michel Temer o registro de que perdeu o mandato por crime eleitoral cometido pela companheira de chapa, em função de atos de abuso do poder econômico cometidos na campanha da candidata à Presidência em 2014, e ele foi também atingido sem maior participação, mas apenas na condição de candidato à Vice-Presidência.
UMA IDEIA GENIAL – Embora a solução proposta por Gilmar Mendes não evite a incriminação de Temer nem os processos a que fatalmente responderá, a alternativa foi aceita. Afinal, o presidente vai completar 77 anos, seu experiente advogado Mariz de Oliveira já entrou em ação e a Justiça brasileira caminha devagar quase parando. Portanto, o mais provável é que os processos contra Temer jamais transitem em julgado ou ele acabe condenado a uma simples prisão domiciliar acompanhada de bengala ou cadeira de rodas, simplesmente porque o tempo não para, conforme os geniais compositores Cazuza e Arnaldo Brandão nos ensinaram.
Mariz de Oliveira atua no mesmo estilo trator de José Roberto Batochio, advogado que defende Lula e Guido Mantega e cria situações surpreendentes, de grande efeito virtual e pirotécnico, digamos assim. O defensor de Temer entrou em cena nesta sexta-feira já inventando factóides jurídicos, ao denunciar que “a fita de gravação teria sido editada e isso é gravíssimo”. Vai ser um show igual à defesa de Lula, podem ser preparar.
CONDENAÇÃO INEVITÁVEL – Foi uma reviravolta impressionante. No início da semana, estava tudo dominado no TSE, o presidente Gilmar Mendes tinha a situação sob controle. Apesar do relator Herman Benjamin e do procurador eleitoral Nicolao Dino terem pedido a cassação de Temer, em Brasília já se sabia que a maioria dos sete ministros iria aprovar a separação das contas de campanha e somente Dilma seria condenada.
Não mais que de repente, como dizia Vinicius de Moraes, o ventou mudou e Temer já não tem a menor chance de escapar da cassação da chapa. Da mesma forma que aconteceu com sua antecessora Dilma Rousseff, o atual presidente será condenado pelo “conjunto da obra”, conforme defendeu no julgamento do impeachment o jurista Medina Osório, que seria nomeado ministro da Advocacia-Geral da União por Temer, mas sairia poucos meses depois, ao denunciar o esquema armado para inviabilizar a Lava Jato, e agora tudo se confirma.
TUDO PODE MUDAR – Bem, este quadro não é definitivo e pode mudar de uma hora para outra, até porque nesta sexta-feira começaram a circular os mais criativos boatos na web, inclusive envolvendo uma “intervenção branda” dos chefes militares, para forçar a renúncia do presidente.
A pressão é tão forte que Temer pode desistir a qualquer momento, sem forças para aguentar até o final do julgamento do TSE, que começa no próximo dia 6, conforme Gilmar Mendes fez questão de confirmar na quinta-feira. Portanto, faltam longos 17 dias para o início e calcula-se que a decisão final do TSE se prolongue por uma ou duas semanas, no mínimo.
A situação piorou para Temer na tarde desta sexta-feira, quando a Organização Globo publicou editorial exigindo a renúncia do presidente, e isso significa que vai ser intensificada a campanha da TV Globo e de todos os veículos da corporação dos irmãos Marinho. Em resposta, O Estadão fez um editorial favorável a Temer, mas não se pode comparar o alcance e a forma das duas organizações jornalísticas. E a Folha ficou em cima do muro.
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PS – Será muito difícil que Temer consiga resistir. Enquanto isso, la nave va, sempre fellinianamente desgovernada, sem saber quem será seu próximo comandante. (C.N.)
20 de maio de 2017
Carlos Newton
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