Sempre cultuei Ferreira Gullar, amigo de Fagner (que gravou “Traduzir-se”) e Adriana Calcanhoto (que se inspirou nele para compor “Vambora”). Eu fico triste, muito triste, quando um se vai. Ele teve uma parada respiratória. Da última vez que apareceu na TV pareceu-me bem de saúde. Ainda bem que nos deixa o legado de sua poesia. Um trecho de uma entrevista dele:
“Eu acho que tudo pode virar poesia. Tudo pode servir como fonte da poesia, mas eu não digo que sem sofrimento não há poesia. Há sim. Vinicius (de Moraes), que era meu amigo, tinha um pouco essa visão. Acho que a gente tem que buscar a felicidade, o barato da vida é a felicidade. Sofrer não é bom. Um poema em cima do sofrimento, com dor, é para superar aquele sofrimento. Acho que uma canção sofrida, por exemplo, é a transformação daquilo que representa uma tristeza em alegria. Fazer arte é transformar o sofrimento em alegria. Eu não faço poesia para fazer os outros sofrerem. Não é para esmagar as pessoas. É assim: eu não vou mentir, mas vou tentar realizar alquimia de transformar a dor em alegria.”
“Eu acho que tudo pode virar poesia. Tudo pode servir como fonte da poesia, mas eu não digo que sem sofrimento não há poesia. Há sim. Vinicius (de Moraes), que era meu amigo, tinha um pouco essa visão. Acho que a gente tem que buscar a felicidade, o barato da vida é a felicidade. Sofrer não é bom. Um poema em cima do sofrimento, com dor, é para superar aquele sofrimento. Acho que uma canção sofrida, por exemplo, é a transformação daquilo que representa uma tristeza em alegria. Fazer arte é transformar o sofrimento em alegria. Eu não faço poesia para fazer os outros sofrerem. Não é para esmagar as pessoas. É assim: eu não vou mentir, mas vou tentar realizar alquimia de transformar a dor em alegria.”
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UM POEMA PARA GULLAR QUE VIROU MÚSICA
Paulo Peres
UM POEMA PARA GULLAR QUE VIROU MÚSICA
Paulo Peres
Há alguns anos, assisti uma entrevista do poeta Ferreira Gullar no Programa Canal Livre, da TV Bandeirantes. O poeta falava do seu exílio no Chile, quando ocorreu o Golpe de Estado de 11 de Setembro, em que o General Augusto Pinochet e seus aliados, inclusive, os Estados Unidos, derrubaram o presidente Salvador Allende. Diante daquela confusão nas ruas chilenas, Ferreira Gullar contou que estava furioso em um quarto, porque seu maço de cigarros havia terminado e ele não podia sair à rua para comprar. A entrevista, juntamente com outros problemas pelos quais eu passava na época, inspirou-me a escrever o poema “Meu Quarto”, que foi musicado por Johnny Matto e gravado no CD Parcerias, em 2009, produção independente.
MEU QUARTO
(Johnny do Matto e Paulo Peres)
(Johnny do Matto e Paulo Peres)
O chão do meu quarto
É feito de lágrima
A parede do meu quarto
É feita de grito
O teto do meu quarto
É feito de pensamento
A janela do meu quarto
É feita de saudade
A porta do meu quarto
É feita de solidão
É feito de lágrima
A parede do meu quarto
É feita de grito
O teto do meu quarto
É feito de pensamento
A janela do meu quarto
É feita de saudade
A porta do meu quarto
É feita de solidão
Meu quarto é um fator endógeno:
Um grande exílio sem anistia,
Um suspiro negado de amigos;
É enfim, a nata visionária
De uma princesa que velejou
Nas cinzas do carnaval
Um grande exílio sem anistia,
Um suspiro negado de amigos;
É enfim, a nata visionária
De uma princesa que velejou
Nas cinzas do carnaval
Meu quarto
É um coração impuro,
Na verdade morto
Pelo tempo sujo
Cujo silêncio é festa
É um coração impuro,
Na verdade morto
Pelo tempo sujo
Cujo silêncio é festa
04 de dezembro de 2016
Carmen Lins
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