O presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Gilmar Mendes, recebeu em sua casa na noite desta quarta-feira (15) o presidente Michel Temer e alguns dos principais políticos da base aliada do governo para costurar um acordo em torno de uma reforma política. Um dos pontos centrais é um novo modelo de financiamento de campanhas, na esteira do debate da criminalização de doações eleitorais.
O jantar, em uma residência de Gilmar no setor de mansões isoladas em Brasília, foi organizado em homenagem aos 75 anos do senador José Serra (PSDB-SP), que serão completados no domingo (19).
A chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, vitoriosa nas eleições de 2014, é alvo de processo de cassação no TSE, presidido por Mendes.
FESTA DE ARROMBA – Além de Temer, estavam entre os presentes o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), os senadores Aécio Neves (PSDB-MG) e Agripino Maia (DEM-RN), o ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Mauro Campbell, além de embaixadores e outros convidados.
Serra, Aécio, Eunício e Maia estão citados nos pedidos de inquéritos feitos pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao STF (Supremo Tribunal Federal), na terça (14), referentes às delações premiadas da Odebrecht.
Temer chegou à casa de Mendes perto das 23h, após participar de um jantar com senadores do PMDB.
REUNIÕES – Essa é a segunda vez em quatro dias que políticos da base do governo se reúnem para tratar de projetos que podem ser votados no Congresso com o objetivo de criar um novo modelo para o financiamento de campanha. Na manhã desta quarta, Temer se reuniu no Palácio do Planalto com Mendes, Maia e Eunício para discutir o assunto.
As medidas estariam embaladas em uma proposta de reforma política, com a implantação de eleições para deputado federal no modelo de lista fechada –em que os partidos selecionam os candidatos para compor uma chapa e o eleitor vota apenas na legenda.
Segundos os articuladores das negociações, esta seria a única maneira de baratear as campanhas e permitir que sejam financiadas com recursos públicos, sem doações privadas.
AÇÃO CONTRA RAUPP – As discussões ganharam força após decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que transformou em réu o ex-presidente do PMDB Valdir Raupp. A corte entendeu que a doação declarada à Justiça Eleitoral que Raupp recebeu em 2010 de uma empreiteira era propina, porque teve contrapartida.
Foi a primeira vez que o Supremo entendeu uma doação de caixa um como ilegal e isso provocou reações de expoentes políticos do PT ao PSDB, passando pelo partido do presidente da República.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Como se vê, Gilmar Mendes rasgou a toga de ministro do Supremo para receber em sua casa políticos que futuramente serão julgados por ele. Na próxima quarta-feira, a festa continua, porque Mendes vai comandar reunião política com um grupo seleto de deputados e senadores, além de especialistas e conselheiros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para discutir o pacote contra a Lava Jato. Seria mais adequado se ele se aposentasse e disputasse eleição em 2018. Como ministro do Supremo, ele está impedido de ter atuação política. Mas quem se interessa? (C.N.)
16 de março de 2017
Marina Dias, Bruno Boghossian, Pedro Ladeira e Daniela Lima
Folha
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