A operação contra o roubo de cargas em Goiás remete-me a lembranças do batente jornalístico, do início da minha curta carreira como advogado, nos tribunais baianos, e da atuação como delegado de Polícia. Foi na Bahia, no início dos anos 90, que tomei conhecimento de um esquema organizado para assaltar caminhoneiros e entregar a carga a receptadores do comércio, homens que mantinham uma fachada de pessoas honradas mas não passavam de delinquentes disfarçados.
À noite, eu era redator e editor especial da Tribuna da Bahia; durante o dia, advogava. Na primeira semana em um escritório de advocacia, o advogado-chefe, provavelmente me testando, designou-me para analisar um processo contra um cliente, patrulheiro da Polícia Rodoviária Federal. O patrulheiro era usado para parar os caminhoneiros e pedir carona para pessoas aparentemente comuns que eram, na verdade, o contato dos criminosos e faziam o motorista parar para que elas descessem em determinado ponto da estrada, já combinado com os assaltantes, que rendiam a vítima e roubavam a carga.
A preferência dos bandidos era por carne de charque e defensivos agrícolas, os produtos mais valorizados no mercado – o veneno, pelos grandes produtores rurais do Oeste baiano e de Goiás; a carne, pelos comerciantes dos diversos supermercados receptadores.
O maior choque, ao examinar os autos, foi constatar que havia gente graúda (até de toga) envolvida com os criminosos. Caí na besteira de contar à minha mulher, que era deputada recém-eleita, e ela começou a botar a boca no trombone, eu não aceitei a causa e ainda tive de reforçar a segurança dela, porque os bandidos iniciaram uma movimentação para assustá-la.
Uma investigação iniciada na Polícia Civil do DF foi parar na CPI do Roubo de Cargas porque identificou receptação por parte de redes de supermercados daqui e oriundos da Europa, porém a investigação parlamentar terminou em banho-maria, salvo engano. Em 2005, em uma cidade distante, uma movimentação política atrasou certa operação para apreender uma carga de defensivos agrícolas, e os agentes, quando chegaram ao local, só encontraram goma de tapioca no caminhão. Eu só acho graça quando determinadas pessoas aparecem contando lorotas de honestidade e sucesso rápido por aí.
27 de fevereiro de 2017
miguel lucena
À noite, eu era redator e editor especial da Tribuna da Bahia; durante o dia, advogava. Na primeira semana em um escritório de advocacia, o advogado-chefe, provavelmente me testando, designou-me para analisar um processo contra um cliente, patrulheiro da Polícia Rodoviária Federal. O patrulheiro era usado para parar os caminhoneiros e pedir carona para pessoas aparentemente comuns que eram, na verdade, o contato dos criminosos e faziam o motorista parar para que elas descessem em determinado ponto da estrada, já combinado com os assaltantes, que rendiam a vítima e roubavam a carga.
A preferência dos bandidos era por carne de charque e defensivos agrícolas, os produtos mais valorizados no mercado – o veneno, pelos grandes produtores rurais do Oeste baiano e de Goiás; a carne, pelos comerciantes dos diversos supermercados receptadores.
O maior choque, ao examinar os autos, foi constatar que havia gente graúda (até de toga) envolvida com os criminosos. Caí na besteira de contar à minha mulher, que era deputada recém-eleita, e ela começou a botar a boca no trombone, eu não aceitei a causa e ainda tive de reforçar a segurança dela, porque os bandidos iniciaram uma movimentação para assustá-la.
Uma investigação iniciada na Polícia Civil do DF foi parar na CPI do Roubo de Cargas porque identificou receptação por parte de redes de supermercados daqui e oriundos da Europa, porém a investigação parlamentar terminou em banho-maria, salvo engano. Em 2005, em uma cidade distante, uma movimentação política atrasou certa operação para apreender uma carga de defensivos agrícolas, e os agentes, quando chegaram ao local, só encontraram goma de tapioca no caminhão. Eu só acho graça quando determinadas pessoas aparecem contando lorotas de honestidade e sucesso rápido por aí.
27 de fevereiro de 2017
miguel lucena
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