Uma perícia contratada pela Folha concluiu que a gravação da conversa entre o empresário Joesley Batista e o presidente Michel Temer sofreu mais de 50 edições. O laudo foi feito por Ricardo Caires dos Santos, perito judicial pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Segundo ele, o áudio divulgado pela Procuradoria-Geral da República tem indícios claros de manipulação, mas “não dá para falar com que propósito”. Afirma ainda que a gravação divulgada tem “vícios, processualmente falando”, o que a invalidaria como prova jurídica. “É como um documento impresso que tem uma rasura ou uma parte adulterada. O conjunto pode até fazer sentido, mas ele facilmente seria rejeitado como prova”, disse Santos.
Segundo disse à Folha a Procuradoria, a gravação divulgada é “exatamente a entregue pelo colaborador e sua autenticidade poderá ser verificada no processo”. “Foi feita uma avaliação técnica da gravação que concluiu que o áudio revela uma conversa lógica e coerente”, declarou a Procuradoria na noite desta sexta (19).
EXISTEM CORTES – A gravação não passou pela Polícia Federal, que só entrou no caso no dia 10 de abril. O áudio, feito pelo empresário na noite de 7 de março, foi entregue diretamente à PGR e é anterior à fase das ações controladas.
Em um dos trechos editados, o empresário pergunta ao peemedebista sobre sua relação naquele momento com o ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso pela Lava Jato. As duas respostas de Temer sofreram cortes.
O trecho na gravação divulgada permite o seguinte entendimento:
“Tá.. Ele veio [corte] tá esperando [corte] dar ouvido à defesa.. O Moro indeferiu 21 perguntas dele… que não tem nada a ver com a defesa dele”
“Era pra me trucar, eu não fiz nada [corte]… No Supremo Tribunal totalidade só um ou dois [corte]… aí, rapaz mas temos [corte] 11 ministros”
INFLUÊNCIA NO STF – Em depoimento posterior à PGR, Joesley disse que nesse momento o presidente dizia ter influência sobre ministros do STF.
“Ele me fez um comentário curioso que foi o seguinte: ‘Eduardo quer que eu ajude ele no Supremo, poxa. Eu posso ajudar com um ou dois, com 11 não dá’. Também fiquei calado, ouvindo. Não sei como o presidente poderia ajudá-lo”, afirmou.
Em outro trecho cortado, o empresário, enquanto explica a Temer que “deu conta” de um juiz, um juiz substituto e um procurador da República, declara: “…eu consegui [corte] me ajude dentro da força-tarefa, que tá”.
No momento mais polêmico do diálogo, quando, segundo a PGR Temer dá anuência a uma mesada de Joesley a Cunha, a perícia não encontrou edições. O trecho, no entanto, apresenta dois momentos incompreensíveis, prejudicados por ruídos.
BAIXA QUALIDADE – Em entrevista à Folha, outro perito, Ricardo Molina, que não fez uma análise formal do áudio, declarou que a gravação é de baixa qualidade técnica. Para ele, uma perícia completa e precisa obrigaria a verificação também do equipamento com que foi feita a gravação. “Percebem-se mais de 40 interrupções, mas não dá para saber o que as provoca. Pode ser um defeito do gravador, pode ser edição, não dá para saber.” Procurada para comentar o assunto, a assessoria da JBS disse que a empresa não vai comentar.
Para o perito judicial Ricardo Caires dos Santos, não há hipótese de defeito. Conforme revelou o Painel nesta sexta-feira (19), o Planalto decidiu enviar a peritos a gravação, desconfiando de edição da conversa. Comprovada a existência de montagem, o governo vai reforçar a tese de que Temer foi vítima de uma “conspiração”.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – A tal perícia acaba de descobrir a pólvora. Desde o início, foram constatadas as falhas de áudio. A maioria delas ocorre quando é mencionado o nome de algum magistrado ou procurador, conforme criticamos várias vezes aqui na “Tribuna da Internet”. Mas essas interrupções de áudio não eliminam a demonstração de que o presidente Temer está claramente integrado ao esquema de inviabilização da Lava Jato. Se agarrar a esse tipo de argumento de tecnicalidade para inocentar Temer chega a ser patético. O atual presidente não está sendo vítima de conspiração. Pelo contrário, ele é o próprio conspirador. O que toda a mídia precisa exigir de Joesley Batista e de Temer é o nome dos magistrados e procuradores que sumiram da gravação. O importante, agora, é lutar para que a Presidência da República seja ocupada por uma pessoa honesta e que defenda os interesses da nação e de seu povo. O resto, como diria Roberto Carlos, são apenas detalhes. (C.N.)
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – A tal perícia acaba de descobrir a pólvora. Desde o início, foram constatadas as falhas de áudio. A maioria delas ocorre quando é mencionado o nome de algum magistrado ou procurador, conforme criticamos várias vezes aqui na “Tribuna da Internet”. Mas essas interrupções de áudio não eliminam a demonstração de que o presidente Temer está claramente integrado ao esquema de inviabilização da Lava Jato. Se agarrar a esse tipo de argumento de tecnicalidade para inocentar Temer chega a ser patético. O atual presidente não está sendo vítima de conspiração. Pelo contrário, ele é o próprio conspirador. O que toda a mídia precisa exigir de Joesley Batista e de Temer é o nome dos magistrados e procuradores que sumiram da gravação. O importante, agora, é lutar para que a Presidência da República seja ocupada por uma pessoa honesta e que defenda os interesses da nação e de seu povo. O resto, como diria Roberto Carlos, são apenas detalhes. (C.N.)
20 de maio de 2017
José Henrique Mariante, Matheus Magenta e Daigo OlivaFolha
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