Reina a confusão, ninguém sabe quem está dizendo a verdade no caso da entrega da “doação” da Odebrecht ao PMDB, em dinheiro vivo, na campanha de 2014. Parece o célebre poema “Quadrilha”, de Carlos Drummond de Andrade, porque o executivo Cláudio Melo Filho, ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, denuncia Michel Temer, Eliseu Padilha, Lúcio Funaro e José Yunes, que denuncia Padilha e Funaro, que pretende denunciar todos eles e exige uma acareação, enquanto Yunes que ser ser acareado apenas com o delator e com Padilha, que diz não conhecer Funaro, e Temer faz coro, afirmando que também nunca o doleiro/operador do PMDB, muito ligado ao ex-deputado Eduardo Cunha.
RECAPITULANDO… – Diante das contradições e da confusão, vale a pena recapitular a história, segundo a técnica dos investigadores, que sempre recomendam “seguir o dinheiro”.
Como se sabe, José Yunes era assessor de Temer e pediu demissão do governo após ser citado no depoimento de Cláudio Melo Filho. O executivo contou na delação premiada que Temer, em um jantar no Jaburu, solicitou a Marcelo Odebrecht doação ao PMDB. Parte desses pagamentos, no valor de R$ 4 milhões, em dinheiro vivo, foi realizada via Eliseu Padilha, e um dos endereços de entrega foi o escritório de José Yunes em São Paulo.
“MULA INVOLUNTÁRIO” – Agora Yunes depõe espontaneamente e afirma ter sido usado por Padilha como “mula involuntário”, assinalando que o ministro lhe pediu que recebesse em seu escritório “documentos” que na verdade eram doação em dinheiro, e foram entregues pelo doleiro Lúcio Funaro.
Yunes conta uma versão fantasiosa, que os procuradores da Lava Jato contestam. Dá entrevistas sucessivas, numa hora refere-se a um pacote de certa espessura, em outra fala num envelope grande, mas R$ 1 milhão não cabem em envelope, é preciso ser um pacote volumoso e pesado, uma mochila ou uma mala.
O doleiro Funaro também desmente Yunes e exige uma acareação com o executivo da Odebrecht e com Padilha. Se houver acareação, a verdade poderá aflorar, até porque Yunes também quer ser confrontado com o delator Cláudio Melo Filho e também com Padilha.
SEM ACAREAÇÃO – O chefe da Casa Civil, porém, diz não conhecer o doleiro Funaro e não aceita ser acareado com ninguém, ou seja, prefere fazer operação na próstata do que ser obrigado a falar a respeito do penetrante tema, digamos assim.
Se estivéssemos num país minimamente sério, o procurador-geral Rodrigo Janot já estaria providenciando a acareação, única maneira de se saber a verdade. É a única autoridade que pode solicitar essa medida, porque Padilha ainda é ministro e tem foro privilegiado. Mesmo se a acareação fosse apenas entre Funaro, Melo Filho e Yunes, sempre dependeria do Supremo, porque Padilha está citado e diretamente envolvido. Ou seja, não haverá acareação.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – A ilustração do site Tijolaço, do jornalista Fernando Brito, é muito oportuna, porque remete à insistente reivindicação do ex-deputado Eduardo Cunha, que desde novembro tenta que Temer responda a 41 perguntas, e duas delas são as seguintes: 36 – O Sr. José Yunes recebeu alguma contribuição de campanha para alguma eleição de Vossa Excelência ou do PMDB? 37 – Caso Vossa Excelência tenha recebido, as contribuições foram realizadas de forma oficial ou não declarada? Mas o juiz Moro, infelizmente, cortou as perguntas, porque Temer também possui foro privilegiado. (C.N.)
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – A ilustração do site Tijolaço, do jornalista Fernando Brito, é muito oportuna, porque remete à insistente reivindicação do ex-deputado Eduardo Cunha, que desde novembro tenta que Temer responda a 41 perguntas, e duas delas são as seguintes: 36 – O Sr. José Yunes recebeu alguma contribuição de campanha para alguma eleição de Vossa Excelência ou do PMDB? 37 – Caso Vossa Excelência tenha recebido, as contribuições foram realizadas de forma oficial ou não declarada? Mas o juiz Moro, infelizmente, cortou as perguntas, porque Temer também possui foro privilegiado. (C.N.)
27 de fevereiro de 2017
Carlos Newton
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