O título sintetiza, a meu ver, a face menos aparente do pedido de desculpas através do qual a Odebrecht encaminhou sua delação premiada à Procuradoria-Geral da República. Assinado por Emílio Odebrecht e seu filho Marcelo – reportagem de Cleide Carvalho e Jaílton de Carvalho, O Globo de sexta-feira -, na verdade reduz ao mínimo o espaço restante aos acusados de receber propina para aumentar o preço dos contratos da empresa com diversas escalas do poder público, federal e estadual.
Claro. Porque a Odebrecht dispõe-se a devolver nada menos que 6,8 bilhões de reais. Mas esta quantia refere-se à parte da campanha no processo escandaloso de suborno. Não à parte, evidentemente, do dinheiro entregue aos ladrões e intermediários do assalto que abalou o governo e o próprio Brasil.
Isso porque a Odebrecht responde por si, não podendo responder pela legião de ladrões que extorquiam e se alimentavam à sua volta. Como verdadeiros satélites da roubalheira em massa.
SERÃO SÓ 200? – Quantos são eles? Calcula-se em torno de duas centena de deputados, senadores, ministros, ex-ministros, governadores e ex-governadores, ficando por aqui para não alongar ainda mais a lista negra de corruptos que roubaram a população, todos nós, e entre as consequências levaram na realidade à queda da ex-presidente Dilma Rousseff e ao desemprego que está sufocando doze milhões de trabalhadores em todo o país.
A relação dos destinatários do propinoduto finalmente vai emergir de todo. Acentuo de todo, porque uma fração já se encontra no domínio da opinião pública, inclusive com fotos na imprensa e filmagens na televisão. Nestes casos, o contexto da Odebrecht não será apenas uma revelação, mas sim um processo de confirmação.
Mas o que poderá ser acrescentado ao lado de cada nome será a respectiva quantia recebida se por diversas vezes ou não, e como o suborno foi pago, tanto no Brasil quanto no exterior, se em reais, dólares ou euros, e quais locais e se diretamente aos parceiros do assalto ou a representantes seus.
DOAÇÕES DE CAMPANHAS – Terá de ser desvendado também o mistério das doações para campanhas eleitorais e os valores declarados ao Tribunal Superior Eleitoral. Porque são planos distintos. Uma doação de, digamos, dois milhões, pode ter sido registrada no TSE como de 1 milhão de reais. Neste ponto entra o caixa dois de sempre.
Tanto assim que direções partidárias, ao confirmarem o registro de quantias recebidas, fogem da informação principal: o montante do valor declarado pelas legendas será o mesmo que o valor transportado pela empresa doadora? Isso de um lado.
De outro, para qual endereço foi despachada a diferença. A Odebrecht possui tudo isso anotado. Caso contrário, não teria havido corrupção à sua sombra. E se não tivesse ocorrido, porque motivo a empresa praticou sua confissão pública? Não teria lógica, não faria sentido.
HÁ PROVAS – Afinal de contas, a Odebrecht possui provas para sustentar as informações sobre as quais baseia sua própria confissão de culpa.
Assim, a colocação das provas à luz da imprensa e da opinião pública vão construir um verdadeiro tribunal da consciência brasileira.
O país sai da esfera da farsa gigantesca e ingressa numa nova fase de sua história. A confissão da Odebrecht vai expor os corruptos e as etapas dos roubos ao país, que foi assaltado conjuntamente por bandos de ladrões, sobretudo de casaca que sempre acreditaram na impunidade.
Erraram.
04 de dezembro de 2016
Pedro do Coutto
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